VIII - DESPERTAR É AMARGO

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            Ian agora vestia as roupas com as quais eu estava acostumada a vê-lo como vizinho: blusa preta, moletom de mangas compridas, calça preta, botas, e fez questão de colocar o capuz na cabeça. Eu também me vestia de forma simples, com uma camisa branca e jeans, meus cabelos presos em um rabo de cavalo desleixado, eu o havia amarrado de qualquer jeito, de forma que algumas mechas rebeldes ainda caíam em meu rosto. Era de tarde, e eu havia passado a manhã inteira treinando com Estela. Ela tinha sido incrivelmente dura comigo, exigindo de mim muito mais do que eu pensava ser capaz de oferecer. Cada movimento, cada golpe, era meticulosamente corrigido até que eu os executasse com precisão.

           O treinamento com Estela não se limitava apenas à luta; ela me ensinava a me defender, a estar sempre alerta e a antecipar os movimentos do inimigo. Estela era implacável, mas eu sabia que era necessário. O que me calçava um medo profundo era a possibilidade de encontrar com quem eles agora me diziam que se chamavam de Neshers, inimigos implacáveis dos Vulpes, eram conhecidos por sua crueldade e astúcia. A simples menção de seu nome fazia um calafrio percorrer minha espinha. Eu imaginava figuras sombrias e implacáveis com quem eu não queria encontrar nunca.

           Ian, percebendo minha inquietação, lançou um olhar rápido em minha direção.

— Está pronta para seu primeiro dia? — Ele perguntou, sua voz suave e reconfortante contrastando com sua aparência sombria.

           Assenti, tentando afastar o medo que ainda pairava sobre mim.

—- Eu não tenho muita escolha, não é? — Respondi com um sorriso hesitante, tentando aliviar a tensão.

— Ah, a gente sempre tem escolha, e você tá fazendo a certa.

           Ele sorriu de volta, um sorriso que iluminava seu rosto, eu me senti feliz por ter a aprovação dele. 

— E você está aprendendo rápido. Mais rápido do que eu esperava.

           Seus elogios me deram uma pequena dose de confiança. O sol começava a se pôr, lançando um brilho dourado nas paredes ao nosso redor. Ian colocou a mochila nas costas e tratamos de sair do local em que estávamos. Pela primeira vez, eu veria onde estava escondida o tempo todo.

           Quando abrimos a porta que revelaria a resposta ao meu questionamento, meu queixo caiu. A biblioteca secreta estava ali, perante os meus olhos. Era um vasto salão subterrâneo, com prateleiras que se estendiam até onde a vista alcançava, repletas de livros antigos e misteriosos. A sensação de maravilha foi instantânea. Incrível pensar que o tempo todo sequer tínhamos saído da minha cidade. Era algum tipo de esconderijo subterrâneo, um segredo escondido sob os nossos pés.

— Agora, você conhece todos os nossos segredos e não deve revelá-los a ninguém, nem sob algum tipo de tortura. — Ian me informou enquanto caminhávamos pelo corredor central, ladeado por estantes repletas de conhecimento oculto.

— Tudo bem, eu não seria tão burra assim. Aliás, dessa vez, poderia me informar onde estamos indo? — Perguntei, tentando esconder minha excitação misturada com um toque de nervosismo.

— Olha só quem está ficando mais corajosa... — Ian comentou com um sorriso travesso. Ele me fez andar à sua frente enquanto subíamos uma longa escadaria. Cada degrau parecia ecoar uma história não contada, cada passo, uma promessa de revelações futuras.

— Basicamente, precisamos ler mais algumas histórias, verificar se estão seguidas corretamente, — Ele explicou enquanto chegamos ao topo da escada. Ao chegarmos ao patamar superior, ele colocou a mão em meu ombro e me virou vagarosamente para encará-lo. — espero que ficar comigo alguns dias não seja um problema para você. Fui encarregado de ensiná-la e de informar caso você tenha alguma visão.

DESPERTOS - A ESCOLHAOnde histórias criam vida. Descubra agora