Cap 1 🦂

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POV MACARENA:

O ar frio embaçava a janela da nossa sala de estar com vista para a um charmoso café do outro lado da rua enquanto eu esperava diante dela, nervosa, com dificuldades para enxergar o lado de fora.

A qualquer minuto, o carro de Zaid Zahir estacionaria ali em frente. Ele tinha ido ao Aeroporto buscar sua filha, Zulema, que ia morar conosco enquanto sua mãe passava um ano no exterior a trabalho. Zaid e minha mãe, Encarna, estavam casados há dois anos. Meu padrasto e eu nos dávamos bem, mas não diria que éramos próximos.

O pouco que eu sabia sobre a vida anterior de Zaid era: sua ex-mulher, Aisha, era uma artista que morava no Rio de Janeiro, e sua filha era punk, fumante, tatuada, que de acordo com Zaid, só fazia o que queria, com permissão da mãe.

Eu ainda não conhecia a minha meia-irmã pessoalmente, e só tinha visto uma foto dela tirada há alguns anos, pouco antes de Zaid se casar com a minha mãe. Pela foto, pude ver que ela tinha cabelos curtos, escuros, olhos negros esverdeados e traços finos como os de seu pai Zaid.

Na imagem, ela parecia bem normal, mas Zaid disse que Zulema havia entrado em uma fase rebelde, desde então. Isso incluiu fazer tatuagens quando tinha apenas quinze anos e se meter em problemas por beber e fumar baseado sendo menor de idade. Zaid culpava Aisha por ser descuidada e focada demais em sua carreira artística, permitindo, com isso, que Zulema sempre se safasse.

Zaid disse que encorajara Aisha a aceitar um cargo temporário dando aulas em uma escola de artes de Londres para que Zulema, agora com dezessete anos, pudesse vir morar conosco. Embora Zaid a visitasse duas vezes por ano em viagens curtas, ele não estava presente diariamente para disciplinar Zulema.

Isso era difícil para ele, então estava ansioso pela oportunidade de colocar sua filha na linha no decorrer do ano. Senti frio na barriga enquanto encarava a neve suja que delineava a rua. O tempo frio de Madrid seria uma mudança severa para minha meia-irmã criada no Brasil.

Eu tinha uma meia-irmã. Aquele era um pensamento estranho. Eu esperava que nos déssemos bem. Sendo filha única, eu sempre quis um irmão ou uma irmã. Dei risada do quão ridícula eu era, fantasiando que isso seria um relacionamento de contos de fadas do dia para a noite.

Pela manhã, ouvi uma música antiga do Coldplay que eu nem ao menos sabia que existia chamada Brothers and Sisters. Não é exatamente sobre irmãs rs, mas me convenci de que era um bom presságio. Tudo ia dar certo. Eu não tinha nada a temer. Minha mãe parecia estar tão nervosa quanto eu, subindo e descendo as escadas várias vezes para deixar o quarto de Zulema pronto.

Ela havia transformado o escritório em um quarto. Mamãe e eu fomos ao shopping comprar lençóis e outras coisas. Era estranho escolher coisas para alguém que você não conhecia. Decidimos por roupas de cama azul-marinho. Comecei a murmurar comigo mesma, pensando no que diria a Zulema, sobre o que conversaríamos, o que eu poderia mostrar a ela por aqui.
Era empolgante e estressante ao mesmo tempo.

Ouvi a porta do carro bater, me fazendo pular do sofá e alisar minha saia amassada. Acalme-se, Maca. A chave fez um som na fechadura. Zaid entrou sozinho e deixou a porta entreaberta, permitindo que o ar congelante se infiltrasse na sala. Após alguns minutos, pude ouvir o som de passos contra a camada de gelo que cobria o caminho até a entrada de casa, mas nada de Zulema ainda. Ela devia ter parado do lado de fora antes de entrar. Zaid colocou a cabeça para fora:

- Entre logo, Zulema. Um bolo formou-se em minha garganta quando ela apareceu no vão da porta. Engoli em seco e a assimilei por alguns segundos, sentindo meu coração martelando cada vez mais forte ao me dar conta de que ela não parecia nada com a garota da foto que vi.

Minha Meia-irmã Zulema Zahir 🦂Onde histórias criam vida. Descubra agora