Cap 16 🦂

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Para ilustrar a imaginação de vocês: Laura nessa fic é interpretada pela atriz Laura Laprida.

-Pra quem assistiu Express coma Maggie, ela é a personagem Ásia.
-Pra quem assistiu Sagrada Família com a Tía Najwa, ela é a personagem Natália. 
Resumindo, aqui nessa história ela é Laura, a nova namorada da Zulema 🤡 


Assim que finalmente reuni coragem para entrar de volta na casa, me sentei à mesa da sala de jantar e bebi toda a água da minha taça de uma vez. Minha boca ainda estava seca. O cômodo parecia girar.

— Você está bem? — minha mãe perguntou. Eu deveria estar perguntando isso a ela. Assenti, pegando a água dela e tomando toda também. Eu precisava ser forte por ela, não podia me permitir perder as estribeiras hoje.

Elas não tinham descido as escadas ainda. Depois que a mulher misteriosa apareceu por trás de Zulema do outro lado do vidro, ela virou imediatamente e desapareceu de vista.

Levei alguns minutos para conseguir me mexer do lugar onde estava no jardim. Ela tinha uma namorada... ou uma esposa. Mesmo que eu devesse ter pensado nisso como uma possibilidade depois de sete anos, não era algo que entrava na equação quando eu imaginava como seria vê-la novamente.

O som de dois pares de passos descendo as escadas em uníssono me fez enrijecer e endireitar as costas. Quando elas entraram na sala de jantar, meu corpo ficou em modo de luta ou fuga, conforme a adrenalina pulsava em mim. Talvez eu devesse ter levantado ou dito algo, mas fiquei simplesmente grudada na cadeira. Minha mãe foi até Zulema e a puxou para um abraço.

— Zulema, é tão bom vê-la. Eu sinto muito pelo seu pai. Sei que vocês não se entendiam, mas ele te amava. De verdade. O corpo de Zulema estava rígido, mas ela não se afastou de minha mãe. Ela simplesmente disse:

— Sinto muito por você também. Enquanto Zulema permitia relutantemente que minha mãe a abraçasse, seus olhos desviaram para mim e permaneceram.

Não dava para saber no que ela estava pensando, mas eu tinha quase certeza de que era alguma coisa similar ao que estava passando pela minha cabeça. Esse reencontro nunca deveria acontecer. Depois que mamãe a soltou, a mulher que estava com Zulema aproximou-se para abraçá-la.

— Sra. Encarna, eu sou a Laura, namorada da Zulema. Sinto muito pela sua perda.

— Pode me chamar só de Encarna. Obrigada, querida. Prazer em conhecê-la.

— Sinto muito por ser sob essas circunstâncias — ela disse, afagando as costas da minha mãe.
Meus olhos pousaram em suas unhas bem-feitas.

Ela era pequena, e o formato de seu corpo era parecido com o meu. Seus cabelos loiros compridos caíam em cascatas por suas costas em ondas perfeitas. Ela era linda. Claro que ela era. Tudo parecia estar se retorcendo dentro de mim. Zulema veio em minha direção lentamente.

— Macarena... Ouvir meu nome sair de sua boca me transportou momentaneamente para sete anos atrás em um segundo.

— Zulema. — Levantei da cadeira. — Eu... eu sinto muito... sinto muito por Zaid — gaguejei, e meus lábios começaram a tremer. Senti como se todo o ar tivesse sido arrancado do meu corpo quando ela ficou bem na minha frente e inspirei o cheiro familiar de cigarro de cravo e perfume.
Tanto tempo havia se passado, mas, emocionalmente, era como se tivesse sido ontem. A única diferença era que a pessoa que saiu do meu lado na cama aquele dia ainda era, essencialmente, uma garota, e a pessoa diante de mim naquele momento era claramente uma mulher.

Ergui o olhar para ela e fiquei maravilhada em ver que ela tinha ficado ainda mais linda. Minhas características favoritas ainda estavam ali, mas com algumas mudanças. Seus olhos ainda brilhavam. Ela ainda usava maquiagem preta forte em seus olhos mas tinha um tom mais sério, talvez mais maduro em seu jeito de agir, se comunicar com as pessoas. Uma camisa preta com listras finas cujas mangas estavam enroladas até os cotovelos abraçava seu corpo, e seus braços ainda mais definidos e marcados pela manga colada.

Ela ficou apenas olhando para mim. Estendi os braços para abraçá-la e senti sua mão quente em minhas costas. Meu coração estava tão acelerado que parecia que ia parar de vez a qualquer momento. Uma coisa que, ao que parecia, não mudou foi a maneira como meu corpo reagia instantaneamente ao toque dela. Assim que fechei os olhos, ouvi uma voz atrás dela.

— Você deve ser a filha da Encarna. Vocês duas parecem irmãs gêmeas. Me separei de Zulema de repente e estendi minha mão molhada de suor.

— Sim... oi. Sou Macarena, pode me chamar de Maca. Ela não apertou a minha mão. Em vez disso, sorriu com simpatia e me abraçou.

— Sou Laura. É um prazer conhecê-la. Sinto muito pelo seu padrasto. — Os cabelos dela tinham o cheiro que eu esperava, um aroma limpo e delicado que combinava com sua personalidade aparentemente doce.

— Obrigada.

A tensão no ar era palpável enquanto nós três ficávamos ali, em um silêncio desconfortável. Miranda surgiu segurando uma carne assada que havia enfeitado com aspargos em uma bandeja oval. Usei aquela oportunidade para escapar da situação e me ofereci para a ajudá-la a colocar o restante dos itens na mesa, deixando Zulema e Laura sozinhas.

Minhas mãos nervosas se atrapalharam com os talheres que Miranda me pediu para pegar em uma gaveta da cozinha. Fechei os olhos e respirei fundo antes de voltar para a sala de jantar. Castilho estava conversando enquanto eu rodeava a mesa para distribuir os talheres. Garfos e colheres ficavam escorregando das minhas mãos trêmulas.

Sem nada mais para fazer, sentei no lado da mesa que ficava de frente para Zulema e sua namorada. Meus olhos ficaram grudados no reflexo do meu rosto no meu prato.

— Então, como vocês se conheceram? — Castilho perguntou a elas. Ergui o olhar momentaneamente. Laura sorriu e olhou para Zulema.

— Nós duas trabalhamos em uma editora. Atuo na criação de conteúdo, e Zulema é a redatora. Começamos como amigas. Eu a admirava bastante como ela era boa em seu trabalho. Todos a amam. — Ela colocou a mão na de zulema. — E agora, eu também. Pude ver pelo canto do olho que ela se inclinou e a beijou. O vestido preto que eu estava usando pareceu me sufocar de repente.

— Isso é muito lindo — Miranda elogiou.

— Zulema, como sua mãe está lidando com isso? — Castilho perguntou.

— Ela não está bem — disse abruptamente. Ergui o olhar ao ouvi-la falar. Ela não tinha dito uma palavra depois de dizer o meu nome. Laura apertou a mão dela.— Nós tentamos convencê-la a vir, mas ela não achou que fosse aguentar. Nós?. Ela era próxima da mãe de Zulema. Isso era definitivamente sério.

— Bem, então foi melhor ela ter ficado por lá — Miranda respondeu. Minha mãe tomou um longo gole de vinho. Ela sabia que era o principal motivo pelo qual a mãe de Zulema não queria vir. Laura se virou para mim.

— Onde você mora, Maca?

— Moro em Nova York, na verdade. Eu vim para Madrid há alguns dias.

— Isso deve ser empolgante. Eu sempre quis visitar Nova York. — Ela virou para Zulema. — Talvez nós possamos visitá-la, um dia, assim teríamos um lugar para ficar amor. Zulema assentiu uma vez, parecendo extremamente desconfortável enquanto brincava com sua comida.

Em certo momento, pude sentir seus olhos em mim. Quando virei para confirmar, nossos olhares se encontraram por um breve segundo antes dela voltar a encarar seu prato.

— Zulema nunca me contou que tinha uma irmã — Laura disse. Ela nunca falou sobre mim. Minha mãe se manifestou pela primeira vez.

— Zulema morou conosco por pouco tempo quando elas eram adolescentes. — Ela olhou para mim. — Vocês duas não se davam muito bem naquele tempo. Minha mãe não sabia nada sobre o que realmente tinha acontecido entre Zulema e eu. Então, a partir de sua perspectiva, aquela afirmação era bem precisa. A voz profunda e áspera de Zulema me rasgou.

— Isso é verdade, Maca? Soltei meu garfo.

— O que é verdade?

— Que não nos dávamos bem?. Somente eu entenderia o significado escondido em sua pergunta. Não sabia por que ela estava me provocando no meio do que já era uma situação desconfortável.

— Tivemos nossos momentos. Os olhos dela queimaram nos meus, e ela baixou o tom de voz.

— É, tivemos. De repente, senti um calor absurdo. Ela abriu um sorriso.

— Como era que você me chamava mesmo?

— Como assim?

— "Cariño", não era?. Zulema entrega ali nosso apelido carinhoso em plena mesa de jantar, em frente a sua namorada, minha mãe e amigos da família. Senti meu corpo gelar, minhas mãos começaram a tremer, um suor frio percorreu pelo meu corpo, fiquei completamente sem palavras. De todas as coisas, essa era a última que imaginava ouvir de Zulema ali, bem diante daquelas pessoas. Ela doentiamente completa.

— Por causa da minha personalidade admirável, não é, irmãzinha?. — Ela se virou para Laura. — Eu era uma fodida miserável naquela época. Uma "fodida" miserável. Não tinha segundas intenções em sua expressão, mas não pude evitar o rumo que minha mente tomou diante daquilo.

— Parece ter sido uma época divertida — Laura disse, olhando inocentemente para Zulema e para mim.

— Foi, sim, divertida demais — ela concordou, me encarando com uma expressão que não era nada inocente.

Laura e eu ajudamos Miranda a levar os pratos na cozinha. Teríamos que ir para a funerária em quarenta minutos para o velório. A voz dela me sobressaltou.

— O que você faz, Maca? Eu não me sentia confortável para entrar nos detalhes sobre o meu trabalho, então dei uma resposta genérica.

— Eu trabalho em um cargo administrativo, coisa simples. Ela sorriu, e me senti uma escrota por gostar de ver que ela tinha algumas marcas de expressão e pés de galinha em torno dos olhos. Eu estava forçando.

— Às vezes, coisas simples podem ser boas. Trabalhar como criadora de conteúdo é satisfatório mas exaustivo. Não há espaço para monotonia. Nós duas olhamos pela porta de vidro. Zulema estava no jardim sozinha, perdida em pensamentos, com as mãos nos bolsos.

— Estou muito preocupada com ela — ela revelou, a olhando. — Posso te perguntar uma coisa? Essa conversa estava me deixando desconfortável.

— Claro. — Ela não quer falar sobre o pai. Aconteceu alguma coisa entre eles? A pergunta me pegou de surpresa. Não cabia a mim falar com ela sobre o relacionamento de Zaid e Zulema. Eu mesma não sabia de quase nada.

— Eles discutiam bastante, e Zaid tratava Zulema com muito desrespeito, mas, sinceramente, eu ainda não sei o que causou tudo isso. Era só isso que ela ia arrancar de mim.

— Eu só estou preocupada, acho que ela está acumulando tudo dentro de si. O pai dela acabou de morrer, e ela mal demonstrou qualquer emoção. Quer dizer, se o meu pai morresse, eu ficaria arrasada. Eu sei. — Tenho medo da ficha dela cair de uma vez e ela desmoronar — ela continuou. — Ela não está bem. Não tem dormido. Isso a está incomodando, mas ela não quer falar sobre o assunto, nem se permite chorar. Meu coração doeu por ouvi-la dizer isso, porque eu também estava preocupada com Zulema.

— Você tentou conversar com ela? — perguntei.

— Sim. Ela só disse que não queria falar sobre isso. Ela quase não veio para o velório. Eu sabia que ela se arrependeria se não viesse, então insisti e, finalmente, ela cedeu. Uau. Ela não ia vir mesmo.

— Que bom que você fez isso.

— Eu realmente a amo, Maca. Eu não tinha dúvidas disso, e por mais que ouvi-la dizer aquilo tenha feito meu estômago doer, meu lado mais lógico ficou feliz por Zulema ter encontrado alguém que se importava com ela assim. Eu não sabia o que dizer. Não podia exatamente contar a ela que talvez eu me sentisse da mesma forma.

Eu também me importava com ela. Talvez aquilo não fizesse sentido depois de tanto tempo, mas meus sentimentos por ela estavam tão fortes agora quanto foram há sete anos. E assim como antes, eu teria que guardá-los para mim. Ela pousou uma mão em meu braço.

— Você pode me fazer um favor?

— Ok...

— Pode ir lá fora... e ver se consegue fazê-la falar sobre isso?

— Hã...

— Por favor? Não sei mais a quem pedir isso. Acho que ela não está pronta para o velório hoje. Olhei para Zulema lá fora e sua estatura forte de pé no meio do jardim. Essa poderia ser a minha única oportunidade de conversar com ela a sós, então concordei.

— Tudo bem. Ela me abraçou.

— Obrigada. Eu te devo uma. Nesse caso, vou querer a Zulema. Não pude evitar meus pensamentos, que estavam fora de controle. Aquele abraço me fez perceber que era absolutamente possível gostar de verdade de alguém de quem você sentia ciúmes. Respirei fundo e segui para as portas deslizantes de vidro. O céu estava ficando cinza, como se uma tempestade estivesse se formando.

Não era o momento apropriado para notar como a bunda de Zulema ficava incrível na calça social preta justa que estava usando, mas, mesmo assim, notei. Uma brisa soprou as ondas escuras sensuais de seus cabelos. Limpei a garganta para anunciar minha presença. Ela não virou, mas sabia que era eu.

— O que você está fazendo aqui, Maca?

— Laura me pediu para vir falar com você. Ela deu de ombros, soltando uma risada cheia de sarcasmo.

— É mesmo?

— Sim.

— Vocês estavam comparando opiniões?

— Isso não tem graça. Ela finalmente virou me olhando, soprando a última fumaça do seu cigarro antes de jogá-lo no chão e amassá-lo com o pé.

— Você acha que ela te pediria para vir aqui falar comigo se soubesse que, na última vez que estivemos juntas, estávamos fodendo como coelhos?. Embora tenha me chocado, ouvi-la tocar naquele assunto enviou um arrepio por todo o meu corpo.

— Você tem que falar dessa forma?

— É a verdade, não é? Ela surtaria pra caralho se soubesse o quanto você gostava de dar pra mim. Ela sorri de forma sarcástica.— Bem, mas eu não vou contar a ela, então não precisa se preocupar. Eu nunca faria isso. Meu olho começou a espasmar. Ela ergueu a sobrancelha.

— Por que você está piscando para mim?

— Não estou... meu olho está espasmando porque...

— Porque você está nervosa. Eu sei. Você costumava fazer isso quando nos conhecemos. Que legal termos voltado ao ponto de partida.

— Acho que algumas coisas nunca mudam, não é? Faz sete anos, mas parece...

— Que foi ontem — Zulema completou. — Parece que foi ontem, e isso é uma merda. Essa situação toda é uma merda. — Isso nunca deveria ter acontecido. O olhar dela desceu para o meu pescoço e, em seguida, voltou para os meus olhos.

— Onde ele está?

— Ele quem?

— O seu noivo.

— Eu não estou noiva. Eu estava... mas não estou mais. Como você sabia que eu tinha ficado noiva? Ela pareceu perplexa por um instante e, em seguida, ficou olhando para o chão por bastante tempo antes de desviar da minha pergunta.

— O que aconteceu?

— É uma história meio longa, mas fui eu que terminei. Ele se mudou para a Alemanha a trabalho. Não era para ser.

— Você está com alguém agora?

— Não. — Tirei o foco de mim: — A Laura é muito legal.

— Ela é maravilhosa, uma das melhores pessoas que já conheci, na verdade. Que soco no estômago.

— Ela está muito preocupada porque você não demonstrou nenhuma emoção. Me perguntou se eu sabia qual era a história entre você e Zaid. Eu não sabia o que dizer, porque tem tanta coisa que eu ainda não sei.

— Você sabe mais do que ela, e não foi por escolha minha. O fato é que ele foi um pai de merda e, agora, está morto. Falando sério, isso é tudo que a minha mente consegue processar nesse momento. A ficha ainda não caiu. — Foi um choque muito grande. — A minha mãe não está lidando bem com isso — ela disse.

— Como ela estava antes? — Melhor do que naquele tempo, mas nunca cem por cento. Ainda não tenho noção de como a morte de Zaid vai afetar o estado mental dela. O vento aumentou de repente, e gotas de chuva começaram a cair. Olhei para o céu e, depois, para o meu relógio.

— Temos que sair em alguns minutos.

— Volte lá para dentro. Diga a ela que não vou demorar. Eu a ignorei e continuei ali. Me senti um fracasso. Não tinha chegado a lugar algum com ela. Merda.

— O que você está fazendo? — ela vociferou. — Laura não é a única que está preocupada com você.

— Maca, mas ela é a única que tem o direito de estar. Você sabe disso. Não precisa mais se preocupar comigo, por favor vá. Aquilo doeu mais do que qualquer outra coisa que ela já me disse.

Naquele momento, ela jogou o pedaço do meu coração que eu havia lhe dado tantos anos antes no chão e o pisoteou. Fiquei decepcionada por ter passado todo esse tempo a idealizando, comparando todos os meus relacionamentos com o que tive com ela, a colocando em um pedestal, quando ela claramente não se importava com os meus sentimentos.

— Quer saber? Se eu não me sentisse tão mal pelo que você está passando agora, te mandaria ir se foder — eu disse.

— E se eu quisesse ser uma escrota, eu diria que você está falando em foder, porque lembra que gostava pra caralho quando eu te fodia. — Ela passou por mim. — Cuide da sua mãe esta noite.

As últimas horas tinham sido como uma montanha-russa de emoções, cheias de choque, tristeza, ciúmes, e agora... raiva. Pura raiva. As lágrimas começaram a descer por meu rosto no mesmo ritmo intenso das gotas de chuva que agora caíam com vontade depois que ela me deixou sem palavras no meio do jardim.

Cap 17 Já atualizado! Corram lá... 

Minha Meia-irmã Zulema Zahir 🦂Onde histórias criam vida. Descubra agora