Cap 6 🦂

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A volta para casa de táxi com Zulema e Helena naquela noite foi extremamente desconfortável. Fábio surtou e foi embora em seu carro depois de descobrir que Zulema era, na verdade, minha meia-irmã.

O motivo do que aconteceu no jantar continuava sendo um mistério para mim. Durante o caminho inteiro, Zulema não disse uma palavra para nenhuma de nós. Ela foi no banco da frente, enquanto nós duas fomos no de trás. Chegamos em casa, e ela subiu para o quarto, bateu a porta com tanta força que me fez pular.

Pensei em ir tentar conversar, mas meu instinto me disse para deixá-la em paz. Quando acordei na manhã seguinte, Zulema já tinha saído para trabalhar o dia inteiro na loja de bicicletas. Minha mãe sentou-se à bancada da cozinha, no banco ao lado do meu.

— Você quer me dizer o que aconteceu ontem à noite? Zaid recebeu a ligação de um amigo policial dizendo que Zulema se envolveu em uma briga na lanchonete e que você estava com ela. Pousei meu café na bancada e massageei as têmporas.

— Nós estávamos jantando… Zulema, Helena, eu e um cara da escola, Fábio. Zulema e ele começaram a brigar. Nós não sabemos qual foi a causa, porque aconteceu quando Helena e eu fomos ao banheiro. Então, não sei muito mais do que você.

— Bom...  seu padrasto está furioso, e eu não sei o que fazer.

— Ele só precisa deixar isso para lá. Pode nem ter sido culpa da Zulema, a gente não sabe o que houve de fato. Você precisa explicar isso a ele.

— Não tem como conversar com o Zaid quando se trata de Zulema. Não entendo isso.

— Nem eu. Eu tinha decidido que ia falar com Zulema naquela noite e passei o dia inteiro esperando ela voltar para casa. A loja de bicicletas fechava às 18h, então eu esperava que ela estivesse em casa pelo menos até às 19h, mas ela não apareceu. Sem conseguir dormir, fui tomada por uma sensação de temor. Finalmente, por volta da meia-noite, ouvi passos e a maçaneta do quarto de Zulema girar lentamente. Pelo menos, ela estava em casa. Cerca de um minuto depois, ouvi o som de sua porta se abrindo abruptamente.

— Que porra é essa, Zulema? Você está fedendo a álcool. — Ouvi Zaid gritar. Levantei em um salto e grudei minha orelha à parede.

— Oi, papaizinho. — Zulema parecia estar com a fala arrastada.

— Garota, você só me orgulha cada vez mais. Primeiro, arruma uma briga e me humilha na frente de toda a comunidade e, agora, tem a insolência de pisar na minha casa bêbada? Você vai desejar nunca ter vindo pra cá.

— É mesmo? O que você vai fazer? Me bater? É a única coisa que você não fez ainda. Estou mais do que pronta para isso.

— Você adoraria isso, não é? Não. Eu não vou te bater.

— Certo… você não vai me bater. Vai só destilar ódio em mim… como sempre fez. Às vezes, eu queria que você simplesmente me batesse de uma vez por todas e me deixasse em paz, porra.

— Você é uma desgraçada, Zulema.

— Ah, me diga algo que nunca disse antes.

— Ok, nesse caso, tenho uma notícia para você. Eu não vou te ajudar a pagar pela sua faculdade. Você vai ter que se virar. Tomei essa decisão esta noite. Vou pegar o dinheiro que estava guardando para você e dar todo para Macarena. O quê? Não! Pensei.

— Não vou gastar meu suado dinheiro com uma fodida que quer ser uma escritora de merda. Se algum dia você decidir que quer ter uma carreira de verdade, venha falar comigo. Até lá, não vou gastar um centavo com você.

— Você não pretendia pagar a minha faculdade de qualquer maneira, e sabe disso.

— Por que eu iria querer? Para alguém que não fez nada além de decepcionar desde o dia que nasceu?

Minha Meia-irmã Zulema Zahir 🦂Onde histórias criam vida. Descubra agora