03.

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    Odiava a forma como, derrepente, todos os seus esforços pareciam ser em vão. Era domingo, os dias anteriores apenas servirão para que você colocasse sua vida no Japão em ordem, havia acertado as coisas na faculdade para que começasse na nova semana que se iniciaria e como prometido, Choso havia conseguido uma vaga de emprego para você na boate que trabalhava. E mesmo que a ansiedade fizesse com que passasse as seguintes noites em claro você ainda tinha as coisas sob seu controle.

    Tinha. No passado.

    Sob aqueles olhos mais uma vez via-se como um coelhinho preso em território hostil, bastava um passo incerto e poderia ser facilmente devorada.

    No fim das contas o maior erro da presa é acreditar que apenas força de vontade poderia ser capaz de inverter sua situação, nunca poderia se tornar o predador.

       Querida, fico feliz que tenha aceitado nosso convite.

    Convite? Você havia sido praticamente intimada a estar ali.

    A mulher esboçava um sorriso tão ensaiado quanto o seu próprio ao se sentar na mesa reservada para os Geto. Usava um vestido vermelho que caia muito bem em seu corpo esguio, sob seus pés um par de saltos finos enquanto as mais valiosas joias enfeitavam seu pescoço fino. Ela não havia mudado nada. Pensou consigo mesma.

    Himari Geto parecia ter parado no tempo, mesmo que estivesse na casa de seus cinquenta anos a vaidade e elegância nunca haviam a abandonado. Você se recordava bem de observá-la quando pequena, desejando com todo seu coração ser pelo menos um pouco como sua mãe. Era ingênua, naquela época tentava a todo custo se encaixar em um molde que nunca a caberia, não importasse o quanto rezasse por isso. Em sua cabeça, se fosse ao menos um pouco como seus pais, finalmente a aceitariam e a reconheceriam como parte daquela família perfeita.

    Um pensamento doloroso demais para uma criança.

       É bom vê-la, mamãe.    Ambas sabiam que suas palavras não se passavam de afirmações vazias.

    Com o passar dos anos naturalmente a admiração cedeu espaço para que uma raiz venenosa crescesse em seu peito. Rancor. Era tudo o que sentia por aquela mulher.

    Meu filho!    Ela se dirige a Suguru sentado ao seu lado em seu terno estupidamente perfeito.

    Mãe, como a senhora está? O moreno tinha um sorriso tranquilo em seus lábios.

    Você era a única desconfortável com aquela situação?

    Estou ótima querido. Seu pai já deve estar terminando de falar com os executivos, logo se juntará a nós.

    Um suspiro escapou por entre seus lábios. O que estava fazendo ali? Como havia se submetido a isso? E, acima de tudo, como faria para escapar o mais rápido possível?

    Esses eram os pensamentos que rondavam sua cabeça enquanto, aos poucos, deixava de escutar a conversa que os dois haviam engatado sobre negócios. Nunca fez parte dos assuntos abordados na mesa, era natural que se calasse durante noites como essa.

    Era mais uma das festas anuais das empresas Geto onde a alta sociedade do Japão aproveitava para exibir seus bens e falsos sorrisos enquanto, sorrateiramente, fechavam contratos bilionários. Desde pequena foi obrigada a participar de eventos como esse onde era exibida como uma bonequinha de porcelana, com o tempo descobriu que bastava sorrir para as fotos e as senhoras que a elogiavam e a invejavam por sua beleza jovial, não podia participar dos assuntos da família, não podia brincar com as outras crianças e comer durante os eventos era algo extremamente proibido, mas mesmo assim aceitava calada, ficava horas sentada e era comum que ao final da noite suas bochechas doessem de tanto sorrir. Ainda sim ansiava por isso, pois essas eram as únicas horas onde todos podiam sentar juntos em uma mesa, como uma família.

𝐋𝐎𝐒𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐎𝐋, Satoru GojoOnde histórias criam vida. Descubra agora