07.

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    Ao abrir os olhos estava mais uma vez naquele quarto frio onde passou boa parte de sua vida, as paredes brancas, os milhares de ursos de pelúcia que Suguru lhe dava, os rabiscos pendurados nas paredes, uma única foto de sua família ao lado da cama e um cheiro assustadoramente familiar.

    Você encarou o relógio na mesinha ao lado da cama, os ponteiros marcavam dez da noite. Desespero em sua pior forma lhe deixou estática ao ouvir a madeira do chão rangendo sob os passos pesados dele, você sabia muito bem o que viria a seguir. Tentava a todo custo se mecher, mas era inútil, sua voz havia escapado de sua garganta, sentia-se enjoada. Estava escuro, se não fosse pelo pequeno abajur estaria completamente cega, sempre teve medo do escuro, mas nunca foi por acreditar em monstros embaixo de sua cama, mas sim por ele, que conseguia ser muito silencioso quando desejava.

    A porta lentamente se abriu, suas mãos tremiam, seu peito de forma desesperada buscava por ar. Toshiro adentrou o pequeno quarto com um sorriso que você sempre considerou nojento impregnado aos seus lábios, aquele olhar sobre si fazia com que se sentisse imunda, queria gritar, queria a todo custo mostrar que não era mais indefesa, que conseguia se defender de seus abusos agora. Era inútil. Você não pôde fazer nada além de assisti-lo se aproximar lentamente de você após garantir que a porta estivesse fechada.

    Lágrimas quentes rolavam por sua bochecha, a silhueta do homem parecia um borrão pela película de água que inundava seus olhos.

       Seja boazinha [Nome], só você pode fazer isso pelo seu pai, está bem?

    Não. Não. Não.

    Ele deixaria marcas em sua alma para sempre, nunca foi capaz de tirá-las de seu corpo, sentia-se nojenta todas as vezes ao se lembrar. Não, ele não poderia fazer isso novamente. Você acabaria com a vida dele, sim, era o que desejava.

    Então por que não consigo reagir!?

    Você fechou seus olhos com força, talvez estivesse acostumada a não resistir. Tudo o que podia fazer contra um homem duas vezes maior que si era rezar para que alguém a salvasse durante noites como essa.

    Por favor, alguém...

    Era em vão.

    Ninguém nunca chegou a escutar sua voz silenciosa, clamando por ajuda.

       [Nome]...Porra, [Nome]!

    Você abriu seus olhos novamente, estava assustada, aparentemente aquele era mais um de seus inúmeros pesadelos.

    Estava ofegante, a mão que apertava seu ombro fez com que olhasse para o lado, se deparando com um Satoru assustado ali. Seus olhos rapidamente percorreram a sua volta, ainda estavam no carro do platinado, estacionado perto de seu dormitório no campus.

       Por que você não me acordou?   
Questionou a primeira coisa que veio em mente, sua voz por um fio, estava prestes a desabar ali mesmo.

    Satoru levou uma mão até os próprios cabelos os jagabdo para trás, suspirou, analisando seu rosto por mais alguns segundos antes de desviar o olhar e encostar novamente em seu próprio banco.

    Ele nunca havia a visto assim, assustada. Você tentava esconder suas mãos cruzando os braços, mas Satoru sabia que tremiam.

       Era o que eu estava tentando fazer, acabamos de chegar.    Mente.
Inclusive, você baba enquanto dorme, é nojento.

    Silêncio. Você encarava um ponto fixo em seu colo enquanto tentava controlar sua respiração e a si mesma. Fazia um certo tempo desde a última vez que teve um pesadelo assim, e mesmo que fossem frequentes no passado, nunca soube lidar de fato com eles ao acordar.

𝐋𝐎𝐒𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐎𝐋, Satoru GojoOnde histórias criam vida. Descubra agora