Despedida.

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Tarik Pacagnan


O ambiente é ameno e reconfortante, mesmo estando bem frio. Ter a presença de Rafael é o melhor dos meus dias. Como o meu melhor amigo, ele sempre esteve presente na maioria dos momentos, até mesmo, daqueles que mais precisei. Não me lembro de um dia sequer, onde o mesmo me negou alguma ajuda. Jamais poderia encontrar alguém como ele. Nossa caminhada é lenta, visando admirar a vista para o mar que tínhamos a nossa frente. A ideia de vir aqui foi minha, mas o mesmo queria tanto quanto eu. Quase todo mês nós nos programamos para ir em algum local diferente e de interesse. Esses passeios são muito necessários e já acontecem a alguns anos. Não me vejo sem o Rafael, literalmente. Com tantos anos de amizade, já faz parte da rotina esperar por uma mensagem dele, ou até mesmo, com ele batendo na porta de minha casa para fazer qualquer coisa que dê vontade no momento. Sinto que o mesmo se dedica por isso tanto quanto eu. Com ele, sei que posso ser verdadeiro a todo momento. Com o vento passando sobre nós, me permito olha-lo mais uma vez; Se encolhendo em suas roupas por conta do frio, enquanto sorria a todo momento para mim.

— Você escolheu esse lugar mesmo sabendo que é inverno! — Ele me da um leve tapa no ombro, me abraçando forte. — Agora você irá me proteger do frio!

— Eu realmente errei muito feio. — Retribuo o ato da mesma maneira, ficando assim por um tempo considerável. — Você vem estando muito ocupado no trabalho? Sinto falta das suas mensagens. — Rafael nunca deixou de mandar mensagem, nem por um dia, mas ultimamente vem sendo cada vez mais ausente. O fato de sermos adultos pode explicar isso, mas ainda sim, me apeguei a ele de uma forma inexplicável.

— Então quer dizer que o Pac-Man sente falta de mim? — Sinto sua mão bagunçando meus fios de cabelo. — Mas, sim, o trabalho vem sendo cada vez mais puxado... Só que gosto do que faço, sabe? — Ele desfaz o abraço, indo um pouco para frente, olhando para o mar, parecendo pensativo. — Você podia trabalhar lá também, assim não iríamos ficar tão distantes.

— A ideia é ótima, Cellbit! Mas... Você sabe que tenho outros planos nesse momento, não é? — Ele sabe bem do que se trata e por algum motivo, quando falo algo sobre isso, o clima fica estranho entre nós.

— Ah, Claro! Eu achei que tinha desistido dessa ideia maluca. — Seus olhos continuam no mesmo lugar, parecendo não querer olhar diretamente para mim. — Sabe que minha casa sempre será bem-vinda para você, Pac. Você não precisa fazer esse tipo de coisa para fugir dos seus pais! — O único que sabe sobre toda a minha vida, principalmente por ter anos de convivência, é ele. As coisas nunca foram boas com os meus pais, por isso, quero sair de lá o mais rápido possível. Não quero continuar os decepcionando e também não quero que meu psicológico seja ainda mais destruído.

— Não é apenas por esse motivo! Eu amo o Mike, você sabe bem disso! Tem muitos meses que eu falo disso pra você... Por que simplesmente não acredita em mim? — Eu e o Rafael nunca tivemos uma briga séria, mas isso sempre foi motivo de conflitos entre nós. Não entra na minha cabeça como um motivo tão mínimo poderia nos levar a essa situação.

— A questão é ele! Mike nunca passa confiança alguma e você sabe que não costumo me preocupar tanto com seus relacionamentos! — Ele me olha, com seus olhos, agora, cobertos por lágrimas. — Não quero que você sofra, Pac! Confia em mim... Você pode vir pra minha casa, nunca te neguei isso! — Vou até ele, secando suas lágrimas, assustado com seu comportamento. O mesmo nunca foi de agir assim, muito menos de demonstrar tanto os seus sentimentos.

— Ele me faz bem, nunca fez nada que pudesse me fazer duvidar de algo. Tenho certeza do que quero fazer e agora, vou até o fim. — Suas lágrimas encharcam ainda mais o seu rosto. — O que tá acontecendo? Quero que seja sincero! — É impossível não notar que tem algo de errado e isso me preocupa.

— Como nunca notou, Pac? Eu sempre fui diferente com você... Demonstrei de todas as formas, mas nunca foi o suficiente. Além de tudo, sempre fui tratado apenas como um melhor amigo. — Ele segura em meus braços, trêmulo. — Eu juro que tentei guardar isso apenas pra mim, mas a cada dia que se passa, a dor se torna cada vez mais insuportável!

— Cellbit... Você tá me assustando! — Sinto a pressão das suas mãos soltando meus braços e logo vejo ele se apoiando em uma árvore próxima a nós. O ver desestabilizado dessa maneira, me destrói.

— Eu não suporto o Mike! Não quero que você more com ele, nem sequer o ame! Porque a verdade mesmo, Pac, é que eu amo você! Esse sentimento sempre existiu de alguma maneira aqui dentro, mesmo tentando esconder e fingir que ele não existia. — Os seus soluços eram audíveis durante a sua fala. — Desde que você conheceu o Mike, não existe outro assunto entre nós. Tudo se tornou sobre ele e você não imagina o quanto isso é doloroso! Eu apenas quero poder ter você, te levar pra minha casa e assim, podermos construir o nosso futuro. É pedir demais? — O vejo suspirar depois de suas falas, como um alívio por ter, finalmente, tirado isso de dentro de si. O silêncio se torna presente, o que é algo comum entre nós, mas dessa vez, ele é insuportável. É barulhento, como se estivesse em uma sala cheia de pessoas e não conseguisse falar sequer uma palavra. Sei que ele está esperando por uma resposta de mim, mas é impossível responde-lo de uma maneira que não irá ser ainda mais doloroso do que ele já vem sentindo.

— Eu... Eu vou me casar com o Mike! — Falo rapidamente, desviando o olhar dele. Preferi ser direto, porque assim, poderia doer menos para nós dois. — Já me decidi faz tempo e não irei mudar minha decisão, Cellbit. Eu amo você, mas não é dessa maneira. — Sua feição nesse momento é indescritível. — Não quero te perder, mas... Não posso mentir sobre meus sentimentos.

— Então... É isso? Você vai me trocar por uma pessoa que conhece há apenas uns meses? — É difícil dizer se o que ele está sentindo agora é tristeza ou raiva. Talvez os dois.

— Nunca foi sobre trocar, Cellbit! Ainda quero você aqui comigo! — O desespero bate em meu peito, pensando na possibilidade de perde-lo.

— Não posso mais continuar sendo amigo de uma pessoa que eu amo tanto, Pac! Será doloroso te deixar, mas será necessário. — Ele vem até mim, segurando em meu rosto. — Quero que saiba que independente de tudo, sempre vou te apoiar. Se isso é o melhor pra você, irei te deixar seguir o que escolheu! Mas você terá que caminhar sozinho a partir de agora. — Se aproxima um pouco mais, deixando um selar em minha testa, iniciando sua caminhada, em seguida. Se afastando cada vez mais de mim, não tendo nem oportunidade de falar mais alguma coisa.



Essa foi a última vez que nos falamos. Ainda me lembro como se fosse ontem, mesmo já tendo se passado dois anos e estando nos braços da pessoa que amo: O Mikhael.

The Walk (Celltw).Onde histórias criam vida. Descubra agora