Confuso.

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Tarik Pacagnan


Um novo dia se inicia. Acabei dormindo no quarto de hóspedes da casa de Rafael. Acordei com diversas ligações perdidas de Mikhael. Decido não atender, até porque, de qualquer forma, vou precisar passar lá para trocar de roupa, porque vim sem nada para cá. Antes de tudo, Rafael me oferece um café da manhã reforçado: Com frutas e muita proitena para aguentar o dia. Ele sempre priorizou essa refeição. Pelo visto, continua sendo o mesmo de sempre, não perdeu a sua essência que tanto admiro. Como não sinto tanta fome nesse horário, comi apenas um pouco, principalmente por sua insistência de não sair em jejum. Não existe nada que eu não faria por ele. Meus sentimentos estão confusos nesse momento. Eu sou apaixonado pelo Mikhael, me dói absurdamente ter que pensar em um possível divórcio, mas ao mesmo tempo, é surpreendente ver quão Rafael me trata bem, mesmo diante do que aconteceu aquele dia. Pode ser apenas uma emoção por estar sendo bem tratado depois de tanto tempo, porém de qualquer forma, sua companhia é a melhor que já tive até hoje. Andando em passos largos, passo por algumas lojas, já tendo memorizado o caminho. Saí mais cedo, sem a presença de meu melhor amigo, fazendo de tudo para acabar com isso logo. Mikhael precisa bem mais desse tempo do que eu, até porque, esse casamento nunca fez sentido. Só será necessário alguns minutos para tomar um banho e trocar de roupa, ao menos que ele me atrapalhe.

— Meu amor, você voltou! Onde passou a noite? Fiquei tão preocupado! — Mikhael vem até mim, me dando um abraço apertado. Provavelmente isso é apenas um arrependimento. — Me desculpa pelo o que falei ontem, tava muito bêbado. — Sempre colocando a culpa em algo.

— Tá tudo bem. Tava na casa de um amigo do trabalho. — Retribuo o abraço, mas logo me desfazendo e indo fazer o que tinha planejado.

— É ótimo saber que você tá se dando bem com o pessoal. — Fico surpreso por ele não ter feito diversas perguntas sobre isso. — Falando nisso, eu tenho uma viagem de trabalho pra fazer essa semana. Se importa de ficar sozinho? — Isso não é nenhuma novidade, por isso, minha reação é a mais normal possível.

— Não ligo. Aliás, pretendo passar uns dias na casa do meu amigo, já que costumo ficar sozinho mesmo. — Eu nunca tinha sido tão direto com Mikhael. Da para notar em seu rosto que não está gostando de como estou tratando-o.

— Não fico confortável com isso, mas não vou te impedir. Depois me passa a localização, não quero que nada aconteça com você. — Ele sorri, piscando um dos olhos. Não é como se o mesmo se importasse comigo, mas quer ter o controle de tudo sobre a minha vida. Dessa vez não irei fazer nada disso.

Decido ignorar suas palavras e apenas concordar com a cabeça, tentando sair da casa o mais rápido possível, tendo em mente voltar apenas com Rafael para buscar minhas coisas enquanto Mikhael estiver no trabalho. Sinto que estamos cada vez mais afastados e não duvido que essa viagem de trabalho seja apenas uma desculpa para ficar com mais alguma amiga de trabalho em um dos melhores e mais caros hotéis que ele pode proporcionar para elas. Caminhando, agora, em direção ao trabalho, pude ficar ainda mais pensativo sobre como sou tratado pelas duas pessoas mais próximas a mim nesse momento. Rafael me prioriza independente de tudo, enquanto Mikhael, me descarta quando não sou mais útil para si. Ele ter se preocupado com meu sumiço, foi apenas por nunca ter feito isso e iria se arrepender se algo acontecesse comigo. Suspiro, pegando o elevador para o andar desejado, esperando que Rafael já estivesse ali, pois não encontrei ele no caminho. Cumprimento todos que passam por mim e sigo para o refeitório, que é uma pequena sala, onde fica o bebedouro e algumas coisas para comer durante as horas por aqui, encontrando Lange tomando um café sem açúcar, como sempre faz.

— Como consegue tomar isso? É super amargo! — O lado bom é já ter intimidade o suficiente com ele para não precisar cumprimenta-lo primeiro.

— Acho que costume. — Ele ri e me encosto na parede juntamente com o mesmo. — Foi tudo bem lá? Mikhael fez algo? — Sinto seu olhar em mim, enquanto tomava mais um gole de seu café. — Você ficou bem nessa roupa, inclusive.

— Ele disse que vai fazer uma viagem de trabalho nessa semana e não se importou comigo indo passar os dias na casa de um amigo. — Fico um pouco sem jeito com seu elogio, mas tento reagir normalmente. — Você também, Cellbit.

— Ótimo! Assim vocês podem ter um tempo pra pensar sobre a situação. — Ele termina de beber seu café, deixando a xícara na bancada. Agradeço por ter um amigo que está disposto a me ajudar. — Quais são seus planos pra essa semana?

— Acho que ser forte e aguentar isso. Continuar nessa relação não é a melhor escolha pra mim. — Olho para o teto, ainda pensando sobre a escolha que tive.

— Você tá fazendo o certo. — Ele se vira, ficando de frente para mim, me deixando um pouco tímido. — No final, quem tá perdendo, é ele. Você é alguém incrível pra se ter por perto. — Sinto seu polegar em minha bochecha, fazendo um breve carinho. Sua aproximação é suficiente para deixar um beijo em minha testa. Um ato muito carinhoso, eu diria. Mas não restou tanto tempo para apreciar aquele momento, até porque, uma funcionária entrou, nos fazendo voltar as posições iniciais rapidamente, para não causar suspeitas. Sinto minha respiração falhar as vezes, tentando entender todos esses sentimentos que ele é capaz de me proporcionar. Ainda é tudo muito novo e precisarei de tempo para colocar minha cabeça no lugar e entender o meu real sentimento pelo Rafael nesse momento. — Bom dia! — Um pouco sem jeito, ele cumprimenta a mesma.

Deixo os dois conversando, enquanto me despeço e vou em direção a minha sala, a fim de iniciar meu trabalho para não ficar sobrecarregado durante a tarde, que é um horário onde não tenho tanta disposição e me sinto mais desanimado. Precisamos cumprir o horário, mas na maior parte do tempo, vejo pessoas conversando e não fazendo muito, já que muita das vezes os livros tem etapas mais difíceis do que as outras, o que pode acabar requerendo mais de alguns funcionários. Como Rafael é técnico de informática e geralmente termina suas tarefas em poucas horas, ele é colocado para fazer algumas coisas adicionais. Sinto que o mesmo é tão inteligente ao ponto de usar sua profissão ao seu favor. De qualquer forma, mesmo que seja difícil, tenho cada vez mais certeza da escolha que tomei.

The Walk (Celltw).Onde histórias criam vida. Descubra agora