Tarik Pacagnan
Ainda incrédulo, o observo por longos segundos, como se essa fosse a primeira vez que o encontro na vida. Suas mãos nos bolsos de sua calça social - como toda sua roupa - e uma expressão convidativa em seu rosto. É estranho vê-lo depois de tanto tempo. Ainda mais pensando como foi a última vez que estivemos juntos. Ao mesmo tempo que quero muito lhe dar um abraço, não sei se devo ou se o mesmo irá gostar disso. Ate porque, quem foi magoado nessa história toda, foi ele. Devo muitos pedidos de desculpas. Me arrependo amargamente pela decisão que tomei e venho pagando por isso até hoje. Faço questão de desenhar seu rosto e corpo com os meus olhos, admirando cada traço que não tive oportunidade de notar. Permaneceu com seu loiro, que combina tão bem com seus olhos azuis como o mar. Dois anos fizeram muita diferença, pois agora, vejo-o de outra maneira. Não é amor, mas não sinto que seja apenas um sentimento de amizade. Talvez um gostar. É muito estranho para mim pensar dessa maneira estando casado, mas para ser sincero, aquilo nunca passou de apenas um título para Mikhael, então, nada mais justo do que eu agir da mesma maneira. Meio hipócrita, não? Porém, tendo Rafael em minha frente, agora, as coisas são diferentes para mim. Essa é a minha segunda chance - e talvez a última -, não posso descartar novamente igual fiz da última vez. Eu realmente sinto muita falta dele.— Você trabalha aqui agora? — A conversa se inicia e fico ainda mais incrédulo quando noto o quanto está calmo com a situação. Não é possível que ele não sinta nenhuma mágoa de mim por conta de toda aquela situação. — Senti sua falta.
— Ah... É... Sim! — Ainda nervoso, me perco nas palavras, desviando os olhos para o local em que estávamos. — Eu também senti sua falta. Muito mesmo. — Confesso, suspirando e logo sinto seus braços me envolverem em um abraço forte que rapidamente foi retribuído por mim. O calor de seu corpo é confortável e o seu cheiro me faz alcançar a paz novamente. Aproveito aquela sensação como se nunca pudesse ter novamente.
— A reunião já vai começar, quer que eu te acompanhe? — Depois de um abraço duradouro, ele me estende sua mão, não tirando seu sorriso do rosto por um minuto sequer. Parece tão feliz. Jamais recusaria um pedido como esse e logo seguro em sua mão, sentindo ele entrelaçar nossos dedos. Me sinto muito bem. Nem mesmo Mikhael faz isso comigo. E dessa maneira, fomos em direção ao local desejado, vendo que todos já estavam sentados, prontos para dar início a reunião. — Me perdoe pelo atraso, encontrei Tarik no caminho, estava perdido! — Continua nos guiando até duas cadeiras vazias, onde nos sentamos, um ao lado do outro.
— Ótimo! Agora podemos dar início a nossa reunião do mês, onde vamos discutir acerca dos nossos planos para o decorrer dos dias. Para quem ainda não me conhece, eu sou a Malena, CEO da empresa 'Felizes Para Sempre'. — A mulher que está em pé, de frente a um telão com um slide, começa o seu discurso. Mas nesse momento, meu foco é outro. Rafael está literalmente do meu lado e isso é insano. A forma como o mesmo reagiu me deixou confuso, mas quero aproveitar todo esse momento.
— Qualquer dúvida, pode me perguntar! — Ele sussurra para mim, bem próximo de meu rosto e foi impossível não ter uma troca de olhares, mesmo que por poucos segundos. E assim a reunião se estendeu, trazendo algumas ideias e planos. Mesmo de forma tímida, também consegui me envolver na conversa e quando percebi, já estava sendo finalizada. A CEO me deixou escolher o cargo que gostaria de ocupar e que depois, é só registrar no site da empresa. Foi um alívio ter um tempo para testar as funções e decidir. — Qual o número da sua sala? Posso te levar até lá para não se perder outra vez. — Em antes que pudesse sair do cômodo, sinto meu braço sendo puxado, de forma sutil, por Rafael.
— O número é 22, mas... Qual sua função aqui? — Muitas dúvidas permaneciam em minha mente, mas com certeza, iria suprindo elas ao decorrer do mês. Ainda é tudo muito novo e preciso me acostumar com o fato de Rafael estar novamente em minha vida e principalmente, em meu ambiente de trabalho.
— Sou o técnico de informática e designer. Costumo ficar mais à toa do que realmente trabalhando, já que não há tantas coisas para fazer, ainda mais no início do mês. — Ele diz de forma descontraída, me fazendo rir. — Você iria ser um bom revisor! Estamos precisando bastante de um!
— Não sei se sou tão bom assim, Rafael. — Me mantenho pensativo, tentando decidir em qual função iria me adequar melhor.
— Não precisa de tanta formalidade com seu melhor amigo, Pac. — Chegamos em minha sala e mal tive tendo de pensar nessas palavras tão repentinas. — Entregue!
— Cellbit... Sobre o que aconteceu naquele dia... — Sou cortado quase que instantaneamente por ele, como se não quisesse ouvir nada relacionado a aquilo.
— Tem coisas que não precisam ser lembradas, Pac! Já está tudo bem e fico feliz que seu casamento esteja dando certo! — Ele aponta para a minha aliança. Suas palavras me deixam em dúvida se seu amor por mim foi embora.
— Não tão certo, mas venho dando meu melhor. — Solto sem pensar e logo repenso sobre o que falei, me arrependendo. Não gosto de dizer a ninguém sobre meu relacionamento, mas com Rafael parece que tudo muda. E não é apenas pelo fato dele ser meu melhor amigo. — Mesmo que não queira falar sobre, me sinto na obrigação de te pedir desculpas e dizer que me arrependo pela minha decisão. — Suas reações são indescritíveis. Foi sempre muito difícil saber decifra-lo. Pelo visto não mudou muito nesse tempo que estivemos separados.
— A culpa não é sua por simplesmente amar alguém... ou amava? — A entonação reflete como uma pergunta, parecendo tentar entender minhas palavras.
— Ainda amo, mas não sinto que vale a pena. — Desvio o olhar, não sabendo ao certo onde toda essa conversa ou situação em si, vai nos levar. Seja o que for, tô disposto a tentar. Quero amar alguém que possa retribuir da mesma maneira.
— Eu continuo estando para você da mesma maneira. — Após sua fala, ele anda em direção a sua sala, ouvindo o sinal tocar, alertando que é o horário de trabalho. Suas palavras podem ter tantos significados. Isso me deixa tão pensativo.
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The Walk (Celltw).
FanfictionO tempo sempre é capaz de revelar que as escolhas tem suas consequências, mas e se você tiver uma segunda chance?