Decisão.

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Tarik Pacagnan


Não demorou mais do que poucos minutos para estarmos dentro de sua casa, que é pequena, mas aconchegante. Muito diferente da casa de Mikhael, que é tão grande, mas passa uma sensação de vazio. Sim, sempre me refiro como somente dele, até porque, não sinto que tenha algo meu no meio disso tudo. O caminho é conhecido por mim, então, caso seja necessário, não será difícil chegar aqui sozinho. É bem possível que nossa relação só piore a cada dia, como sempre. Suspiro aliviado depois de entrar e sentir meu corpo aquecer. Não sou um apreciador do frio. Quando paramos, consegui pegar meu celular que estava em meu bolso, vendo muitas ligações e mensagens de Mikhael. Provavelmente se arrependeu do que disse, após não me encontrar em casa. Mas agora é tarde demais. Jamais sairei da companhia de alguém que realmente me quer por perto. Impressionante como Rafael ficou em minha vida, mesmo após tanto tempo afastados, e principalmente, após ter lhe magoado tanto com o casamento repentino. Retiro o meu moletom, colocando-o em cima de seu sofá, enquanto caminho com ele até a cozinha, vendo o mesmo tirar uma garrafa de água da geladeira.

— Você continua organizado. Muito mais do que antes. — Observo atentamente todos os cantos de sua casa, vendo uma foto de nós dois quando ainda éramos mais novos em um pequeno porta-retrato. — Você ainda tem isso! — Faço questão de coloca-lo em minhas mãos, admirando aquilo de perto.

— Eu jamais iria me desfazer de algo tão importante pra mim. — Sinto sua respiração quente próxima de meu pescoço, sinalizando que está bem próximo, enquanto também observa a foto. — Mas... Tem muito tempo que Mikhael vem te tratando assim? — Ele me oferece um pouco de água.

— Sim... Na verdade, desde que nos casamos, nunca fomos de fato, um casal. — Assumi, aceitando o copo e pegando de sua mão. — Sinto que o divórcio vai vir a qualquer momento.

— E o que você sente em relação a isso? — Ele se mantém pacífico, se apoiando no balcão.

— Eu ainda amo o Mike, mas... Ele não sente o mesmo. Não vale a pena continuar. — Me sento em uma cadeira que está perto de mim, olhando fixamente para o chão. Esse assunto ainda é muito delicado para mim.

— Um relacionamento não da certo com apenas uma pessoa tentando, certo? — Ouço-o suspirar forte, parecendo irritado com a situação, ou com Mikhael. — Você sabe de algo, Pac? Parece ter certeza que o casamento vai acabar, mas... por que?

Uma pergunta que realmente me trouxe um choque de realidade. É um fato que sei da maioria das coisas que Mikhael já fez, mas prefiro não acreditar, mesmo tendo provas, porque não quero que meu casamento acabe. Eu me arrependo por ama-lo tanto, porque isso acaba me prendendo a ele. Não teria coragem de pedir o divórcio, mas sei que o mesmo não irá demorar para fazer isso. Ele nunca se tornou tão ausente, ao ponto de me recusar por tantos dias. Se não está comigo, provavelmente está com outra pessoa. Esses pensamentos são torturantes, mas já está na hora de levantar a cabeça e encarar essa situação. Um dos pontos positivos de tudo isso, é que tenho Rafael agora, novamente. Posso contar com ele para tudo o que acontecer. Mesmo com todos os meus receios, prefiro ser sincero e contar tudo o que sei e até mesmo, cogito vindo de Mikhael. Não existe pessoa melhor para confiar e dizer tudo o que venho guardando por tanto tempo. Eu não mereço ser infeliz por conta de alguém tão idiota.

— Eu sinto muito que esteja passando por isso, ainda mais, por tanto tempo. Por favor, quando precisar de um lugar pra ficar, você sabe pra onde vir! — Ele segura minha mão. — No final, você já sabe o que deve fazer, Pac. — Como se tivesse se assustado com algo, o mesmo se vira de costas para mim. — Você quer assistir um filme? Posso fazer pipoca pra gente!

— Seria ótimo! Enquanto isso, eu posso ir no banheiro? — Felizmente não chorei, mas preciso ficar um pouco sozinho, ainda mais depois de me libertar de tantas coisas que carregava.

— A casa é sua. Pode fazer o que quiser! — Ele sorri para mim e logo retorna para o que estava fazendo.

Logo, começo a andar pelo corredor, olhando para os cômodos que havia ali - dois quartos e um banheiro -, percebendo o quanto sinto falta de viver em uma casa menor. Aquela mansão de Mikhael nunca me trouxe um conforto que preciso. Sinto que Rafael vem sendo o meu alicerce nos últimos dias. Ele está certo. Com certeza, já sei o que devo fazer, mas sinto medo do que pode vir juntamente com essa decisão. Será que Mikhael aceitaria isso bem? Ou a família dele iria tentar conversar comigo para mudar de ideia? Infelizmente é algo muito incerto. Tenho duas opções: Realmente ter coragem e fazer o que acho certo, ou posso trata-lo da mesma forma que me trata ao ponto dele se irritar e pedir o divórcio. Até porque, ele já não vem ficando tanto em casa mesmo, não será difícil de fazer igual. É bem provável que a casa de Rafael se tornará minha nova residência. Me olhando no espelho, posso notar o quanto deixei de me cuidar desde que minha vida virou de cabeça para baixo. Não posso continuar me maltratando dessa maneira por alguém que não faz o mínimo por mim. Está na hora de agir, independente do que será. Em passos largos, vou novamente para a cozinha, vendo o mais velho colocar a pipoca em uma tigela. Encho os pulmões de ar, convicto em minha decisão.

— Posso passar uns dias na sua casa? Pelo menos até tudo isso passar. — Faz tempo que não vejo-o sorrir dessa maneira. É como se ele já estivesse esperando por isso. — Ainda não sei se irei pedir o divórcio, mas... — Sou interrompido por ele.

— Você pode morar aqui, Pac. Se lembra de quando falei que minha casa sempre seria sua? isso não mudou. — Seu semblante ficou sério e se aproxima de mim. — O importante é você tá tomando uma atitude. Por agora, não pensa sobre isso.

— Você pode ir comigo lá depois do trabalho pra pegar umas coisas? — Ele me entrega a tigela de pipoca e o refrigerante.

— Sem problemas! Agora vamos para a sala, Pac. Você pensa demais! — Bate em meu ombro, sorrindo. Não sei como ele consegue ser tão calmo.

The Walk (Celltw).Onde histórias criam vida. Descubra agora