Reencontro.

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Tarik Pacagnan


Iniciando outro dia com a notícia de que Mikhael está retornando para casa. Mesmo não estando lá e dele não sabendo onde é a casa de Rafael, o medo me habita. Até então, ele sabe exatamente onde é meu trabalho. Ainda sinto medo do que ele pode ser capaz. Linnyker não me mandou mais nenhuma mensagem, apenas fiquei sabendo disso por uma foto que ele postou em seus stories: Beijando a CEO no avião, com a legenda "voltando para a casa com quem realmente me merece". Dando a entender que vai colocar ela lá dentro de sua grande mansão. Isso não me diz respeito e para ser sincero, não senti nada mais do que nojo olhando para essa foto. Ele disse nas mensagens que faria pior do que estava fazendo e fez mesmo. Mas diferente dele, nada disso foi de caso pensado, foi por livre e espontânea vontade, porque pela primeira, sei que alguém me ama verdadeiramente. Mesmo ainda tendo algum sentimento por ele, é difícil descrever o que é. Percebo o quão mal o mesmo me fez e isso me faz abrir ainda mais os olhos para o tipo de pessoa que ele é. Antes não conseguia perceber por estar cego de amor, mas agora, é totalmente visível. Lange provavelmente achou que isso me afetaria de alguma forma e fez questão de me trazer um café da manhã na cama, mesmo sabendo que não sinto fome durante esse horário.

"Reencontro", capítulo treze.


Estou em minha sala enquanto finalizo alguns projetos que fiquei encarregado. Por mais que eu goste muito de onde trabalho, às vezes, costuma ser cansativo. Ficar sentado o dia todo em uma cadeira, olhando para vários papéis e um monitor, é entediante, às vezes. Mas além de tudo, tento cumprir meu trabalho de maneira correta, visando não ter erros. Preciso ler vários rascunhos, ideias e sinopses, para que assim, haja planejamentos para futuros livros. Também recebi liberdade para escrever poemas e qualquer ideia que possa evoluir para uma história - assim como todos os funcionários -, mas não me sinto preparado para fazer algo desse estilo. Gosto bastante de escrever, é um conforto, mas ainda não é o momento certo. É comum os próprios funcionários me enviarem seus itens escritos, a fim de avalia-los, por mais que tudo sempre esteja impecável. Aproveito para alongar meu corpo, enquanto pego um pouco de água no filtro que Rafael arrumou recentemente. Acho que se não fosse por ele, muitas coisas aqui na empresa ficariam sem conserto por dias e até semanas. Logo vejo Malena andando pelo corredor e acenando para mim, enquanto entra pela porta em seguida. Estranho, ela não é de vir em pessoa a nenhum funcionário, sempre pede alguém para avisar pela mesma.

— Tarik! — Ela estende sua mão e logo tínhamos um aperto. — Espero não tá te atrapalhando. Mas, tem uma pessoa querendo falar com você. Tá na sala de reuniões. — Confesso que senti meu corpo estremecer. Quem gostaria de conversar comigo em meu horário de trabalho, além de Mikhael?

— Oh, sim! Eu já estarei indo até lá! Agradeço por avisar, Malena! — Sou simpático, tentando ao máximo não parecer estranho e assim, ela se despede com um sorriso. Ainda fiquei por um momento parado, pensando em qual melhor solução para esse momento. Tentava assimilar se Mikhael poderia fazer algo absurdo, mesmo estando dentro da empresa. De qualquer forma, decidi sair e passar de forma discreta na sala de Rafael - que não fica nada distante da minha -, pedindo-o para sair. Mesmo confuso, ele não recusou. — Malena me disse que tem uma visita me esperando na sala de reuniões. — Disse simples e ele me olha incrédulo. É inacreditável pensar que o mesmo veio até a empresa, independente de seus motivos. Nosso relacionamento é algo que podemos resolver longe do meu ambiente de trabalho, mas parece que ele está mais ansioso do que eu. Todavia, do jeito que conheço-o, sei bem que veio até aqui, porque não sabe onde é a casa de Rafael, e de fato, espero que nunca saiba.

— Não acredito que ele veio te infernizar aqui. — Sua raiva está estampada em seu rosto. Logo cruza os braços, se encostando na parede do corredor. — Bom, se você demorar muito, dou um jeito de aparecer lá. — Sinto que sua vontade é de ir na sala nesse exato momento.

Logo suspiro pesado, apenas concordo com suas palavras e vou em direção a sala de reuniões, andando em passos lentos, desejando nunca chegar lá. Olho para trás e vejo Rafael parado no mesmo lugar, me olhando fixamente. Provavelmente ele está mais preocupado do que eu. De qualquer forma, espero que seja uma conversa rápida e que ele vá direto ao ponto, até porque, não veio até aqui a toa. Meu desejo é apenas discutir sobre o divórcio, para que assim, possamos chegar em um acordo, mas conhecendo bem como Mikhael é, será complicado. Ele não vai abrir mão de nenhum bem. Não é como se eu quisesse algo, mas é impossível realizar o divórcio sem a separação justa de bens. Nada me tira da cabeça o quanto fui burro em confiar nas palavras de Linnyker, mas querendo ou não, é tarde para pensar nisso. Próximo da sala, consigo ver sua presença através de janelas pequenas que acompanham o cômodo. Ele parecia impaciente lá dentro. Por conta da agonia, prefiro abrir a porta rapidamente, mesmo sentindo minha mão tremer drasticamente. Assim que vejo-o cara a cara, meus sentimentos se misturam. Sentia raiva, mas também, angústia. Pensar que tudo acabou dessa maneira, me deixa dilacerado por dentro.

— O que você quer? — Decido iniciar a conversa, já querendo ir direto ao ponto para nosso diálogo não render o suficiente. Até porque, estou em um ambiente de trabalho e tenho uma carga horária a cumprir.

— Hm... Queria conversar com você. — Ele sorria como nunca, mas é um sorriso diferente. Vejo um ar vingativo em seu rosto, próximo a psicopatia. Sentia medo por pensar o que aconteceria a partir daqui. Seja como for, quero encarar isso se cabeça erguida, para mostra-lo que estou decido sobre o que quero.

The Walk (Celltw).Onde histórias criam vida. Descubra agora