Ameaças.

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Tarik Pacagnan


Tentava não manter contato visual, olhando para aos arredores da sala, apenas desejando sumir naquele momento. Ele por si só, é intimidador, mas não quero demonstrar meu medo, caso contrário, seu ego será ainda maior. Não demorou muito para Mikhael dar continuidade ao nosso diálogo, visando, principalmente, por eu parecer impaciente, apenas querendo sair daquele local. — Se você se desculpar pelo que vem fazendo, posso te aceitar em minha casa de novo e, assim, vivemos como se nada tivesse acontecido. Hm? — Ele se aproxima lentamente de mim, me deixando encurralado entre as paredes do cômodo. Nesse momento, eu sentia nojo. É assustador pensar que um dia, essa mesma pessoa, fingiu ser tão carinhoso. Ele não passa de um manipulador. — Se não, tudo será tão complicado, Tarik. — Sua ameaça é tão absurda, que sua voz grave treme a sala, mas não irei abaixar a cabeça. Não de novo.

— Deveria mesmo me desculpar por algo que me arrependo? Aliás, é isso que você nomeia de "casamento"? Me trata como amigo em todos os lugares, até mesmo no meu próprio trabalho, Mikhael! — Me descontrolo, aumentando gradualmente o tom de voz. Isso saiu bem mais como um desabafo. É como se um peso gigantesco estivesse saindo das minhas costas, aos poucos. Ao mesmo tempo que não gostaria de ter essa conversa, ela é bem necessária.

— Você não entende o quanto o nosso casamento, à tona assim, afetaria a minha carreira. — E é apenas nisso que Linnyker pensa: Carreira, dinheiro, fama. É tudo sobre isso, voltado para essas coisas, mas nunca foi sobre mim. E com certeza, nunca será. Ele nunca será capaz de colocar uma pessoa acima de tudo isso.

— Claro, pra você, status sempre se sobressaem. Mas sabe qual é a minha opinião?! Você sente medo do divórcio, dos seus preciosos bens serem tão passageiros quanto eu. — Exalo raiva. O medo já foi embora e eu tremia de ódio. E é exatamente esse sentimento que ele merece. — Eu não sou como você, Mikhael. Para falar a verdade, com você eu sequer sei quem sou. — Um calor me invade, mesmo estando frio. 

— Você quer realmente o divórcio? — Ele da uma gargalhada que me trouxe um pouco de medo, mas me mantenho estável. — Você não vai, Tarik. Não vamos. — Se aproxima ainda mais, colocando suas mãos na parede acima de meus ombros, me fazendo olhar fixamente para o seu rosto. — Você sempre será meu. — É a primeira vez que vejo-o dessa maneira. Ele é completamente maluco. É nesse momento que gostaria de ver Rafael entrando por aquela porta.

— E o que vai fazer para me impedir, Mikhael? Você pode até ter seus meios, mas também tenho os meus. — Ele franziu o cenho, duvidando das minhas palavras. Tem o ego tão imenso que não consegue acreditar que alguém pode o colocar no chão, que é o local que ele merece estar. — Seria profissionalmente desagradável se alguém espalhasse que você dorme com o seu marido, não? Profissionalmente desagradável se soubessem que da sua boca saem as palavras "meu homem". — Digo de maneira sarcástica e o mesmo desfaz o sorriso rapidamente. — Nega o divórcio que todos ficarão sabendo. Todos, Mikhael. — Deixo-o sem palavras. Realmente, contra isso, ele não pode fazer nada. Tenho os papéis necessários para provar tal coisa. Linnyker pode até tentar negar, mas as provas dizem tudo.

Seu silêncio é tenebroso. Ele me encarava da cabeça até os pés, ainda estando muito próximo. Não sei o que o mesmo está tentando fazer, mas seu olhar exala psicopatia. Com certeza, não quero estar com uma pessoa desequilibrada dessa maneira. Preciso ser firme e tentar lidar com a situação da melhor forma. Confio em Rafael e sei que ele não iria dizer aquelas palavras da boca para fora. Porque diferente de Mikhael, ele tem caráter e é verdadeiro. Linnyker vive apenas em um conto de fadas, onde tudo tem que dançar conforme sua música, que todos precisam seguir suas regras. E quando alguém decide ir pelo caminho contrário, ele perde a sanidade. É visível que no fundo, ele é apenas um garoto traumatizado e que precisa fazer de tudo para isso não ser descoberto. Ele não sabe lidar bem com situações como essa e é questão de tempo para existir inconsistências em suas palavras e ações, e dessa forma, agir contra o mesmo. Irei usar tudo ao meu favor para acelerar o processo do divórcio. Não quero seus bens, mas apenas em pensar em sua expressão perdendo metade de tudo, me faz querer que seja real. Ouço a porta ser aberta e vejo a figura que esperava: Rafael.

— O que você quer aqui? Não percebeu que esse assunto é apenas meu e de Tarik? — Ele logo mantém distância de mim, fechando os punhos. Não quero que aconteça uma briga aqui. Saio correndo e vou até o meio deles, mas estando mais próximo de Rafael. Se eles quisessem fazer algo, não seria eu que conseguiria impedir, mas não custa tentar.

— Tarik? Você não tem coragem nem de chamá-lo de esposo. Isso é patético! — Nunca vi Rafael dessa forma. Sua voz mudou totalmente. Sua raiva preencheu o cômodo. — Eu posso oferecer ao Pac muito mais do que você sequer tem consciência. Tudo o que você tem é apenas... dinheiro? Fama? Nada além disso! — Sinto ele envolver minha cintura, me trazendo para próximo de si, me protegendo.

— O que você pode oferecer afinal? Consegue pagar qualquer muquifo com o seu salário? Ou nada além disso? — Sua expressão é de nojo. É cruel pensar que um dia, senti tanto amor por essa pessoa. — Ele, ao invés de mim, Tarik? Ele?! — Mikhael não aceita perder. E até o momento, sua ficha ainda não caiu, que tudo já foi decidido.

— Já fiz a minha escolha, Mikhael. — Após dizer isso, sigo até a porta, pronto para sair. Não quero mais ouvir nada vindo dele. Eu estou esgotado. Ainda há muito pela frente e não quero me cansar logo agora, que tudo ainda está começando. Se for para dialogar, que seja na frente do juiz e advogados. Dessa maneira, quero ver Linnyker ter toda essa coragem.

— Vou fazer você se lamentar cada segundo dessa decisão! — Ouço-o gritar, antes de sairmos da sala. Decido me manter calado, não quero mais dar palco para suas palavras medíocres e que não mudam nada em minha vida.

— Você não vai tocá-lo de novo, ouviu?! — Rafael grita, na mesma proporção. — A partir de agora é sobre mim e você, Mikhael. Não seja covarde, hm? Eu e você. — Em seguida saímos rapidamente da sala, indo diretamente para o refeitório, para que possamos assimilar o que acabou de acontecer, antes de voltarmos para nossos trabalhos.

The Walk (Celltw).Onde histórias criam vida. Descubra agora