Tarik Pacagnan
Se passaram três dias trabalhando nessa empresa e só posso dizer coisas positivas. Acabei ficando com a função de revisor depois de testar diversos cargos que senti que iria gostar. Além de estar precisando de um, foi o que eu mais me senti confortável fazendo - também teve um pouco do Rafael nisso, já que ele disse que iria me dar bem. A CEO me deixou ter liberdade por um mês para trocar de função, caso esse fosse o meu desejo. Não sei bem se esse tratamento é apenas porque Mikhael me indicou para a empresa ou se eles realmente são tão educados com todos os funcionários. Torço para ser a segunda opção. Não sinto que é um trabalho cansativo, muito pelo contrário, o tempo passa de forma acelerada, levando em consideração que é mil vezes melhor ficar aqui do que sozinho naquela casa tão grande. Mas, ao mesmo tempo, desde que minha rotina mudou, Mikhael se mantém ainda mais distante de mim. Isso já é algo comum, mas nunca aconteceu dele não voltar para dormir. Sim, isso é um baita alerta para mim, mas prefiro fingir que tudo está bem para não causar confusão entre nós. Não posso ficar instável para vir trabalhar - isso é apenas uma desculpa para adiar o inevitável: o divórcio.Após o fim do meu expediente, reúno meus pertences pessoais e logo saio da empresa, me despedindo de quem encontro pelo corredor, seguindo para o elevador, e assim, fazendo meu caminho de sempre pelas ruas movimentadas de onde conheço tão bem. Desde então, minha relação com Rafael vem se mantendo cada vez mais próxima novamente. Claro, ainda da para sentir uma tensão quando estamos juntos, mas provavelmente é algo que irá passar com o tempo. Não posso deixar de negar que ele vem sendo uma das maiores causas para eu estar chegando e indo embora de forma tão pontual. Gosto de passar cada segundo com ele para recompensar tudo o que perdemos. Por mais que o nosso trabalho exija nossa atenção redobrada, as paredes das salas são de vidro e consigo vê-lo trabalhando a todo momento e é dessa forma que trocamos olhares tímidos e risadas cheias de conforto. É esse tipo de sentimento que Mikhael jamais conseguiu repassar para mim. Citando-o, entro em casa, suspirando e vendo que as luzes estão apagadas e sigo para o nosso quarto, supondo que ele não está na residência. O encontrando jogado na cama, ao lado de uma garrafa de vinho, totalmente vazia.
— Mikhael, o que aconteceu? — Chego perto dele, levantando sua cabeça. — Por que você está sem a aliança? — Não pude deixar de notar que sua mão esquerda está vazia.
— Não enche o saco, Tarik! — Como sempre, nada convidativo em suas palavras. — Não preciso da sua companhia, nunca precisei! Vai embora, eu quero ficar sozinho! — Ele se vira de costas para mim.
Eu estou aceitando muito pouco. Rafael nunca me trataria de maneira tão rude. Já sentindo meu rosto molhado por lágrimas, tiro a minha aliança, jogando-a em algum canto do quarto e logo saio correndo daquela casa, não conseguindo pensar em muita coisa. Não sei para onde vou, nem sequer onde é a casa de meu melhor amigo, mas nesse lugar não posso ficar. Continuo correndo, totalmente sem rumo, sentindo um vazio imenso em meu peito, enquanto o vento gélido batia contra meu corpo. Nesse momento, nem o cansaço me lembrava de parar um pouco para descansar. Até o momento que encontro uma parada de ônibus vazia, que foi onde me sentei e olhei ao redor, tentando me acalmar e assimilar tudo o que está acontecendo. Sinto um incomodo em minha mão após tirar a aliança, sentindo como se faltasse algo, mas não falta. É bem possível que Mikhael vem, até mesmo, levando suas amantes para nossa cama enquanto estou fora. Eu sinto nojo de mim mesmo por continuar aceitando tudo isso por ama-lo demais. Estou totalmente desolado, não sabendo o que fazer nesse momento. Chegou em um ponto tão absurdo da nossa relação, que ele nem me quer para saciar seus desejos. É sinal de que vem usando outra pessoa para isso. Tão cruel pensar dessa maneira.
— Olha só... Um garotinho desolado no meio da noite? Não poderia pedir por mais! — Ouço uma voz por perto e logo vejo um homem alto e forte bem próximo a mim e não penso duas vezes antes de me levantar, tentando me afastar ao máximo. — Não quer ir lá pra casa? Tá tão frio pra alguém como você ficar perambulando pelas ruas a essas horas. — Sua voz é nojenta. Agora é pensar como irei sair dessa.
— Eu já estava voltando para casa. — Não consigo dar mais do que dez passos e sinto sua mão segurando meu braço. — Me solta, por favor.
— Nada te impede de vir comigo! Só vou fazer o que gosta! — O sorriso que ele lança para mim é absurdamente macabro. — Vem lo-...
— Meu namorado não vai a lugar algum com você. Se não soltar ele por bem, será por mal. — Um anjo aparece para me ajudar, com essa voz sempre reconhecível por mim. Sinto seu braço envolver minha cintura, fazendo o outro recuar totalmente. — Acho bom parar de mexer com qualquer um que vê. — Ele diz de forma rígida e o outro sai em silêncio. Bem possível que esse homem quer pessoas fáceis e não está afim de lutar para conseguir alguém. Felizmente não se tornou uma briga, porque não gostaria de vê-lo nesse tipo de situação. Após estar longe o suficiente, Rafael fica de frente para mim, notando meus olhos inchados por conta das lágrimas recentes, me lançando um olhar de preocupação. — O que aconteceu? Por que não foi pra casa depois do trabalho?
— O Mikhael vem me rejeitando cada vez mais... Ele disse que quer ficar sozinho. — Acabo desabando e me jogo nos braços do mais velho, que me acolhe da melhor forma, me abraçando rapidamente. — Ainda bem que você tá aqui, Cellbit! — Confesso para ele, afundando meu rosto em seu pescoço.
— Vamos pra minha casa, tudo bem? — Sinto sua voz tremer de raiva. O conheço bem o suficiente para simular como sua feição está nesse momento. — Diferente dele, eu amo sua companhia e te quero por perto a todo momento.
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The Walk (Celltw).
FanfictionO tempo sempre é capaz de revelar que as escolhas tem suas consequências, mas e se você tiver uma segunda chance?