Capítulo 70

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Dulce Maria

O pior já havia passado, Christopher sobreviveu às primeiras setenta e duas horas e só Deus sabe o que passei nesses últimos dias em que estava morando no hospital, desde o dia em que ele deu entrada eu só via o sol através das janelas, quando todos perceberam que eu não iria arredar o pé, desistiram e me deixaram. Eu sentia que, se saísse, alguma coisa muito ruim poderia acontecer a ele e eu jamais me perdoaria por isso. Então, Victor Uckermann conseguiu um quarto para mim. Trouxeram uma cama normal e eu me instalei o mais próximo que pude da UTI, até Alexandra já tinha ido em casa para tomar banho, trocar de roupa, ou descansar, mas eu me negava eu só sairia daquele hospital com ele ao meu lado. Alexandra e Victor se revezavam, Louise também vinha com frequência.

— Dulce?

Levantei o olhar das páginas de um livro que eu tentava ler sem sucesso algum.

— Oi — respondi para Alexandra que tinha acabado de entrar no quarto que arrumaram para mim.

— Ele vai sair da UTI estão transferindo para o quarto.

Meu sorriso só não foi maior do que o dela.

— Diga-me que ele acordou.

Ela engoliu o choro e negou com semblante triste.

— Ainda não eles já baixaram a dosagem dos remédios estamos confiantes de que acorde nas próximas horas.

Guardei o livro e me levantei, fazia cinco dias que eu esperava ansiosamente para ele ser transferido para o quarto, as visitas na UTI tinham que ser muito rápidas e eu tinha certeza de que ele estava triste e sozinho lá, agora eu poderia ficar o dia todo cuidando dele e logo tudo ficaria bem.

— Sim ele vai acordar eu tenho certeza disso.

Eu e ela seguimos para o quarto em que ele ficaria a partir de agora.

Entramos e as enfermeiras estavam terminando de ajustar os últimos detalhes da cama dele elas já me conheciam e chamavam pelo nome, passaram por mim e sorriram.

Caminhei para um lado da cama e Alexandra para o outro, peguei em uma mão dele e ela fez o mesmo. Ele dormia tão sereno e, mesmo pálido e acamado era de longe o homem mais lindo que já vi na vida.

— Quando eu namorava Victor em um dos nossos encontros e desencontros eu rolei de uma escada após flagrá-lo ele com a ex-namorada. Fiquei em coma também e Victor fez a mesma coisa que você, passou dias no hospital cuidando de mim. Converse com ele, faça ele sentir que você está aqui. Inconscientemente escutamos tudo que as pessoas falam.

Sorri para ela e, mesmo que ela não me confidenciasse isso era óbvio que eu o trataria como se estivesse acordado e não como um vegetal.

— Eu vou cuidar dele, Alexandra e logo ele voltará para nós.

Ela deu um beijo na testa de Christopher e saiu, as visitas dela eram sempre breves ela não conseguia ficar muito tempo olhando para ele naquele estado.

Puxei uma poltrona e coloquei bem ao lado da cama dele, sentei e fiquei segurando sua mão, a temperatura estava boa. Peguei meu celular e coloquei uma música do Kenny G.

E, durante a tarde eu li tudo que podia sobre pessoas em estado de coma ou em coma induzido, a cirurgia para retirar a bala tinha sido um sucesso, juntamente com a transfusão de sangue que o ajudou a se recuperar, mas Christopher sofreu duas paradas cardíacas e não sei por quanto tempo ficou sem respirar enquanto aguardava os paramédicos e, por esse motivo, continuava desacordado.

Nos últimos dias, Victor Uckermann infernizou todos os médicos e enfermeiros que pôde. Ele queria que o filho acordasse de qualquer jeito e acusava o estado vegetativo de Christopher de ser algum erro médico. Mas a verdade era que se negava a acreditar que o filho não quisesse acordar, então mandou uma equipe de médicos de fora do país examiná-lo.

O processo ocorreu por semanas e todos falavam a mesma coisa, o coma era resultado das paradas cardíacas e do tempo que o cérebro ficou sem oxigênio.

Já fazia mais de um mês que eu estava enfiada naquele hospital e Christopher não acordava eu estava triste, cansada, desolada, mas eu não perdia as esperanças eu me negava a acreditar que ele não fosse acordar.

— Dulce, filha, já faz um mês que você está enfiada nesse hospital, saia um pouco, nós sabemos o quanto você o ama, mas vai acabar ficando doente. — Pelas normas do hospital eu não poderia ficar tanto tempo ali, mas Victor tinha bastante influência e, toda vez que eles cogitavam me mandar para casa eu ligava para ele e as coisas se resolviam em um passe de mágica.

— Eu não consigo sair de perto dele, será que é tão difícil vocês entenderem isso?

Mamãe e papai fizeram a mesma cara de todos os dias e se deram por vencidos. Eles ainda não tinham voltado em definitivo, mas estavam vivendo no nosso apartamento e vinham ao hospital todos os dias. Meu pai sentia-se imensamente culpado e sempre falava que era para ele estar ali e não Christopher, no fundo, Deus o castigou da pior forma possível eu conseguia ver a culpa pesando em seus ombros.

Assim que eles saíram do quarto eu voltei a ler um livro de fantasia que Christopher adorava, tudo que eu lembrava que ele gostava eu pedia para que Alexandra me trouxesse e assim os meus dias foram seguindo, meio cinza, sem muita cor, mas, pelo menos ele estava vivo.

Hoje fazia exatamente dois meses que Christopher tinha sido atingido por aquele infeliz do Pablo que, se dependesse de Victor Uckermann, já estaria no corredor da morte. Ele foi preso no mesmo dia em que atirou no Christopher e foi espancado quase até a morte pelos seguranças de Victor. Eu não tive mais notícias dele, só sabia que estava em um presídio de segurança máxima e que todos os envolvidos em facilitar a fuga dele do hospital estavam presos. E, mesmo assim eu não me sentia melhor eu só viveria quando Christopher acordasse.


Victor Uckermann

Era comovente ver o quanto Dulce amava o meu filho, estava enfiada no hospital há dois meses e arrumava a maior confusão se alguém cogitasse mandá-la para casa. Aliás, ela arrumava confusão por tudo ela o tratava como se estivesse acordado, falava com ele, colocava as músicas e filmes que ele gostava e esses dias, a peguei fazendo a barba dele. Ficava brava se alguma enfermeira demorasse dando banho nele e, de tanto implicar com isso, pediu para que eu solicitasse enfermeiros ao invés de enfermeiras eu sabia exatamente o que ela estava passando e fiz tudo o que podia para tornar a vida dela melhor dentro de um quarto de hospital.

Os melhores médicos do mundo já tinham virado o meu filho de ponta cabeça e agora só nos restava esperar.

— Tem certeza de que não quer ir para casa? — perguntei pela décima vez. Estava um sábado ensolarado, seria bom para ela respirar um pouco de ar puro, mas a forma que me olhou já dizia tudo.

— Eu vou ficar, eu estou bem — disse, passando o pente pelos cabelos dele e alinhando da forma que ele gostava.

Alexandra tinha ficado a parte da manhã com ele e eu ficaria durante a tarde, sempre nos revezávamos, mas ela não, Dulce ficou todos os dias e noites com ele.

— Como foi o último dia em que se falaram?

Ela deu um sorriso fraco, pegou a mão dele e ficou acariciando.

— Ele mandou mensagem pedindo para eu ir até a sala dele eu achei que só iríamos almoçar juntos, mas ele estava estranho então imaginei que quisesse me pedir alguma coisa.

— E pediu? — questionei.

— Sim, pediu e eu quase enfartei — disse, dando uma risada triste e limpando o rosto.

— O que ele queria, Dulce?

Ela se virou para mim e seus olhos novamente se encheram de lágrimas.

— Ele queria um filho, Victor, Christopher me pediu um filho.

Senti uma mão esmagando o meu coração, tudo que eu mais queria na vida era ver meu filho apaixonado por alguém e desejando formar a sua família e, justamente quando isso aconteceu essa tragédia se abateu sobre nós.

— Eu fiquei apavorada e não soube o que falar, mas vi em seus olhos o quanto ele queria esse filho e eu... eu...

Ela começou a chorar e eu a abracei eu sabia o que ela estava sentindo. Eu, melhor do que ninguém, sabia!

O CEO dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora