Uma Imagem À Sua Altura, Minha Doce Nêmesis

VI. O prefácio da Tempestade Sempar

— Majestade — uma voz feminina e deliberadamente neutra, Fand, a chamou de seu estado de conjectura profunda, carregada e taciturna. — Lorde Severin e seus acompanhantes apresentam-se para a saudação.

Jude, de volta ao furor do salão, questionava quanto tempo seu aliado de data esteve esperando para que sua presença fosse reconhecida por ela.

Se Fand tinha decidido lhe dar um cutucão, provavelmente fora um período considerável e desorgulhoso em demasia para uma Rainha.

— Sim — Jude aquiesceu como se nada tivesse acontecido. Focalizou o grupo e analisou-o mais metodicamente. — Aproximem-se.

E assim o fizeram Severin, os possíveis irmãos e o possível feérico. Os quatro reverenciaram-na com uma arraigada mesura, os humanos ainda mais que o feérico de fato, em um óbvio sinal de admiração e respeito, arriscaria falar de idolatria até, para com ela. A constatação disso aliviara brandamente seu humor sombrio e, não obstante, fora de uma certa ajuda.

— Minha rainha, — iniciou Severin, após erguer-se. — aparenta distração mesmo perante uma festa como esta. Algo lhe perturba?

— Nada com que deva se preocupar, Lorde Severin. — polida, mas incisiva. Não distribuiria quaisquer rebentações da atmosfera jocosa que perdurava no ambiente com suas inquietações e, mesmo que não sob essa ótica, ainda não revelaria receio algum seu.

Felizmente, ele leu o que estava nas entrelinhas de sua fala e não insistiu no assunto.

— Suponho que a essa altura já esteja farta de louvores quanto à sua beleza.

— Supõe acuradamente — a soberana soltou um suspiro audível, glorificando a divindade que abençoou Severin com o mínimo de bom senso, embora tenha sido em detrimento de todos os outros aparentemente. — Condenarei à guilhotina o próximo que me vier com histórias semelhantes.

Severin e seu bando riram, entretanto, o primeiro sabia que não se tratava de uma piada por inteiro.

— Se lhe aprouver, gostaria de apresentar meus companheiros desta noite.

— Apraz-me, velho amigo — Jude sorriu ante os rostos ansiosos dos dois ruivos trajados de brocados no tronco e azul celeste nos olhos; o terceiro se conteve o bastante para que ela pensasse que a situação não o entusiasmava, Jude não fora uma grande espiã à toa, porém. Ela constatava, através do ligeiro tamborilar dos dedos dele na lateral das calças, sua inquietação. — Tem minha licença.

Severin gesticulou para o rapaz rubro dar uma passo adiante, e este o fez de pronto.

— Este é Ben, meu consorte. Acredito que o tenha visto um tanto antes da sanguinolência da maldita coroação, uma vez que ele certamente viu você, minha senhora.

— Sim. Lembro-me de um garoto ruivo em seu séquito. Também de recordo do enunciado "Você deveria dar um jeito nela", já que servos humanos enfeitiçados são mesmo sinistros.

A face do jovem comentado se iluminou.

— Sabia que aquela garota era a senhora, e também que era a mesma no acampamento — sorriu o rapaz tímido, mirando o chão com as bochechas coradas. — Gosto de saber que depois de tantas jogadas a senhora esteja entronada.

Foi a vez de Jude sorrir abertamente, impressionada com o dito do rapaz.

Severin aproveitou a deixa e para indicar a garota, que assumiu posição sem rodeios ao lado deles.

— E esta é Hazel, irmã mais nova de Ben e também uma cavaleira errante temporariamente jurada a mim.

Jude, que até o momento só ouvia educadamente o falante, passou a escutar com afinco. Uma cavaleira, correto? Uma cavaleira mortal. Uma cavaleira mortal a serviço de um verdadeiro Lorde das Fadas. Executou o que estava ao seu alcance no intuito de não interromper o próximo dito de Severin em sua curiosidade crescente pela mulher diante de si. Era a soberana suprema, sim. E justamente por saber quando se pronunciar era que estava ali, sob a coroa ou o que quer que estivesse adornando sua cabeça.