VII. Detém-vos na palma da destra, Grande Rei

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Um frisson de efervescência percorreu sua compleição física ao descer a pequena escadaria do estrado do trono, uma mescla de excitação e receio para com o que quer que estivesse prestes a acontecer.

Estava novamente entre os seus, e estes, uma vez mais, jogavam seus olhares em cima dela, apreciando-a às suas próprias maneiras: atônitos, cortejadores, invejosos e irados em um mar de expressões que não eram nada discretas em suas intenções, fossem quais fossem; Jude alegremente os ignorou, assentindo para um ou outro quando lhe bem convinha. Uma vez mais, também, abriam caminho para ela e para Cardan, à frente, ainda por guiar Ben, realizando breves mesuras em reconhecimento e respeito.

Hazel e Jack, felizes compartilhando sussurros um com o outro, jaziam rentes a Severin. Este, no que lhe tocava, mantinha-se polidamente de mãos dadas com a Rainha, de modo cavalheiresco, orientando-a através dos súditos afetados.

Não que ela precisasse de sua orientação, era somente uma cortesia a qual ela aceitou de bom grado.

Manobravam para o interior da câmara festiva, longe do bufê, das mesas que o acompanhavam e próximo da pista de dança. Em suma, adiante à pista e seus grupelhos sonoros.

Ela constatou um imenso número de pessoas navegando naquela área, porção suficiente para cobrir sua vista do que estivesse atrás dos mesmos. Aparentemente, alguns eram servos apressados, outros eram mortais agitados e alguns poucos, eram cortesãos curiosos. Os séquitos variados estruturavam uma espécie de faixa desorganizada que toldava seu ponto de vista atual, ela contemplou brevemente o que achou serem pés de madeira de um suposto palanque.

Uma apresentação ocorreria. Logo.

No movimento contínuo, observou a procissão silenciosa e furtiva que era a guarda real de Cardan dispersa através do salão, colocando-se em posições estratégicas para acudi-lo caso necessário. Em face de tantos presentes, ela via sua utilidade, embora o pensamento de ficar sendo vigiada e seguida aonde quer que fosse não lhe agradasse nem um pouco.

Justamente por esse motivo, o guardamento incômodo, ordenou à Fand e aos outros que permanecessem em seus postos.

— Jude — era Jack, um sorriso maroto desenhado nos lábios quando ela retornou seu olhar. — Que pensa estar planejado para hoje?

Ela sopesou a pergunta por um momento, momento esse em que avaliando os arredores novamente – como se buscasse uma nova peça para o quebra-cabeça, obteve outro pequeno insight. Agora rodeavam os bailarinos em sua arena e os bardos no entorno desta.

— Acho que Ben tocará para mim. Talvez em companhia de uma orquestra particular composta por instrumentistas peritos — ela sorriu quando outra ideia, esta de cunho romântico e extremamente imaginativo de sua parte (ou era o que ela pensava), lhe veio à cabeça. — Talvez Ben declame a pleno fôlego algum poema amoroso de Cardan para mim.

As faces do casal se iluminaram com a perspectiva, e Severin – também conhecido agora por Sevy, – se limitou a sorrir ladino. Jude concluiu que apenas o último conhecia as verdadeiras intenções do Grande Rei, já Hazel e Jack estavam ali só como plateia para qualquer que fosse o espetáculo.

— Só não entendo a razão de ser retirada do trono, eu teria uma excelente visão de lá.

— Sim, mas não sentiria o calor das palavras declamadas por Ben.

Jude olhou-o como quem carecia de explicações. Tinha acertado?

Severin, por um transitório período, apenas a encarou com seus passos cambaleando e quase fazendo-o tropeçar em si mesmo. Ele logo se recuperou, riu e apressou-se em explicar:

Uma Imagem À Sua Altura, Minha Doce NêmesisOnde histórias criam vida. Descubra agora