VIII. Revelado defronte dos teus olhos

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Sentada entre seus entes queridos, Jude fitava ansiosa as duas figuras no palco, focadas em meio ao breu pelas luzes dos holofotes, trajadas de negro e prata brilhantes e branco diáfano, respectivamente, Cardan e Ben – o último com um belíssimo violino em mãos.

— Isto — O Grande Rei principiou, referindo-se ao presente momento como se pudesse tocá-lo em um gesto expansivo, mirando-a abertamente. — é sobre seu período de exílio. E talvez um pouco sobre o agora também.

O confuso e expectante silêncio com a fala de Cardan por parte dos foliões fora cortado quando Ben fez soar a primeira nota a partir do instrumento de corda, límpida, em movimentos hábeis, notavelmente precisos, para logo revelar as próximas.

De rompante, uma música alegre e rápida preencheu o espaço, e um súbito suspiro atônito traçou a plateia pela espantosa perícia do mortal. Até mesmo Jude assustou-se ante tamanha habilidade.

— E ele ainda diz ter sido amaldiçoado — comentou Severin para ninguém em particular, a voz em um tom adorador ao observar seu amado.

Jude contemplava a agilidade dos dedos nas cordas e no arco, sentindo o reverberar das ondas sonoras passando por ela e fazendo germinar em seu peito e também nos de todos ali uma distinta sensação de euforia crescente, álecre, vivaz em decorrência do som deleitável e pujante. Naturalmente, a música das Fadas era dotada de um aspecto maravilhoso, e Jude recordava-se dos sentimentos trazidos por cada interpretação que escutou desde que chegara a Elfhame. Como quando Cardan decidiu a disputa entre dois músicos por uma harpa, ponderando, mediante apresentações de ambos, qual deles se sobressaia na arte do som e, portanto, qual ficaria com a harpa no fim.

Mas Ben era demasiadamente melhor que qualquer um que ela já tivesse ouvido. Seu dom/maldição estava encantando e enfeitiçando por completo os presentes que possuíam aparelhos auditivos para ouvi-lo, relegando-os a esplendorosos e poderosos sentimentos provenientes de suas mais belas lembranças, como se cada qual estivesse revivendo essas tais lembranças a partir de Ben.

Hazel sussurrou para a Rainha estupefata, tocando sua mão por cima da mesa:

— Foi por isso que fiz um acordo com o velho Alderking, pelo aprimoramento do meu irmão numa escola de música fora da cidade natal. Deixamos Fairford por um tempo, até ele decidir que não queria mais. — tal qual o cunhado, Hazel via-se admirada por Ben ao contar parte de sua história.

— Ele é realmente muito bom — ressaltou Taryn, segurando seu bebê hipnotizado pela figura de branco em movimento no palco. Jude achou uma graça a criancinha prestando atenção meticulosa à performance, com a boca aberta em uma apreciação bobinha.

— Devo concordar contigo, querida — respondeu Oriana, no mesmo estado que os demais se encontravam, assentindo uns para os outros em aquiescência e acrescendo suas próprias explanações acerca do assunto.

Jude permaneceu calada, mirando o mortal sem desviar os olhos, até que uma fala de Liliver a trouxe de volta à mesa.

— Gostaria de saber de onde nosso Grande Rei tirou essa ideia.

Sim, pensou Jude, fitando agora o marido, qual é o seu jogo, Cardan?

A luz cândida que o iluminava fazia com que o prateado de sua roupa tivesse o efeito de uma estrela incrivelmente cintilante no céu do mais profundo azul da noite. Os arabescos da túnica negra transformavam-se em ramificações sinuosas e radiantes de luz, compondo um desenho complexo e fascinante sobre o corpo do Rei.

E, qual uma deixa, o violino se acalmou e, após alguns instantes, passou a ser acompanhado pela voz grossa, jovial e ligeiramente ébria de Cardan, cantando harmoniosamente ao mesmo tempo em que encarava Jude e arrebatava a atenção de todos para si:

Uma Imagem À Sua Altura, Minha Doce NêmesisOnde histórias criam vida. Descubra agora