Teria Pandora pensado no que fazia ao despejar o conteúdo do jarro sobre o mundo? Ao banhá-lo no saber que desfaz o inocente para constituir o mal?
Teria Cardan pensado no que fazia ao retirar o manto de retidão carcerária de Jude? Ao revigorá-la ante o olhar perscrutador e ávido de seu reino?
Sim. Ou ao menos ele teria pensado que sim, que sabia como aquilo terminaria. A bem da verdade, havia planejado cada mínima jogada desde o princípio, sempre com vistas ao grandioso fim, a exemplo do que ela fez ao torná-lo rei.
Era chegada a hora de colher os frutos das sementes que plantou quando a fez concordar, quando a penteou, maquiou e trajou para o baile enormemente pomposo.
A Grande Rainha guiou-os colina adentro, abandonando os salões que se entregavam ao prazer de estarem vivos sem apresentar resistência alguma, salões esses repletos de humanos, fadas e demais seres mágicos que haviam ou não sido convidados. Porém, ainda que o tivessem idealizado em uma miríade de vezes, a realização daquele sonho – o sonho de união mortal e imortal – não importava no fim das contas. Eles se tornaram extremamente esmaecido ante Jude.
Nada mais importava a não ser a visão das costas nuas da soberana, onde pendiam seus cachos louros em cascata, o vestido cobrindo a pele no instante em que os olhos encontrariam a linha que separava as duas metades das nádegas. Nada mais importava quando Jude empregava tamanho poder num único passo – sim, era aquilo que ele via. Ele a via por completo em cada mínima ação.
Nunca a ludibriaria, enganá-la nunca fora sua intenção nem nunca seria. Ele era nada além de honesto para com ela.
Desde que ela o solicitara, suas ações de palavras foram nada além de honestas. Nenhum jogo fora feito com a intenção de prejudicá-la a partir daquele momento. E por isso, por já ter se passado tanto tempo, ele não pôde deixar de ficar um tanto magoado por ela achar que sim. Mas aquela era Jude. Jude Duarte Greenbriar, que fora traída não uma, não duas, não três, mas várias vezes. Taryn, Locke, Fantasma, Madoc, mesmo Eva e Justin a tinham feito de boba ao não contarem nada sobre o Reino das Fadas. Não fora a intenção dos pais da menina, mas foi o que a trouxe para cá em primeiro lugar, para um mundo tão avesso ao dela, um mundo que a maltratou, subjugou e inferiorizou quando tudo que ela queria um lugar para si.
Ela dera um lugar para si. Com ossos suficientes na história para cobrir a face de Elfhame, ela dera a si mesma o trono, a coroa, com o bônus, ônus, de um lugar especial nas fábulas contadas às novas e às velhas gerações, e o último dos filhos de Eldred poderia ou não se orgulhar do papel que tivera nisto tudo, nesta desenfreada e brutal ascensão sangrenta.
Enganava a si mesmo, contudo, aquele que idealizava estar escutando a lenda de uma assassina irrefreável, ambiciosa e cruel. Jude era isso, sim, mas também era um pouco mais. Jude não era somente uma assassina irrefreável, ambiciosa e cruel. Era também uma irmã, uma filha, uma esposa, muito mais além disso. Era também uma salvadora. Ele estava ciente da tentativa de resgatar Sophie, bem como estava ciente do desejo dela de tornar este lugar mais propício à presença humana.
Só que Cardan queria vê-la solta, vê-la como no dia em que ela se agachou sobre ele e os encaixou juntos pela primeira vez. Como ele amara aquela versão dela, uma versão que vencera aquela que, normalmente, exercia sobre corpo e mente um controle inexorável, tão inexorável quanto a lâmina sobrenatural da Excalibur, criação da Dama do Lago, Nimue, que por aquelas terras era a representação feérica máxima.
Sobretudo, almejava ardentemente que todos vissem o ser capaz de se deixar abater pela paixão, e abater a todos em consequência. Queria que eles o vissem ser tragado pelas chamas por sua própria vontade, queria que eles o vissem se reduzir a cinzas para depois ser tornar as próprias labaredas, labaredas essas que os iriam beijar, quer eles quisessem ou não, para levá-los junto quando se tornasse um genuíno e glorioso redemoinho de fogo, levando a tudo e a todos os outros que estivessem em seu caminho. Para lhes delinear sua loucura, e ascender a deles próprios em tal processo. Para fazê-los vivê-la de pico em pico do mesmo modo que Cardan quando Jude se permitia encontrar neste estado, destituída de seu estimado autocontrole, quando tudo que importava à sua mulher eram prazeres mais singelos, prazeres esses que nada tinham a ver com espadas banhadas em sangue quente, em nada tinham a ver com coroas ou trono.
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Uma Imagem À Sua Altura, Minha Doce Nêmesis
Fanficᴇsᴛᴀᴠᴀᴍ ᴀᴍʙᴏs ғʀᴇɴᴛᴇ ᴀ̀s ғᴀᴅᴀs ᴄᴏʀᴛᴇsᴀ̃s, ᴀ̀s sᴇʀᴠᴇɴᴛᴇs ᴇ ᴀ̀s ᴄᴀᴠᴀʟᴇɪʀᴀs ɴᴏ sᴀʟᴀ̃ᴏ ᴀʙᴀʀʀᴏᴛᴀᴅᴏ ᴘᴇʟᴀs ᴍᴇsᴍᴀs. ᴀᴍʙᴏs sᴇɴᴛᴀᴅᴏs ᴇᴍ sᴇᴜ ᴛʀᴏɴᴏ ᴄᴏɴᴊᴜɴᴛᴏ ǫᴜᴀɴᴅᴏ ᴏ ɢʀᴀɴᴅᴇ ʀᴇɪ ʀᴇsᴏʟᴠᴇᴜ ʟᴇᴠᴀʀ ᴀ ᴄᴏɴᴠᴇʀsᴀ ᴀᴏs ᴏᴜᴠɪᴅᴏs ᴅᴏs ᴅᴇᴍᴀɪs ᴘʀᴇsᴇɴᴛᴇs ᴇᴍ ᴜᴍᴀ ᴠᴏᴢ ᴄᴀʀʀᴇɢᴀᴅᴀ ᴅᴇ ᴍ...