01 | The storm

279 41 34
                                    

Seul, Coréia, dias atuais

Niki

Me arrumava pra ir pra escola como todos os dias. Vestia o uniforme do ensino médio, dava bom dia pras minhas irmãs e mãe e por fim comia qualquer coisa que estivesse sobrando, antes de pegar minha mochila, guitarra e partir pra escola discretamente.

Pegava o ônibus, sentado em qualquer canto, com meus fones de ouvido dentro do capuz que cobria a maior parte do meu rosto.

Eu era assim, invisível. Eu gostava de ser assim.

Ninguém me atrapalhava, eu fazia o que quisesse sem que ninguém percebesse. Quer dizer, eu apanhava uma vez ou outra por alguns babacas da escola, mas eu não me importava com isso.

Quando cheguei nesse país horrível, tentei ver o lado bom das coisas. Tinha esperança de encontrar uma vida nova, como a minha mãe falava.

Como eu estava errado.

Digamos que no começo, até foi assim. Minha vó nos recebeu muito bem e cuidou com carinho de nós, ela amava cuidar de seus netos. Nos ensinou muito sobre a vida aqui e sempre nos dava presentes. O resto da família também era simpático, mas isso foi antes da morte dela.

Assim que minha vó faleceu, o inferno que já havia passado, voltou da forma mais horrível possível.

Todos os familiares, antes simpáticos, mostraram suas verdadeiras faces. Eram preconceituosos, só pensavam em dinheiro, eram monstros.

Eles nos expulsaram da casa da vovó e minha mãe só conseguiu ficar com um pouco da herança, antes que tentassem tirar tudo de nós.

Nos mudamos para um pequeno apartamento, apertado, mas era o jeito. Comecei a me envolver em brigas, por constantemente me provocarem agora que estava sem o "título" da minha família. Zombavam da minha pronúncia esquisita, dos meus costumes, o fato de eu não ter um pai...

Essa época foi uma loucura.

Quando percebi o quanto isso entristecia minha mãe, decidi parar. Foi aí que comecei a ser invisível.

Era solitário? Era, mas eu já havia me acostumado.

Nunca tive amigos, pelo fato de já terem tirado proveito de mim quando se entitulavam meus "amigos" e eu não precisava deles também.

Chegando na escola, fui direto pra sala e me dirigi até ao meu lugar no canto do fundo, assim como gostava. As pessoas não pareciam notar a minha presença ali e o professor também não. Assim, ficava horas escrevendo partituras e escutando músicas novas até o sinal bater e eu poder ir pro meu lugar favorito da face da Terra.

A sala abandonada de música.

Eu sei, parece meio esquisito. Mas lá não tinha ninguém, nunca tinha. O prédio inteiro estava abandonado e a acústica era perfeita. Passava mais horas, escrevendo partituras, cantarolando e jogando acordes soltos na minha guitarra.

Eu me imaginava num palco, em meio a multidão, apresentando meus últimos sucessos.

Isso era meio estranho para uma pessoa invisível, certo? Sim, eu tenho que admitir. Mas, ser invisível quando se é odiado por todos é bom. Já, se eu fosse amado por todos, um pouco de atenção não seria ruim.

Assim seguiam os dias com a fantasia do garoto solitário.

Eu acordava, ia pra escola e passava a tarde inteira fazendo música com a minha própria companhia. Era divertido até.

Chegando em casa, eu cumprimentava todos e já ia direto pro meu quarto. Sim, eu tinha meu próprio quarto.

Com o passar dos anos, minha mãe começou a trabalhar cada vez mais pra conseguir uma vida melhor pra nós. Assim, agora morávamos em um apartamento levemente maior, ainda não era muito grande, mas pelo menos tinha três quartos.

The sunshine of my storm | SUNKIOnde histórias criam vida. Descubra agora