Capítulo VIII

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Estava muito quente, muito quente. Diego sentia seus olhos arderem enquanto sua respiração ficava difícil e ofegante a cada passo que dava. De longe ele escutava gritos e pessoas correndo entre a fumaça turva que impedia ele de ver qualquer coisa a sua frente.

_yog! yog!! _ as pessoas gritavam a palavra em Romani que significa fogo. Crianças choravam e uma menina que devia ter uns três anos segurou a barra da sua camisa, ele olhou para frente sentindo o desespero de não conseguir ter nenhuma relação.

Uma mulher com longos cabelos negros e com a feição de choro se aproximou correndo, disse algumas coisas em câmera lenta, palavras que ele não conseguia entender como se estivesse perdendo o sentindo.

Ela pegou Diego em seus braços, carregando em seu colo enquanto ele observava o rosto das pessoas sofrendo ao fundo.

Com a respiração ofegante Diego acordou, seu coração estava acelerado, como se aquilo tudo fosse real. Seu corpo suado pela luta daquele pesadelo fez com que o lençol ficasse completamente molhado _ Ov yilo isi! (está tudo bem)_ disse para ele mesmo em romani tentando afastar o medo.

Sua respiração aos poucos foi voltando ao normal. Uma lágrima fria desceu pelo seu rosto, ele não sabia se aquilo tinha realmente acontecido ou se era apenas um pesadelo.

Mas não conseguiu voltar a dormir naquela noite.

                                      ~~~

O barulho do relógio ao fundo tirava o silêncio da sala até a porta se abrir.

_ Chegaram algumas cartas, Sir Diego. _ Castello adentrou o escritório do Pub Gold Lion colocando as Cartas sobre a mesa.

_ Sei que algumas não podem ser do seu interesse. Mas três dessas cartas me parecem muito atípicas. _ o homem falou se retirando em seguida.

Diego coçou sua barba e espreguiçou seu corpo, estava cansado. Não tinha dormindo bem e seu dia seria mais longo que o normal.

Pegou o punhado de cartas e começou a folhear, contas do Pub, arrendatários do seu pai... mas que diabos! Esse deveria ser a responsabilidade de Anthony não sua.

A seguinte carta era do Lord Wessex, Diego abriu rapidamente:

"Prezado Sir Cavendish,

Venho através desta te agradecer mais uma vez pela ajuda em relação ao pagamento das minhas dívidas. Não sabe o alívio que foi poder ficar livre de tantos problemas.

Minhas esposa te agradece imensamente a ajuda e te convidou para um chá em minha casa nessa sexta feira. Você será muito bem vindo. Mas infelizmente não estarei aqui.

Além disso, gostaria de te informar que, Lord Shelly fará um encontro no próximo final de semana em sua casa de campo. Todos da nobreza estarão presentes, pedi para que colocassem seu nome na lista de convidados. Ele conta com sua presença.

Att, Lord Wessex"

Diego riu, então a esposa dele estaria interessada em um chá em sua companhia? Ela era uma vadia mesmo. Diego deixou um sorriso sem vergonha no rosto e colocou a carta sobre a mesa, pegando a seguinte.

A próxima carta era de Madamme Adria, a mulher era proprietária do maior cortiço de Londres e sempre que podia levava belas meninas para o Pub. Uma não lavava a outra.

Mas uma carta dela nunca tinha boas notícias, até porque, as boas notícias ela gostava de entregar pessoalmente fazendo uma comemoração no Pub.

" Meu querido e charmoso, Sir Cavendish.

Envio esta carta para te contar uma notícia que pode ser boa ou não para você. Mas suponho que seja.

Ouvi de alguns comerciantes locais que uma enorme caravana de Roms estaria chegando em Londres por esses dias.

Não sei em qual propriedade eles vão montar acampamento, mas aviso desde já que não se fala em outra coisa na cidade!

Alguns comerciantes estão se cagando de medo, outros que também possui a mesma origem que você estão em comemoração.

Não sei se são seus parentes que virão, mas quis te dar essa notícia de primeira mão.

Levarei as meninas esse final de semana no Pub. Esteja presente. Quero te ver.

Beijos quentes e molhados para você, meu cigano."

Diego respirou fundo, suas mãos passaram por seus cabelos diversas vezes. Uma caravana está vindo a Londres. Eles não se lembrava qual foi a última vez que viu um grupo grande de ciganos por ali, mas ele ainda era adolescente quando escutou sobre uma notícia parecida.

Agora ele estaria mais uma vez, tendo a oportunidade de estar pessoalmente com sua origem. Um arrepiado frio subiu pela suas costas. Seria esse o motivo do pesadelo essa noite? Ele já estaria sentindo a presença deles? Havia anos que não tinha um sonhos assim.

Colocou a carta sobre a mesa e se aproximou pegando a última. Ele passou os dedos sobre o papel, a caligrafia era delicada e feminina. Quando virou a carta se deparou com o nome da remetente "Sophia Portman".

Não era possível.

Seu coração começou a bater em disparado com ritmo constante. Os dedos firmes abriram o papel de forma bruta, ele estava muito curioso com aquela correspondência e sem dúvida era totalmente atípica:

"Sir Diego Cavendish,

Sinceramente, não sei porque estou escrevendo essa carta e imagino que, caso alguém me veja mandando uma correspondência para você serei esfolada viva por minha mãe.

Mas o que gostaria de dizer é que, desde o dia que nos conhecemos eu percebi que você é um TREMENDO CAFAJESTE sem qualquer senso de cavalheirismo. E espero, no fundo de todo o meu ser, não te ver novamente.

Mantenha distância!

Att, Sophia Portman.

Ps: Na dúvida, voce não me conhece e essa carta foi enviada por engano!"

Diego soltou uma gargalhada observando aquela carta, ele estava realmente se envolvendo com uma menina de dezenove anos saindo da puberdade, Santo deus!

E claro, ela estava interessada nele, nada mais nítido do que isso. Enviar uma carta, somente para dizer que quer distância, significa que ela quer ele por perto, lógico.

Porém, talvez não fosse isso e de fato ela quisesse distância dele. Mas Diego não se entrega tão fácil e não desiste do que quer assim, não mesmo.

Não que ele estivesse interessado em corteja-la. Na verdade, ele não tinha esse interesse, sabia que se essa vontade existisse seria tempo perdido e coração machucado.

Mas ele tinha um interesse nela, Sophia era linda, com belas curvas. E ele nunca tinha sentindo tanta vontade de seduzir uma jovem indefesa da nobreza, até conhecer ela.

Deslizou o dedo sobre a escrita dela, tão delicada e meiga, não sabia o que a esperava. Ele pegou um papel preparando para respondê-la prontamente, seria divertido atiçar aquele pequeno anjo.

O CavendishOnde histórias criam vida. Descubra agora