Capítulo 4

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No outro dia, acordei novamente com o Felipe me abraçando. Ele estava por cima do meu corpo, com as pernas entrelaçadas as minhas e os braços ao meu redor.

Raiva e alívio foi o que eu senti naquele momento. Alívio porque um abraço significava que talvez ele não me repudiasse, que aquilo podia ser encarado com naturalidade. Raiva porque eu me culpava pelo o que tinha acontecido. Eu era neurótico e acumulador de sentimentos negativos, encarava a situação como se, de alguma forma, eu o tivesse induzido a isso. Sentir novamente o contato de seu corpo junto ao meu só fazia eu me sentir mais atraído por ele e isso me deixa perdido.

Aproveitei e passei o braço por baixo, trazendo seu corpo ainda mais para perto, seu pescoço ficou muito perto da minha boca e não resisti e cheirei sua nuca. Ele acordou serenamente, seu olhos verdes me encararam, ele sorriu discretamente e enterrou seu rosto em meu pescoço, continuando abraçado comigo, adormecendo novamente.

Eu entrei em pânico, não sabia como agir, não conseguia interpretar sua forma de agir. Aos poucos fui me esquivando e saindo de baixo dele e quando consegui e levantei da cama eu ouvi ele dizer:

-Onde você vai cara?

Não olhei para trás, somente fui andando em direção ao banheiro, pegando uma toalha pendurada na parede.

-Vou tomar banho.

Fechei a porta e respirei fundo. Agora eu sabia que deveria ter muito cuidado com o que eu fizesse, com o que eu falasse e principalmente queria sacar o que ele pensava e sentia, eu estava travado e não conseguia antecipar nenhuma de suas atitudes.

Quando saí do banho notei que ele já tinha arrumado tudo e estava sentado na poltrona ao lado da cama, só de bermuda e com a outra toalha na mão. Era mais que notável que ele estava bravo, a cara amarrada não negava.

-Só vou tomar um banho e podemos ir embora - ele disse seco, sem olhar na minha cara e eu tomei coragem e fui arrumar as minhas coisas também.

Ficou um clima chato entre nós, clima que durou todo o trajeto da volta para casa. O silêncio reinou entre nós e eu não me atrevi a puxar assunto por um bom tempo.

Por fim, quando chegamos em nossa cidade eu perguntei:

-Quer que eu te deixe em casa?

-Não precisa, só me deixa perto de qualquer estação de metrô que tá bom.

-Então vou te deixar perto da minha casa, beleza?

-Ok.

Fui fazendo o caminho, que durou ainda mais uma meia hora. Quando cheguei na rua do metrô eu disse:

-Espera, antes de você ir, acho que precisamos acertar algumas coisas.

Ele me olhou, franzindo a testa, e arqueou a sobrancelha direita, em sinal de questionamento.

-O que aconteceu lá, ficou lá, certo? - perguntei com a voz baixa.

-Como você preferir - ele disse e em seguida saiu do carro e bateu a porta.

Meu coração afundou mais alguns centímetros dentro do peito e observei ele entrar dentro da estação.

Fui pra casa me sentindo um lixo, não sabia o que pensar, como agir. Só sabia que estava perdido. Me apaixonei por ele, se é que já não tinha me apaixonado antes sem perceber. Eu estava na mais profunda e fedida merda.

Durante toda minha vida, eu nunca me permiti sentir algo por alguém, sempre estava bloqueado para sentimentos, bloqueado para me envolver emocional e romanticamente com as pessoas. Me ver ali, sem saber o que fazer era desesperador, eu não sabia como administrar o que eu sentia por ele. Pensar nele, no jeito meigo, tímido, responsável, que ajuda os pais, que estuda, todo certinho me deixava louco. Eu queria pega-lo, abraça-lo, beija-lo e ao mesmo tempo queria arrancar a roupa dele, com a mesma facilidade que ele mesmo arrancou no outro dia. Queria dizer que estava tudo bem, que ficaria tudo bem, que eu cuidaria dele e ajudaria ele no que ele precisasse.

Meu LutadorOnde histórias criam vida. Descubra agora