Vocês vão me matar eu sei, já estão reclamando nos coments mas pode vir, eu aguento. Sei que estou em falta com vcs. Tudo minha culpa. Tô sem moral para pedir desculpas, então dessa vez não vou tentar. Obrigada pela paciência!!!!
Honra é uma coisa que não é possível adquirir. Você não pode moldar a honra, não se empresta, é uma coisa que, ou você a tem, ou nunca terá. Ela faz parte da construção de caráter do ser humano, faz parte dos valores e moral adquiridos através de nossa criação, experiencias e vivencia.
Nunca me considerei uma pessoa honrada. Sempre fui um covarde de carteirinha e além disso sempre possuí um lado sombrio. Acho que eu sempre usei uma máscara, algo que escondia quem eu era e ao longo do tempo essa máscara se tornou várias. Ser homossexual não era o "x" da questão nesse caso, o lado sombrio correspondia a tudo aquilo que eu escondi durante anos dos meus pais. O problema é quando esse lado resolve sair, daí não há santo que aguente.
Na minha vida eu errei muito, aprontei bastante e fiz coisas das quais não me orgulho nem um pouco. Nos meus dias de ouro, em que eu era um lutador em ascensão com propostas de olimpíadas no boxe, patrocínios, viagens e prestígio, me envolvi com uma galera barra pesada e passei por coisas que eu ainda não havia superado completamente.
E tudo isso que aconteceu era relacionado com aquele lugar: O Castelinho. Quando Felipe me falou novamente daquele lugar em que eu quase assinei meu próprio atestado de óbito tantas vezes eu senti náuseas.
Fui um jovem inconsequente, sem rumo e sem propósito e quando se é assim não é muito difícil se envolver no crime. É uma coisa natural, que aparece, olha para sua cara, sorri e te abraça como um velho amigo.
Aos 19 anos me envolvi com muita coisa, entre elas tráfico de drogas, prostituição e jogo. Sempre fui um adolescente inconsequente, problemático e brigão, que encontrou na luta uma forma de crescer pessoalmente, mas por mais que as oportunidades boas surgissem, o lado negro sempre me pegava. As escolhas que fiz na época me levaram a esse caminho e tudo começou com uma luta clandestina ali, outra aqui e de repente eu estava no pior cenário possível, devendo grana para máfia coreana, espancando pessoas e cobrando favores.
Tudo degringolou quando fui recrutado por um grande "importador" - leia-se contrabandista - da região da 25 de Março, um coreano que comandava o cartel da pirataria, quando houve o boom da comercialização pirata de CDs. Ele se apresentava como empresário mas na verdade era um dos maiores criminosos da América Latina. O conheci numa luta no castelinho em que quebrei o nariz de meu adversário. O cara era aficionado em artes marciais e era um figurão, tratado como um rei, cheio de superstições, comia carne de cachorro e tinha orgulho de sua cultura, falava que brasileiro não prestava, que éramos folgados.
Ele começou a acompanhar as lutas que eu ganhava e fazia dinheiro em cima de mim com as apostas, dizia que eu tinha um demônio em mim e que eu derrubava qualquer um com um belo chute frontal no meio do esterno. Mas, como sempre, tudo mudou quando eu banquei o arrogante e considerei vencida uma luta que ainda não tinha acontecido. Resultado: perdi feio e o Chung-Ho também perdeu muita grana. Ele me ameaçou porque queria a grana que ele perdeu de volta, daí fui obrigado a fazer alguns trabalhinhos para ele, que incluíam espancar pessoas, quebrar uns dentes e até mesmo ajudar a ocultar cadáveres.
As pessoas não tem ideia de como é composto o grande comércio de importados da 25... É um negócio que movimenta alguns bilhões de dólares por ano, sendo que mais de 80% do lucro não é colocado na folha de impostos. Em 90 a 25 foi o centro da pirataria do Brasil, disputando pau a pau com o Paraguai e ganhando dele muitas vezes. E é aquela velha história, se tem pirataria, tem crime, tem arma, tem assassinato e principalmente: tem imigrantes.
A rua 25 de março é composta por vários tipos diferentes de povos: chineses, coreanos, japoneses, libaneses, chilenos, mas jamais confunda bolivianos com peruanos e árabes com turcos, isso dá morte. Esses povos são compostos por famílias, verdadeiros clãs mafiosos que competem entre si para eleger seus representantes no conselho. Sim, existe um conselho off topic e eles brigam por quase tudo, mais espaço, mais vendas, mais visibilidade, quem vai falsificar a próxima bolsa de grife e por aí vai. A sonegação vira fichinha perto de todo o esquema de pirataria, falsificação e apropriação de propriedade intelectual indevida.
A propina rola solta e quando digo isso não me refiro a peixe pequeno não, estou falando do alto escalão das polícias, principalmente a Federal e os governantes da cidade de São Paulo. Todos são coniventes porque recebem para isso.
Foram dois anos trabalhando para máfia, dois anos de pura escuridão e podridão. Consegui sair apenas porque por um acaso do destino, presenciei o rival de Chung-Ho assassiná-lo. Para me manter vivo tive que praticar a boa e velha política da boa vizinhança com a chinesada. Quem o matou era um chinês, que eu ainda sei que está no poder até hoje, eles tinham problemas pessoais e de negócios, as más línguas diziam que o Chung-Ho comeu a chinesa mulher do outro e isso tinha sido uma desonra para a família. Ele também precisava provar para as outras famílias que ele tinha tomado o poder e eu, como braço direito de Chung-Ho era a pessoa mais indicada para contar a morte que presenciei. Confesso que não tive escolha, fui intimado a fazer isso, mas barganhei minha liberdade em troca e também o status que nunca mais seria importunado por alguém de lá.
Teve alguns que desconfiaram, outros me chamaram de traidor porque acreditavam que eu estava envolvido. Não cabia em felicidade quando eu saí de lá... Logo em seguida conheci a Silvia, o que me deu outros rumos na vida, mas lutar boxe pelo Brasil nas Olimpíadas deixou de fazer parte da minha realidade. A Silvia nunca nem sonhou a respeito disso assim como meus pais. As vezes encontrava alguém do passado, era inevitável, mas meu nome sempre foi respeitado e eu nunca fui importunado, mesmo sendo considerado um traidor.
Quando Felipe me contou que tinha pisado lá no Castelinho, onde todo o pesadelo começou para mim, eu não sabia como agir, não sabia como interpretar minhas próprias emoções. Eu não queria ele lá, principalmente, porque eu sabia que naquele lugar a grana era fácil e tentadora, ele poderia muito bem se transformar em algo que ele não era.
Fiquei dois dias sem dormir, inventei uma gripe e deixei o Adriano cuidando de tudo. Não suportava mais pensar, bebi muito, fiquei de ressaca, vomitei horrores, estava um caco. Na noite do terceiro dia resolvi tomar uma atitude, percebi que o melhor era conversar com ele.
Eu tinha que contar tudo o que aconteceu, tudo o que eu passei e eu não poderia decidir por ele, a escolha era dele, a vida era dele, se ele queria aquilo quem era eu na fila do pão para julgar?
Tomei um banho e parti rumo à casa dele. Toquei a campainha e a mãe dele atendeu, toda feliz e me abraçando.
-Paulo, que bom que veio! O Felipe anda tão triste ultimamente! Entra conversa com ele, nem comer direito ele tá comendo.
Eu sem graça fui entrando e ela me disse pra ir para o quarto dele, eu fui bati na porta e entrei.
Ele estava deitado na cama, olhando para cima e quando me viu sentou-se na cama e olhou para o chão. Ainda era possível ver as marcas em seu rosto e mãos. Sua mãe ainda disse mais algumas palavras e saiu do quarto fechando a porta. Meu coração batia feito uma bateria de escola de samba. Eu puxei a cadeira da escrivaninha e me sentei.
-Preciso te contar umas coisas.
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Meu Lutador
RomanceHistória homoerótica em que todos são bem vindos a acompanhar! ------------------ E se aquele que você sempre procurou, estivesse lá, do seu lado ao tempo todo? Paulo é um professor de Educação Física, campeão de Muay Thai e proprietário de uma acad...