-Eu sabia!!! Você não me engana Paulo! - Silvia ria da minha cara e batia na mesa.
-Para de ser chata! - assumi o tom brincalhão, tomando um gole do meu chope.
-Paulo, tava na cara! Mas e agora, você vai assumir ele? Vocês tão tipo, sei lá, namorando?
Murchei igual uma flor na hora em que ela disse isso. Não tinha essas respostas e também não era a meu intuito perguntar por medo do que eu iria ouvir. Queria simplesmente ficar com ele, fosse o que fosse, acontecesse o que acontecesse. Só não era possível afirmar algo que naquele momento era inconcebível: O que e quanto eu queria?
Silvia rapidamente percebeu minha desorientação e emendou:
-Ok, não vou pressionar, mas vocês já são íntimos, ficaram, até brincaram de professor e aluno – ela disse brincalhona e eu a olhei feio – tá, tudo bem, vou parar. Só quero dizer que você precisa estar preparado para dizer a ele o quanto você gosta dele e o quanto você o quer na sua vida. Se você não fizer isso por si, ninguém nunca o fará.
Ela estava certa, mas minha covardia fez com que e apenas concordasse com a cabeça, agradeci mentalmente quando mudamos de assunto. Passada mais uma hora, levei Silvia para casa e nos despedimos daquela noite de terça-feira. Eu estava cansado, mas sem sono, por isso decidi vagar pelas ruas do bairro, andando devagar.
Relembrei as mensagens que eu e ele trocamos durante a segunda-feira inteira. Conversamos sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo, deixando o assunto do cinema para depois. Meu coração se aquecia ao relembrar as palavras e ao mesmo tempo o alívio em poder compartilhar com alguém meus sentimentos era supremo.
O resto da semana passou de forma ritmada, sem grandes acontecimentos. Eu falei todos os dias com Felipe, conversamos sobre as provas dele, trabalho, treinos, era fácil dialogar com ele, o assunto fluía. Eu queria muito vê-lo, ansiava por beijá-lo novamente, mas não quis transparecer nada, por isso me segurei. Como ele não se pronunciou também, decidi que passaria o fim-de-semana com os meus pais e o avisei sutilmente sobre isso. Ele confidenciou que passaria o sábado e domingo estudando para uma prova de segunda, mas que a noite ele treinaria. Foi difícil aceitar a princípio, mas sosseguei meu coração.
No sábado fiz compras com a minha mãe, revi meus tios e no domingo foi aquela churrascada boa e momentos assim me faziam lembrar como era bom aproveitar a família e de como era importante passar momentos com eles. Fui embora da casa deles com dois potes de compota de doce de figo e com a promessa de visitas menos espaçadas.
A segunda foi preguiçosa e passou lentamente, mas quando eu dei por mim já era hora do treino do Felipe. Fui arrumando os sacos, as cordas e o material de treino quando escuto a porta do tatame se abrir e bater. Eu estava ajoelhado, separando elásticos e me levantei num pulo, virando em direção ao som daqueles passos que eu tanto conhecia.
Meu oi foi sufocado instantaneamente quando olhei para rosto dele.
-Mas o que te aconteceu? - Gritei, largando todos os elásticos e cordas e indo em sua direção.
Ele congelou, com os braços abertos, me olhando.
-Tentaram me assaltar hoje.
-E só agora você me conta isso? Você reagiu? Não é para reagir a assaltos... – fui falando aos poucos enquanto o encarava. Notei seus hematomas, as marcas, o olho roxo, o nariz cortado e os lábios inchados e de repente a verdade bateu em minha cara – Opa, pera aí, Felipe, quando foi esse assalto?
-Hoje! - ele hesitou – tentaram pegar meu celular quando eu ia pro metrô, daí revidei sem pensar, eram dois caras e eles me bateram.
Eu suspirei audivelmente e olhei para o chão. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo.
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Meu Lutador
RomanceHistória homoerótica em que todos são bem vindos a acompanhar! ------------------ E se aquele que você sempre procurou, estivesse lá, do seu lado ao tempo todo? Paulo é um professor de Educação Física, campeão de Muay Thai e proprietário de uma acad...