Prólogo

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19 de fevereiro de 2010

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19 de fevereiro de 2010

A dor latejava forte em minha cabeça, fazendo com que eu sentisse a necessidade de me esconder em algum buraco qualquer.

Mantenho meus olhos fechados, me focando nos sons de alerta que os auto falantes soltavam, avisando que o próximo voo sairia em breve.

Era lastimável me ver naquela situação. Estando sozinha em um aeroporto com malas gigantescas ao meu lado, indo embora de um país que havia residido nos últimos cinco anos.

Não me arrependia de ter escolhido vir para Inglaterra, já que era impossível encontrar um curso de excelência sequer parecida com a que a Universidade de Oxford havia me disponibilizado.

Mas ao mesmo tempo, estava feliz de ir embora, de estar finalmente livre de todas as minhas obrigações como a filha da minha mãe.

Aquela era a última vez em que ela teve controle sobre as minhas decisões. A última vez que a deixei fazer o que desejasse por medo de sua desaprovação. A última vez que o seu choro me convenceria a mudar todos os meus planos de vida.

E por fim, a última vez em que eu me doparia com medicamentos para esquecer o quão fraca e covarde eu era quando tinha de a encarar.

Marina Sinclair não foi a pior das mães. Na verdade, todos sempre disseram que era a melhor.

Ela me deu toda a infraestrutura que uma criança precisaria para viver, e estava sempre observando as minhas ações, de forma rigorosa. Controlando cada um de meus passos, tentando se estender até os meus pensamentos.

Eu tive inúmeras agendas de organização, conheci muitos países, aprendi mais de três línguas, fui a festas da alta sociedade, aprendi a tocar instrumentos musicais, a dançar, a discursar.

Aprendi como devia me vestir, me portar, como andar, como comer, como pensar, como respirar.

E ali estava eu, depois de tudo isso, no declínio dos meus 21 anos, preparada para fugir da minha mãe e voltar a cidade em que passei alguns verões de minha infância a adolescência.

A procura de algum resquício de vitalidade, algum resquício de quem um dia eu já havia sido, se é que eu já fui algo além de uma mera extensão dela.

Mesmo com a visível cratera que Marina deixou em minha mente, depois de tantos anos de manipulação e tortura psicológica. Devia reconhecer que ela me ensinou tudo o que eu precisava.

Como administrar meu dinheiro, como agir em casos de crise, quais eram as melhores escolhas, em quem confiar, como controlar minhas emoções, como ser uma pessoa racional.

E foi assim que consegui fugir de suas garras, quando estive em outro país e pude cultivar minha própria fortuna, longe de seus olhos curiosos e controladores.

Fui observando todas as suas táticas e utilizando delas para conquistar tudo o que eu queria. Mesmo que de forma lenta e gradual, por cima de toda aquela dor, era a única maneira.

Finamente eu tinha me tornado independente, podia fazer minhas escolhas e ser quem eu queria ser. Eu mal podia acreditar.

Mesmo que isso tivesse me obrigado a abrir os olhos para quem era a pessoa que me criou. Uma mulher narcisista, claramente destrutiva e incapaz de amar qualquer coisa.

Meu celular vibrou, mostrando o seu nome na tela.

Minha mãe havia me ligado pelo menos 15 vezes desde o momento que revelei a ela que não voltaria a Nova Iorque, e que não queria vê-la, nunca mais.

Desliguei arrastando o dedo pela tela, rapidamente destravando o celular e indo até meus contatos, clicando em seu perfil e apertando em bloqueio.

Estava fazendo o que não tive coragem de fazer quando cheguei a maioridade, e aquilo estava sendo reconfortante, como se me sentisse um pouco menos morta do que antes.

Os auto falantes reproduziram um som, me fazendo desviar o olhar do celular para tela logo acima, percebendo que meu avião estava prestes a decolar.

Me levantei o mais rápido possível e comecei a puxar as malas comigo, com certa dificuldade. Felizmente eu havia me mantido perto do portão de embarque, o que me custou menos tempo e esforço.

Tinha esperanças de que estava fazendo a coisa certa. De que aquela escolha me faria colher bons frutos, que a minha definição de existência pudesse ser diferente daqui para frente.

Eu precisava que fosse.

Eu precisava que fosse

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