Barulho de ambulância, vozes desconhecidas e passos apressados. Sinto um cheiro - nada agradável, aliás - de hospital. Estou no escuro e minha cabeça dói. Posso sentir uma luz forte atravessando minhas pálpebras, mas não consigo abrí-las.
-Carter. Aysha Carter Maktub. - escuto uma voz dizendo. E é o meu nome, embora eu prefira simplesmente, Amy. Meu avô começou a me chamar assim porque segundo ele "Aysha é um nome muito difícil de pronunciar." e quando me dei conta, Amy já era meu nome.
-Eu sou o pai dela. Richard Carter. - outra voz responde. A voz do meu pai... Não me é familiar, não o vejo há anos, mas ainda a reconheço, grave e potente.
-Me acompanhe, por favor.
Devo estar tendo algum tipo de sonho sem imagens. Bem, somente cegos de nascença têm essa capacidade (ao menos foi o que vi num documentário da Discovery Channel, tempos atrás). Possibilidade descartada. Consigo sentir meu corpo, então concluo que estou dormindo, tento abrir os olhos novamente, sem sucesso, também não posso me movimentar. Logo uma sensação de impotência e desespero toma conta de mim. Tento me concentrar, respiro fundo e consigo me levantar, me sinto bem, muito bem na verdade. Estou de frente para o médico e o meu pai, que parecem ignorar completamente a minha presença. Algo me parece estranho, sobretudo quando escuto as seguintes palavras:
- Senhor Carter, durante o acidente a sua filha bateu a cabeça e teve um trauma grave. Ela está em coma, com traumatismo craniano, e necessita passar por uma neurocirurgia imediatamente.
-Ei! - resolvo chamar atenção- isso é algum tipo de pegadinha?! - não me lembro de nenhum acidente, na verdade a última coisa que me lembro é de estar dirigindo para o aeroporto. Aproximo-me e toco no braço do médico, que não esboça reação. Consigo tocar os objetos, mas não movimentá-los, tento falar com meu pai mas ele parece não me escutar. Estou em choque, sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo, temo pelo pior, não me viro, tentando adiar o inevitável. Fecho os olhos, respiro fundo e chacoalho a cabeça insistentemente para me certificar que se trata de um pesadelo. Ainda de olhos fechados eu me viro e entro novamente no quarto e então, abro os olhos. - Eu morri... - sussurro, como se alguém ali pudesse me ouvir.
Dentro de um quarto de hospital, está o meu corpo. "Aysha", (ironicamente no meu caso) significa "aquela que está viva", sempre imaginei o meu nome como uma garantia de vitaliciedade, e ali estava eu, morta. Eu tinha uma teoria: independente dos assuntos pendentes que se tenha na Terra, só morremos quando nos sentimos prontos, completos. Eu sei, é uma merda de teoria. E eu não me sinto pronta, nem de longe. Talvez isso tivesse a ver com uma outra palavra peculiar presente em meu nome, também herdado de minha família materna: Maktub, que significa "já estava escrito". Claro, porque "Aysha" não era suficientemente embaraçoso, eu tinha que ser batizada como Aysha Maktub. Na opinião da minha mãe, um nome forte e cheio de personalidade. Na minha opinião? bem, embora a maioria das pessoas soltassem uma risada baixa ao ouví-lo, os árabes com quem eu fechava alguns negócios constantemente consideravam-no bonito, então posso afirmar que meu sobrenome árabe servira para algo, afinal.
Então grito o mais alto que posso, tentando convencer-me de minhas palavras - Eu morri! Então é isso? - olho pra cima, não sei exatamente se estou me dirigindo a Deus, há muito tempo não falo com ele. - Acabou? e agora? vai ter um filme idiota sobre a minha vida e uma luz branca ? pode mandar...
-Não, você não morreu! - disse uma outra voz. Engraçado, sempre imaginei que Deus tivesse uma voz masculina... mas aquela voz era surpreendentemente familiar... a voz da minha mãe, que morreu há seis anos. (Eu sei, há algum tempo atrás eu também diagnosticaria como louca qualquer pessoa que me dissesse isso). Lá estava ela, encostada no batente na porta. Seu perfume imediatamente exalou pelo ambiente, e eu, inconscientemente sorri.
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Second Chance
Romantizm"Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração." É um dos conceitos do dicionário para a palavra: Amor. Talvez você queira uma definição menos técnica. Pois bem, dir-te-ei que Camões acert...