capítulo 15

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Heloísa Sampaio

Custo a acreditar que estou ouvindo exatamente o que sai da boca do meu ex marido nesse momento, com quem eu tinha acabado de ter uma recaída nada planejada.

Agora quem está achando que eu tô doida, sou eu!

Conhecendo Stênio como só eu conheço de uma vida inteira, sei muito bem que essa sua sugestão é muito mais do que só a vontade de suprir nossos desejos como homem e mulher. Cafajeste que só ele, conseguiria uma loira por esquina pra resolver essa questão.

E eu não fico muito atrás, e ele sabe disso. Talvez tenha sido justamente esse desconforto de imaginar o outro tendo que recorrer à terceiros para suprir desejos que podem ser supridos entre nós dois, não é?

— Até parece que isso iria funcionar, ô Stênio. — dei risada, só de pensar na possibilidade. — Te conheço, meu filho. Te conheço muito bem.

Era eu pisar em falso e ele já estaria enfiado dentro do meu apartamento, com um par de alianças e uma mala à tiracolo. Mais um casamento, os mesmos convidados e o ciclo se iniciando novamente.

Sou nem besta.

— Já faz um tempo que eu ando praticando isso e tem dado muito certo, você que pensa que eu não consigo fazer isso.

Precisei de alguns segundos pra assimilar tudo que ele estava me falando, com a maior cara lavada do mundo, com se não fosse nada demais o fato de ele manter uma relação casual com outra mulher.

Me deu até palpitação, sem exagero.

— Praticando? Praticando com quem? — me virei de uma só vez na sua direção, completamente indignada e sem conseguir esconder o meu choque com essa informação.

O advogado deveria estar me testando, só podia ser. Se ele estivesse realmente se envolvendo com alguém, ele teria comentado com Creusa, que teria me falado sem querer.

Será que essa mulher é a mesma que ele tinha encontrado hoje mais cedo quando saiu?

Eram tantas perguntas que eu acredito estar à beira de enlouquecer, de cair durinha na sua frente.

— Importa com quem? Tô te falando que eu não sou mais o mesmo de quando nós éramos casados... Você mudou, eu mudei e é isso. — deu de ombros como se não fosse nada demais, mas eu continuava o olhando como quem espera uma resposta. — Uma cliente minha, Helô. Não é ninguém que você conhece.

Não iria fazer mais perguntas por agora, mas com toda certeza essa informação ficaria guardada na minha mente e eu tentaria descobrir mais sobre isso depois. Fosse com Creusa, fosse com Drika.

— E como funcionaria isso?

Vou ter que ser sincera e assumir que apesar de ter tido alguns casinhos enquanto estava divorciada, dificilmente os homens com quem me envolvi tinham a mesma pegada de Stênio. Nós podemos ter todos os problemas do mundo, mas na cama nos entendemos muito bem.

Em apenas uma transa na cozinha do seu apartamento, ele tinha me deixado mais excitada do que qualquer outro tentou. Além de ter me feito gozar mais de uma vez em poucos minutos.

Esse é um efeito que apenas Stênio Alencar tem em mim, e eu não posso ignorar isso.

Ele deu de ombros, como se também não soubesse muito bem como fazer isso funcionar.

— Sei lá, Helô. Não pensei muito bem em como isso funcionaria... — falou até meio sem graça, passando a mão pelos fios grisalhos. — Sendo sincero, eu sugeri isso em um golpe de sorte, não achei que você fosse aceitar.

Tive que rir da sua cara de bobo ao dizer isso, achando tudo muito engraçado. Parecia que eu estava vivendo em outra realidade.

Em que mundo eu imaginaria estar morando com Stênio depois do segundo divórcio, tendo uma conversa sobre sexo sem compromisso após nós dois termos transado como nunca na cozinha do seu apartamento? Irreal demais.

— Exclusividade talvez seja uma boa. — falou do nada ao perceber o meu silêncio. O olhei curiosa, querendo entender melhor o que ele dizia. — Nós transamos sem camisinha... A gente nunca foi acostumado a transar com proteção, você sabe.

Fiquei pensativa em relação à essa sugestão, talvez até mesmo um pouco apavorada. Ser exclusiva de Stênio era atestar que nós estamos juntos de alguma forma, e para isso se tornar algo muito maior era só um respiro errado.

— Acho melhor não... Por enquanto, não. — respondi rapidamente antes que eu desistisse, mas tive que deixar  meu medo do futuro falar mais alto do que o meu ciúme em imaginar ele com outras enquanto está comigo. — Você tem suas mulherzinhas, eu tenho os meus também. Não vai funcionar dessa forma não.

Percebi que ele se abalou um pouco com a minha fala, mas era bom que assim ele não cria toda uma ilusão na sua cabeça, acreditando que nós dois vamos ter algo além de sexo.

Preciso me manter o mais distante romanticamente possível dele, só assim eu vou conseguir me proteger desses sentimentos apavorantes que ele me causa. Nem que pra isso eu tenha que abrir mão de algumas coisas, como ter exclusividade com ele.

— Se você prefere assim... — deu de ombros como se não fosse nada demais, voltando a esconder todos os sentimentos que ele tinha demonstrado por um instante pra mim. — Só sexo e nada mais.

Confirmei com a cabeça, sabendo que essa era a melhor escolha para nós dois. Assim, ninguém saíria machucado por criar sentimentos que não devem mais existir entre nós.

A parte sentimental fica pra quando estivermos em momentos de família, junto da nossa neta e da nossa filha. Entre nós dois, é melhor sobrar apenas o carnal mesmo.

— Sem chameguinho, sem conversinha afiada. Só sexo e pronto. — afirmei mais uma vez, não querendo deixar margem pra engano em relação à isso.

Já tinha me machucado mais de uma vez com Stênio, e não queria dar espaço para uma terceira. Ainda mais quando nossa relação está tão boa depois de Serena, onde nós conseguimos nos entender e viver em harmonia.

O sexo já iria bagunçar tudo o suficiente, não precisamos piorar ainda mais.

— Você que manda, delegada. — falou sério, como quem não concorda com o que diz, mas não tem pra onde correr.

Para quebrar o clima de enterro que tinha ficado ali, causado obviamente por mim e pelo meu medo de me entregar aos meus próprios sentimentos, decidi que precisava mudar o foco da conversa antes que tudo desandasse.

— Vamos tomar um banho? — me utilizei da minha voz mais manhosa enquanto andava em direção ao banheiro, descendo o roupão pelo meu corpo bem lentamente.

Olhei para trás a tempo de vê-lo olhando quase que em câmera lenta cada ação minha, tombando a cabeça de lado para observar melhor o meu corpo que agora estava nu.

— Vem junto? — chamei com a voz e com o dedo indicador, e não demorou muito pra sentir o seu corpo grudado no meu pelas costas.

— Não precisa pedir duas vezes, delegada.

Sua respiração quente sussurrada no meu pescoço, somada ao seu corpo enorme grudado ao meu, era tudo o que eu precisava pra terminar a noite da melhor forma possível.

Mesmo que eu não queira assumir isso em voz alta, me acalma o fato de eu saber que terei muito dele pelos próximos dias. Pelo menos enquanto eu estiver morando de favor aqui, dormindo na sua cama e dividindo tudo com ele.

No fim, não tinha sido uma péssima escolha aceitar essa sugestão maluca de sexo sem compromisso com o meu ex marido (por duas vezes).

Hora ou outra a gente sempre acaba caindo na cama do outro, então, o certo é aproveitar enquanto dura.

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