capítulo 46

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Heloísa Sampaio

— Dá tchau pra mamãe e pro papai, Nena. — falei, segurando a criança em meu colo na frente da casa de praia.

Depois de um final de semana bem animado entre nós cinco, Drika e Pepeu precisaram voltar para a cidade por conta do trabalho. Mas Stênio deu um jeitinho de convencê-los a deixar Serena conosco por mais alguns dias, pouquíssimos, já que ela não podia faltar tanto da escola.

— Tchau mãe, tchau pai. — a criança mandou beijo para os dois, que já aceleravam o carro em direção ao fim da rua.

O advogado aproveitou o fim de tarde para ir ao mercado, para comprar tudo que nós três pudéssemos precisar para os próximos dias. 

Afinal, nosso estoque não contava com uma pirralha super exigente que não come qualquer coisa que a gente oferece.

— Vamos sentar lá na praia até o seu avô voltar? — perguntei, recebendo um aceno positivo da pequena.

Coloquei ela no chão, estendendo minha mão na sua direção para irmos juntas.

Desde o dia que chegou aqui, Serena parecia encantada com tudo. Com a vista, com a piscina, com o mar tão pertinho, com todas as pessoas ao seu dispor, fazendo todas as suas vontades.

— Olha que lindo o Sol se pondo, Nena. — me sentei na areia, sem me preocupar em estar sujando minha roupa, apontando na direção do Sol.

— Nossa, vó! Que lindo! 

Criança realmente é uma coisa fora de série, né? Ela toda pequenininha, tendo reações super exageradas como toda menina da sua idade.

Era fofo de ver.

— Muito lindo, meu amor. — sorri pra ela, enquanto a ajudava a se sentar do meu lado. — Você tá gostando de ficar com a gente esses dias? Com a vovó e o vovô?

Depois da conversa de adultos da primeira noite da nossa filha aqui, eu e Stênio ficamos matutando diversas ideias de como começar essa conversa com ela.

Não queríamos simplesmente jogar a informação no seu colo sem saber se ela iria gostar, se acharia normal nós estarmos juntos ou se aceitaria numa boa. A verdade é que nós somos dois medrosos, que estão apavorados com a reação de uma criança de 5 anos.

Mesmo que eu tenha quase certeza de que ela vai adorar a novidade, os traumas causados em Drika ainda assombram minha mente e isso é difícil de apagar.

Não queria repetir os mesmos erros com ela, de novo não.

— Uhum. — ela me olhou com aqueles olhos gigantes tão iguais ao do seu avô, castanhos e profundos. — Eu gosto quando a gente fica junto, todo mundo assim.

Apesar de sempre deixarmos nossos desentendimentos de lado para que ela tenha a melhor vida possível, nem sempre nós conseguimos. Vez ou outra eu sumia por uns dias porque precisava respirar, ou ele desaparecia porque eu tinha dito algo que ele não gostou.

E isso, claro, sempre afetou um pouco nossa relação com Serena, mesmo que odiássemos essa situação.

— Fazia tempo que nós não ficávamos juntos mesmo... Tava com saudade também. — comentei leve, sentindo meu peito calmo. — Acho que a gente pode fazer isso mais vezes, né? Eu, você e o vovô.

Tentava puxar o assunto de uma maneira leve, que ela não percebesse de imediato o que eu estava tentando fazer. Mas eu precisava do mínimo sinal dela, qualquer coisinha que fosse, como garantia de que tudo ficaria bem.

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