capítulo 26

910 89 70
                                    



Stênio Alencar

— O que a gente faz agora? — deixei que meus pensamentos intrusivos tomassem forma, quebrando o silêncio que tinha se instaurado no quarto depois de tudo que fizemos.

Ter Helô mais uma vez na minha cama foi como ter voltado a respirar ar puro, voltar à normalidade após dias de completa confusão. É insano como essa única mulher é capaz alterar completamente o meu humor e a minha vontade de viver a vida.

Só Helô, sempre ela.

A delegada, diferentemente do que eu imaginava, estava com uma feição leve. Sequer parecia preocupada com o que faremos daqui em diante, como se já soubesse de tudo.

— Sei lá, Stênio. — deu de ombros, deitando a cabeça no meu peito enquanto acariciava minha barba. — Tu tem essa mania de querer ter a resposta pra tudo na mesma hora que as coisas acontecem, né? 

Os papéis tinham se invertido entre nós dois mesmo, parecia até coisa de filme. Enquanto eu sempre fui o mais calmo, sempre centrado no que era certo a ser feito, ela era o oposto. 

Mas agora, quem está a beira de colapsar por não saber como as coisas serão daqui pra frente, sou eu.

Acho que tudo isso é medo de perder ela de novo, pela terceira vez. Sofri tanto nos nossos divórcios, pela solidão de não ter com quem compartilhar a vida, por ter encontrado a mulher pra mim e ter deixado ela escapar por tão pouco.

Não queria passar por aquilo de novo, nunca mais.

— Eu só não quero ter que passar pela sensação de te ver saindo com outro homem na minha frente, de ver você falando de mim como se fosse a pior coisa do mundo nós estarmos juntos. — apesar de ser dolorido, essa é uma conversa que precisamos ter.

Por muito tempo aceitei ser tudo que Helô sempre utilizava como adjetivo para mim, todas as reclamações, os xingamentos e desconfianças. Mas agora, depois de velho, não tenho mais sanidade para isso.

Quando eu decidi que era tudo ou nada, também me referia a isso.

Helô levantou um pouco do meu peito, se apoiando nos próprios cotovelos para me enxergar melhor.

— Me desculpa por isso. — ela parecia muito sincera em seu pedido, até mais do que eu imaginava que alguém durona como ela poderia ser. — Eu errei muito com você e você também errou muito comigo, nós dois já fizemos bastante coisa errada nessa vida e isso não é novidade, Stênio. — ela colocou uma das mãos no meu rosto, deixando um carinho ali. — A gente precisa começar do zero pra fazer isso dar certo.

Abri um sorriso tão bonito, daqueles que brilham a quilômetros de distância. 

— Como se nós ainda estivéssemos na faculdade nos conhecendo pela primeira vez? — aliviei um pouco o clima com a brincadeira, não querendo que nossa noite acabasse por um assunto sério desses.

— Só que sem os hormônios aflorados e a puberdade. — ela brincou de volta, sorrindo tanto quanto eu.

O clima estava tão leve entre nós dois, que eu só poderia pedir que as coisas continuassem dessa forma por muito tempo. Mas eu também sei que somos explosivos, que nem sempre tudo será nessa leveza.

Estar com a mulher que você conhece mais que a si mesmo tem dessas, a gente sabe muito bem como as coisas vão ser dali em diante.

Porém, faria o impossível para não cometer os mesmos erros do passado e não deixar que ela faça isso também.

ChamegoOnde histórias criam vida. Descubra agora