capítulo 16

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Stênio Alencar

Passou-se alguns dias desde o momento que decidimos seguir com aquela loucura de sexo sem compromisso, que aliás, tinha sido ideia minha. Ideia que surgiu em um momento de desespero da minha parte, ao me dar conta que estava deixando Heloísa soltinha demais para outros homens.

A ideia não deu muito certo quando percebi que ela não iria querer seguir adiante com a questão da exclusividade, mas para um bom advogado, meio passo se transforma em um passo inteiro.

Então, vinha fazendo o impossível para que não restasse nenhum dia livre na sua agenda para que ela saísse com outros homens. Não dava nem chance dela pensar nisso, nem cogitar.

No meio da semana, dias em que ela estava mais cansada pelo trabalho, me fazia presente da forma que dava. Oferecendo massagens, banhos quentes e sendo o ombro nada amigo que ela precisava.

E aos finais de semana me utilizava da maior arma possível para mantê-la perto de mim: Serena. Aprovetávamos pra curtir nossa neta, deixando-a conosco praticamente o final de semana inteiro.

Precisamos usar as armas que temos, e é exatamente isso que eu estou fazendo.

Mas ela vinha se tornando cada vez mais fria depois das nossas transas, como se tentasse se prevenir de algo.

— Cê conseguiu convencer a donelô a ir no sambinha hoje, dotô Stênio? — a voz de Creusa me tirou dos meus devaneios, enquanto eu terminava de comer a comidinha que ela tinha esquentado pra mim.

— Ih... acho que ela não vai querer ir, não. Ainda mais que já são quase oito e ela nem chegou ainda. — dei uma garfada na lasanha deliciosa que ela tinha feito, quase ajoelhando aos pés de Creusa para agradecer, de tão gostoso. — Tô pensando em ir sozinho, faz tempo que Laís tá me puxando pra ir lá e eu sempre furo com ela.

A verdade é que eu estava cansado da forma que Helô vinha me tratando, apenas como um pedaço de carne. Nós transamos e ela me expulsa do quarto, não querendo ficar nem perto depois do sexo.

Entendo que o combinado era esse e eu que tava querendo demais dela, mas eu também não precisava me submeter a tal coisa.

Então, iria aproveitar desse sambinha na vila para tentar atiçar alguma coisa nela, nem que fosse o ódio. Era muito melhor do que toda essa insignificância que ela vem demonstrando em relação a nós dois.

Só torcia pra que ela não resolvesse se vingar de mim, saindo com outro homem ao invés de ir atrás de mim no samba. Aí eu ia me lascar em dobro, mas valia o risco.

— Vai sim, viu dotô Stênio. Lá é cheio de mulher bonita pra você dar uma paquerada.

O destino é tão bom comigo que bem na hora que a frase saiu da sua boca, eu senti o perfume de Helô invadir minhas narinas, indicando que ela havia acabado de chegar.

Tudo conspira ao meu favor, ainda bem.

— Onde é que vocês dois tão querendo se meter, ein? — ela chegou dando um beijo na testa de Creusa e me cumprimentando com apenas um aceno de cabeça.

— Dotô Stênio vai no samba lá na Vila hoje, donelô. — a maior casamenteira do Brasil comentou, fazendo um sinal com a sobrancelha de quem entendeu meu jogo e iria me ajudar.

O lado bom de ter a maranhense do meu lado é que eu sempre vou ter uma aliada para tudo, seja para o bem, seja para o mal.

— Ah... Vai? — tenho que assumir que ela até tentou parecer desinteressada, mas foi péssima no papel. — Tu não tinha me falado nada.

— A Laís ficou o dia todo no meu pé insistindo, que eu acabei resolvendo ir. — não era totalmente mentira, mas eu estava enfatizando os fatos ainda mais pra parecer que tinha acontecido exatamente dessa forma.

Já tinha aprendido que com Helô as coisas só funcionam dessa forma, deixando-a em um beco sem saída até o ponto em que ela precisa assumir o que sente, o que a incomoda.

Nós não tínhamos combinado efetivamente de fazer algo hoje à noite, mas já era previsto que eu ficasse aqui com ela já que Creusa iria sair. Quando a empregada sai de casa, era sempre os momentos que nós aproveitávamos para curtir o apartamento sem medo de sermos pegos no flagra.

Mas eu estava a deixando bem acostumada demais, aceitando qualquer migalha e deixando que ela pisasse em mim.

— Entendi. — deu de ombros, fingindo desinteresse. — Vou tomar um banho que eu estou morta de cansada.

Deixei que ela saísse do cômodo, ajudando Creusa a terminar de limpar o restante das coisas do jantar, deixando um prato para a delegada no microondas.

— Pode ir pro seu sambinha, amor da vida. Já já eu te encontro lá.

Após me despedir de Creusa, fui até o quarto onde Helô estava dormindo para separar a roupa que eu iria colocar depois que eu tomasse o meu banho.

Deixei estendida na cama uma das minhas camisetas de sair, para não amassar.

— Camisa nova? — ouvi a voz da delegada assim que a porta do banheiro se abriu. — Nunca te vi usando ela.

— Acho que é, não me lembro. — óbvio que eu sabia que era nova, e que nunca tinha usado perto dela.

Cada ação minha era muito bem calculada para ter o resultado que eu queria, ou que eu esperava que ela fosse ter.

Se no fim ela cagasse pra mim, seguindo sua vida normalmente, eu que me lasque passando o resto da vida apaixonado por alguém que não me quer.

Metade da vida já tinha sido assim, viver o resto dessa mesma forma não parecia tão ruim.

Tomei um banho rápido, com medo de ficar tarde demais pra sair. Saí do banheiro e encontrei a delegada sentada na cama, com um livro em mãos, seus óculos de grau no rosto e o cabelo preso em um coque frouxo.

Seu olhar se direcionou até mim no mesmo instante, me olhando de cima a baixo, enquanto eu só tinha uma toalha cobrindo metade do meu corpo.

Fingi que não estava percendo seu olhar curioso, começando a trocar de roupa ali mesmo, na sua frente.

Não é como se ela já não tivesse decorado toda essa vista de fora a fora.

Passei quase um litro de perfume em meu corpo, assim que terminei de me vestir e arrumar o me cabelo com o secador, fazendo questão de deixá-la com meu cheiro impregnado em cada canto daquele quarto.

De um jeito ou de outro ela iria ter que pensar em mim, independente da circunstância.

— Pra que tanto perfume assim? Vai encontrar sua peguete lá?

Nesse momento tive que ser muito forte e não deixar uma risada sair do fundo da minha garganta, achando muito engraçado como ela se esforça para fingir não ligar para mim.

Mas ela bem que merece um susto de vez em quando pra ver se toma jeito, e assume de uma vez por todas que morre de ciúme de mim.

— A Leila mora lá perto mesmo... vai saber se eu não dou sorte hoje. — voltei a ajeitar minha camiseta como se minha fala não fosse nada demais.

Afinal, eu tinha proposto que ficássemos exclusivos do outro. Ela quem não quis e ainda vêm me tratando feito um qualquer depois dos nossos momentos juntos, então, nada mais justo que eu procurar em outra o que ela insiste em me negar.

Ou pelo menos é isso que eu quero que ela acredite, porque sendo sincero... não sinto interesse nenhum em alguém que não seja ela.

Meu mal é ser fiel à ex.

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