capítulo 38

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Stênio Alencar

Não sei explicar o que deu na minha cabeça de simplesmente jogar tudo para o alto e fazer algo que eu nunca fiz, abandonar o barco.

Fosse esse o barco de um amor que nunca seria correspondido da forma que eu esperava, fosse esse o barco de comandar um escritório inteiro junto da minha sócia.

Abandonei tudo de uma vez, como se eu pudesse me dar ao luxo de fazer isso.

Recentemente tinha comprado uma casa de praia em Búzios, no intuito de ter um lugar pra visitar com a minha família e quem sabe, levar ela. Os planos não deram muito certo, mas pelo menos eu tinha um refúgio pra onde correr quando não quero ter que lidar com meus próprios problemas.

Um lugar onde ninguém sabe a existência, onde eu posso ficar sozinho pra lidar com as minhas próprias chateações.

No fim, tinha valido a pena ter comprado essa casa. Pelo menos eu conseguiria me refugiar por aqui até ter cabeça suficiente pra voltar para a vida real, uma vida sem Helô.

Será que eu ainda sei ser eu mesmo sem ela? Não sei, mas vou ter que descobrir.

Acho que é hora de começar a criar novas memórias em novos lugares sem ela, viver a minha vida sem pensar nela o tempo todo.

Porém é tão difícil, é inevitável não pensar em como tudo seria ainda melhor se ela estivesse aqui.

Mas ela não está.

Heloísa Sampaio

— Helô, isso pode dar problema pra você. Problema de verdade. — Yone falava pela milésima vez, mas eu sequer conseguia ouvi-la.

Já faziam três dias do sumiço de Stênio, três dias que não tínhamos nem sinal dele. Não deu notícias pra mim, pra Creusa e muito menos para a própria filha.

E isso estava me deixando mais nervosa e inquieta que o normal, ao ponto de fazer a única coisa que eu nunca fui capaz de fazer.

Cometer uma imoralidade dentro da delegacia.

— Yone, eu já te disse que não me importo. Eu vou utilizar de todas as armas que temos aqui para descobrir onde ele está, não me importa se vão descobrir e eu vou me ferrar. — eu estava irritada, muito mais que o normal.

Quem diria que ficar longe da pessoa que eu sempre mandei pra longe, me deixaria no meu pior estado.

— Eu preferia quando você deixava o seu lado racional falar mais alto... — consegui ouvir seu resmungo, e eu não poderia concordar mais com ela.

Porém, é assim que as coisas são.

Stênio é uma das únicas pessoas nesse mundo capaz de me fazer cometer uma loucura, de ir contra tudo que um dia jurei que jamais faria.

Ele me tira a paz, o sossego, a calmaria. Mas esses dias sem ele tem sido terríveis, mais do que eu poderia imaginar.

— Vou ligar pra alguns amigos dele, pra ver se sabem alguma coisa. — avisei já com o telefone na mão. — Me avisa assim que liberarem as outras informações que eu pedi.

Eu estava realmente fazendo de tudo para encontrar seu paradeiro, sem medo de ser pega pelos meus parceiros da delegacia.

Não estava fazendo nada ilegal, mas sim antiético. Muito antiético.

Estou usando o meu poder e o acesso que eu tenho à diversas informações para uso pessoal, pra tentar encontrar aquele maldito advogado.

Já tinha descoberto que saído do país ou entrado em um avião, ele não tinha. O que diminuía, e muito, o raio em que eu deveria procurá-lo.

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