23 - O sabor amargo de um adeus

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Kira

O Havaí era mesmo tudo aquilo que diziam. Um lugar ensolarado, cheio de turistas. Nós fomos para Honolulu, um verdadeiro paraíso localizado na ilha Oahu. A paisagem cosmopolita da ilha, com suas praias urbanizadas e arranha-céus à beira-mar, dificilmente caberia no imaginário de quem sonha com um Havaí tropical, calmamente isolado na imensidão do Pacífico.

O bairro que escolhemos morar foi Aina Hana. Um bairro seguro cheio de muito verde. Tudo que a gente precisava.

O imenso azul do oceano parecia não ter fim. Tio Hiei arrumou uma casa para nós de frente para a praia. O lugar era lindo e aconchegante. A sala espaçosa, com um sofá branquinho, muitas vidraças, uma TV. A cozinha era conjugada com a sala, balcão, pendentes. Armários planejados na pia. A casa tinha três quartos, dois banheiros e uma suíte. O lugar era maravilhoso. Tinha até piscina. Porém Ren ainda estava triste.

Eu não podia julgar. Eu havia tirado ele de um lugar que ele estava se acostumando. De novo. E para piorar, longe de pessoas que ele amava e do pai que ele havia acabado de conhecer. Ren ficou quase uma semana sem comer direito.

Eu me aproximei dele em seu quarto e sentei-me ao lado dele na cama. Ren, que estava deitado, apenas virou-se para o outro lado.

— Filho, conversa com a mamãe. — O silêncio dele era doloroso para mim. — Meu amor, você tem que comer. A mamãe fez soba, você gosta tanto.

— Eu quero ir para casa.

— Meu anjo, aqui é nossa casa agora. Vai levar um tempo para você se adaptar. Eu até contratei uma professora que dá aulas em casa que é japonesa. Vai aprender inglês com facilidade.

— Eu não quero nada. Quero meu avô, meu papai Gyu, meu pai de verdade. Quero meus colegas de classe, brincar com os meninos da casa do vovô Hiei. Por que mãe?

— Ren...

— Por que a gente vive fugindo? É por causa do meu avô Hanzo?

— Não, é por causa do seu pai. Ele é um homem forte e nós apenas seríamos um fardo.

— Meu pai nunca diria isso! — O olhar de Ren era de ódio e eu não podia fazer nada. — Eu nem pude me despedir! Por que mãe? Por que?

Ren chorava tanto que eu não pude não chorar junto e mais uma vez sentimentos de culpa, remorso e arrependimento. Eu o abracei forte, mas ele desviou do meu abraço e se afastou de mim sentando-se em frente a vidraça.

Tive que marcar com uma psicóloga, sem dar muitos detalhes do que eu realmente fazia. Ren nunca soube de fato o que era meu trabalho. Eu queria que ele tivesse sempre uma visão mais positiva de mim.

Lógico que a psicóloga chamou minha atenção e exigiu que eu também fizesse uma terapia. Algo que não foi uma tarefa fácil. Tocar em assuntos delicados e que eu preferia guardar a sete chaves. Mas, eu fiz isso pelo Ren. A mulher que escolhi também tinha ascendência japonesa para facilitar a comunicação com o Ren. A primeira coisa que ela pediu foi que eu arrumasse algo para fazer e me perguntou porque eu não tinha um emprego. O que fazia sentido. Eu e meu filho, sozinhos do outro lado do mundo com dinheiro sobrando sem trabalho nenhum. Explicar a ela que eu era uma ex-assassina que ficou milionária arrancando corações de inimigos seria algo muito complicado.

Resultado? Abri uma loja esotérica próximo da nossa casa. Eu comprava e vendia antiguidades de origens sobrenaturais. Amuletos, selos, espadas, velas, incensos entre outras coisas. Maldições também existiam aqui, mas havia poucos feiticeiros, a maioria mal treinada e pouco desenvolvida. O que acabou se tornando também um dos meus trabalhos.

A minha loja se chamava The Phantom Dragon. Uma alusão a minha antiga alcunha que por muito tempo foi temido nos bairros de Seul. Aos poucos a loja foi fazendo a clientela. Era incrível a quantidade de pessoas que buscavam ajuda para lidar com as maldições que rondavam elas. The Phantom Dragon acabou ficando famosa.

Dragão FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora