Harmonia Proibida

Capítulo 9: A Encenação

ZARA

A madrugada estava fria e o silêncio era quase absoluto quando Lily parou o carro em frente à casa de Leo. Eu não conseguia pensar em nada além de vê-lo, de beijá-lo, como se isso pudesse, por um breve momento, afastar a confusão em que nos metemos. Ainda estava aninhada nos braços dele, absorvendo seu calor, quando as luzes de um carro se aproximando me fizeram congelar. Era Victor. Meu coração deu um salto. Ele não podia nos ver juntos.

Com um último olhar para Leo, entrei no papel que precisávamos desempenhar. Saí apressada, atravessando o portão com passos largos, fazendo o melhor para parecer descontrolada.

— Você me deixa louca, Leo! — gritei, tentando canalizar a frustração de semanas de estresse e manipulação.

Leo entrou no jogo como se estivesse ensaiado, a expressão dele se transformando em uma mistura de raiva e mágoa. E, por um segundo, mesmo sabendo que era fingimento, aquilo doeu.

— Eu te deixo louca? Zara, você que não sabe o que quer! — respondeu, sua voz alta o suficiente para ecoar pela rua, como queríamos.

A dor nos olhos dele me pegou de surpresa. Sabia que era teatro, mas uma parte de mim sentia que havia mais ali. Apertei os punhos, tentando me concentrar.

— Eu não sei o que quero? Você é quem vive me pressionando! — retruquei, tentando ignorar a expressão de choque no rosto de Lily, que assistia à cena de dentro do carro.

Foi nesse momento que Victor se aproximou com aquele andar pomposo de quem tem o mundo nas mãos. O sorriso arrogante no rosto dele me dava náuseas. Logo, os vizinhos começaram a abrir suas janelas, sempre curiosos com qualquer movimentação fora do comum.

— Que cena interessante — ele disse, cruzando os braços e nos observando como se fôssemos marionetes em seu show particular.

Leo se virou, continuando com a atuação impecável.

— Victor, está feliz agora? Está vendo o que você causou? — gritou, com uma amargura que, por um segundo, me pareceu genuína.

Eu precisava entrar na onda.

— O que você está fazendo aqui, Victor? — perguntei, minha voz cheia de falsa indignação, tentando manter o tom forte enquanto por dentro meu coração acelerava de verdade.

Victor riu, um som frio, vazio.

— Só vim ver como as coisas estavam... e, honestamente, estou adorando o que estou vendo. Continua assim, Leo. Zara, quem sabe agora você finalmente entenda quem é o verdadeiro problema aqui.

As luzes da casa de Leo se acenderam, e meu coração disparou ainda mais. Seus pais, é claro. Eu sabia que eles estavam prestes a aparecer.

— Eu não preciso de você me dizendo o que fazer, Victor! — retruquei, com toda a raiva fingida que pude reunir. Na verdade, uma parte de mim realmente queria gritar aquilo, mas por outros motivos.

A porta da casa de Leo se abriu, e lá estavam seus pais, com expressões de preocupação e confusão. O estresse da situação fazia meu peito apertar, mas eu não podia ceder.

— O que está acontecendo aqui? — a voz grave do pai de Leo ressoou.

Victor, com seu ar de superioridade, deu de ombros.

— Apenas um lembrete amigável do contrato, Zara. Sua carreira está nas minhas mãos. E Leo, uma dica: mantenha distância. Zara não é garota para você.

Ele se virou para sair, satisfeito com o caos que havia provocado. Assim que o carro de Victor desapareceu na rua, toda o drama acumulado desabou em mim. Caí nos braços de Leo, incapaz de segurar as lágrimas. Tudo parecia surreal.