Sem querer, transformei alguém em pó pt.2

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Eu sabia o que vinha a seguir.

Disse a Hanna para ir andando. Então me voltei para o professor.

-- Senhor?

O sr. Hedge tinha aquele olhar que não deixa a gente ir embora - olhos castanhos intensos que poderiam ter mil anos de idade e já ter visto de tudo.

-- Você precisa aprender a responder à minha pergunta - disse ele.

-- Sobre os titãs?

-- Sobre a vida real. E como seus estudos se aplicam a ela.

-- Ah.

-- O que você aprende comigo - disse ele -- é de uma importância vital. Espero que trate o assunto como tal. De você, aceitarei apenas o melhor, Skyla Jackson.

Eu queria ficar zangada, aquele sujeito me pressionava demais. Quer dizer, claro, era legal em dias de torneio, quando ele vestia uma armadura romana, bradava ― Olé!! e nos desafiava, ponta de espada contra o giz a correr para o quadro-negro e citar pelo nome cada pessoa grega ou romana que já viveu, o nome de sua mãe e que deuses cultuavam.

Mas o sr. Hedge esperava que eu fosse tão boa quanto todas as outras a despeito do fato de que tenho dislexia e transtorno do déficit de atenção. Não- ele não esperava que eu fosse tão boa quanto; ele esperava que eu fosse a melhor.

E eu simplesmente não podia aprender todos aqueles nomes e fatos, e muito menos escrevê-los direito.

Murmurei alguma coisa sobre me esforçar mais, enquanto o sr. Hedge lançava um olhar longo e triste para a estela, como se tivesse estado no funeral daquela menina.

Ele me disse para sair e comer meu lanche. A turma se reuniu nos degraus da frente do museu, de onde podíamos assistir ao trânsito de pedestres pela Quinta Avenida.

Acima de nós, uma imensa tempestade estava se formando, com as nuvens mais escuras que eu já tinha visto sobre a cidade. Imaginei que talvez fosse o aquecimento global ou qualquer coisa assim, porque o tempo em todo o estado de Nova York estava esquisito desde o Natal.

Tivemos nevascas pesadas, inundações, incêndios nas florestas causados por raios. Eu não teria ficado surpreso se fosse um furacão chegando.

Ninguém mais pareceu notar. Algumas das garotas estavam jogando biscoitos para os pombos. Ágata tentava afanar alguma coisa da bolsa de uma senhora e, é claro, a sra. Poops não via nada.

Hanna e eu nos sentamos na beirada do chafariz, longe dos outros. Pensamos que, se fizéssemos isso, talvez ninguém descobrisse que éramos daquela escola já que ficamos sabendo que outra Academia visitava o museu naquele dia.

-- Detenção? - perguntou Hanna.

-- Não - disse eu. - Não do Hedge. Eu só gostaria que ele às vezes me desse um tempo. Quer dizer, não sou uma gênia.

Hanna não disse nada por algum tempo.

Então, quando achei que ela ia me brindar com algum comentário filosófico profundo para me fazer sentir melhor, ela disse: - Aquele é o Grover?

Eu não estava entendendo muito bem, então olhei na direção que ela olhava e vi um tumulto, uma garota ruiva que estava dentro do chafariz gritava para um garoto moreno que escutava tudo com cara de tédio.

-- O que disse ? -- perguntei confusa.

Hanna volta sua atenção para mim com os olhos arregalados e disse: --N-não é nada, pensei alto -- solta uma risada.

Observei os táxis que passavam descendo a Quinta Avenida.

O sr. Hedge parou com a sua muleta na base da rampa para deficientes ao lado de um cadeirante, que comia aipo enquanto lia um romance. Eu estava prestes a desembrulhar meu sanduíche quando Ágata apareceu diante de mim com as amigas feiosas - imagino que tivesse se cansado de roubar dos turistas - e deixou seu lanche, já comido pela metade, cair no colo de Hanna.

Os Olimpianos e o Ladrão de Raios Onde histórias criam vida. Descubra agora