Três velhas senhoras tricotam as meias da morte

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Eu estava acostumada a uma ou outra experiência esquisita, mas normalmente elas passavam depressa.

Aquela alucinação 24 horas por dia e sete dias por semana era mais do que podia encarar. Durante o resto do ano escolar o campus inteiro parecia me pregando algum tipo de peça. Os alunos agiam como se estivessem completa e totalmente convencidos de que a Amelie - uma loira alegre que eu nunca tinha visto na vida até o momento em que ela entrou no nosso ônibus no fim da excursão - era Ágata desde o Natal.

De vez em quando eu soltava uma referência à Ágata para cima de alguém, só para ver se conseguia fazê-las titubear, mas elas me olhavam como se eu fosse louca. Acabei quase acreditando nelas: Ágata nunca tinha existido.

Quase.

Mas Hanna não conseguiu me enganar. Quando eu mencionava o nome da garota ela hesitava, depois alegava que ela não existia. Mas eu sabia que ela estava mentindo. Alguma coisa estava acontecendo. Alguma coisa havia acontecido no museu.

Eu não tinha muito tempo para pensar no assunto durante o dia, mas, à noite, visões de Ágata com garras e asas de couro me faziam acordar suando frio.

O tempo maluco continuou, o que não ajudava meu humor.

Certa noite, uma tempestade de raios arrebentou a janela do meu dormitório. Alguns dias depois, o maior tornado jamais visto no vale do Tarrytown tocou o chão a apenas trinta quilômetros do Internato Hackley.

Um dos eventos correntes que aprendemos na aula de estudos sociais era o número inusitado de pequenos aviões que caíram em súbitos vendavais no Atlântico naquele ano.

Comecei a me sentir mal-humorada e irritada a maior parte do tempo.

Minhas notas caíram de A para D.

Entrei em mais atritos com algumas meninas da minha sala. Era posta para fora da sala e tinha de ficar no corredor em quase todas as aulas.

Finalmente, quando nosso professor de inglês, o sr. Nicoll, me perguntou pela milionésima vez por que eu tinha tanta preguiça de estudar para as provas de ortografia, eu explodi. Chamei-o de velho dipsomaníaco.

Não sabia direito o que aquilo queria dizer, mas soou bem.

O diretor mandou uma carta para minha "mãe" na semana seguinte, tornando oficial: eu não seria convidada a voltar para o Internato Hackley no ano seguinte.

Ótimo, disse a mim mesmo.

Simplesmente ótimo.

Eu estava com saudades de casa.

Queria ficar com meus "pais" em nossa pequena casa em Manhattan, mesmo que tivesse de frequentar uma escola pública.

No entanto... havia coisas em Hackley de que eu sentiria falta.

A vista da minha janela para os bosques, o Riverwalk a distância, o cheiro dos pinheiros. Sentiria falta de Hanna, que tinha sido uma boa amiga, mesmo com seu jeito meio estranho.

Fiquei pensando como ela iria sobreviver ao próximo ano sem mim - modéstia parte-.

Também sentiria falta da aula de educação física - os dias malucos de torneio do sr. Hedge e sua confiança em que eu poderia me sair bem.

Quando a semana de exames foi se aproximando, latim era a única prova para a qual eu estudava. Não tinha me esquecido que o sr. Hedge falara, sobre essa matéria ser questão de vida ou morte para mim. Não sabia muito bem por quê, mas acreditei nele.

Na noite anterior ao meu exame final, fiquei tão frustrada que joguei o Guia Cambridge de mitologia grega do outro lado do dormitório.

As palavras tinham começado a flutuar para fora da página, dando voltas na minha cabeça, as letras fazendo manobras radicais como se estivessem andando de skate.

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