Capítulo 20

128 24 5
                                    


Silent e eu saímos da mansão logo após o amanhecer, para grande consternação de Donna. O homem se espreguiçava enquanto eu bocejava. O céu possuia uma coloração laranja misturado com leves tons de rosa que marcavam nossa visão durante nossa caminhada em direção à vila. Corpos balançavam nas árvores e um pequeno suspiro me escapou. Silent bateu no meu braço e ergueu uma sobrancelha. Apontei para os cadáveres balançando.

- Lembra quando fomos para Rapshire Cove? Com aqueles velhos piratas que se balançavam na entrada da caverna? - Silent assentiu lentamente, com um sorriso no rosto. Ele fez uma pequena brincadeira de pirata em resposta. Ele pegou seu caderno e caneta e anotou algo antes de ser entregue a mim. Onde os pescadores afundaram seus barcos. É onde os piratas se balançam em Rapshire Cove!

- Oh! Esqueci disso! Eles cantaram isso naquele posto comercial em que paramos! - Minha risada foi alegre quando devolvi o caderno. - Você se lembra daquelas crianças perturbadas que tentaram roubar nossas armas? - Ele assentiu enquanto uma risada silenciosa sacudia seus ombros. Ele apontou para a arma no meu coldre o e tentou apanhá-la. Ri enquanto dava um tapinha em sua mão.

Chegamos a aldeia em tempo recorde. Duque acenou para nós enquanto caminhávamos para o reservatório. - Então... qual era o seu trabalho aqui? - Silent estremeceu com a lembrança enquanto anotava em seu caderno novamente. Foi ser uma babá bem mal paga que teve de anotar seus experimentos que deram errado.

Devolvi o caderno. - Como ele era como pessoa? - O caderno foi devolvido para mim. Não é melhor do que uma criança mimada que não conseguiu o que queria no Natal. Ri baixinho enquanto o devolvia. - Suas coisas estão com ele? - O homem negou com a cabeça. - Então onde estão?

O caderno foi colocado perto do meu rosto enquanto ele caminhava na minha frente. Apenas me siga. Eu não quero topar com ele.

- Isso seria bom o suficiente para mim.

O reservatório estava nas últimas. Os moinhos de vento pareciam estar desgastados pelo tempo e pelo mofo. A água era de uma cor verde azulada turva. As docas ao longe abrigavam barcos decadentes e moribundos no porto. Eram todos barcos de pesca, então pelo menos costumava ser um local útil. O lixo flutuava na água. Ao longe havia restos de criaturas mortas parecidas com lobos humanos ou com morcegos. As casas de madeira destruídas espelhavam as da aldeia. Não havia nenhum licano para nos aterrorizar, o que foi legal. O local cheirava a água parada e cadáveres. Havia também um cheiro pútrido misturado que me fez engasgar duas vezes. Silent apenas continuou em frente despreocupado. Entramos em uma casa especialmente maltratada. A madeira foi transformada devido aos danos causados pela água. Adentramos por uma enorme abertura na lateral. As tábuas do piso rangeram e dobraram sob o meu peso. Engoli em seco quando ele entrou sem problemas.

Havia uma oficina no térreo com pequenos potes de vidro. Fui até eles enquanto silent subia uma escada próxima. Meus olhos percorreram anotações rabiscadas em pedaços de papel amassados. Olhei para o pote. Uma coisa mofada com cinco olhos apareceu. Ele flutuava em águas verdes e claras. "Cadou" estava escrito em um pequeno papel colado na frente do pote. Olhei para ele com particular interesse. Meus olhos foram do recipiente para um caderno ao lado.

Experimento um: fracasso. Não se adaptou.

Experimento dois: fracasso. Transformou-se em um lobo novamente.

Experiência três: Sucesso parcial. Transformou-se em um licano.

Preciso de mais aldeões para novas experiências. Preciso pedir mais cobaias à mãe Miranda.

Minha sobrancelha se ergueu quando virei a página. Um desenho elaborado de um procedimento médico junto de notas muito mais nítidas enfeitou meus olhos. O procedimento se tratava de como implantar o cadou em órgãos específicos. Folheei as páginas com especial interesse para a cabeça. Notas foram feitas ao lado do design da cabeça.

Brincando com a Mestre das BonecasOnde histórias criam vida. Descubra agora