Capítulo 7: Éden, onde os Nephilins habitam

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Despertei com uma sensação de peso nos olhos, como se a noite tivesse sido mais longa do que realmente fora. A luz suave do amanhecer penetrava pelas frestas das cortinas, criando um ambiente sereno e levemente dourado. No entanto, o que realmente me fez acordar de vez foi a sensação de ser observada. Uma presença, firme e constante, me trouxe à plena consciência.

Virei-me na cama, ainda enrolada nos cobertores, e encontrei Azrael de pé ao lado, seus olhos fixos em mim. Ele estava imóvel, como uma estátua.

— Você está bem? — ele perguntou, sua voz sem traço de emoção.

A princípio, fiquei confusa, meu coração acelerado. — O que você está fazendo aí? É estranho! — resmunguei, tentando cobrir meu corpo com o lençol.

— Eu não durmo — ele explicou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Isso não muda o fato de que é estranho você ficar aí me olhando — retruquei, sentindo uma onda de irritação. Havia algo profundamente desconcertante em acordar sob o olhar atento de alguém que não parecia precisar de descanso.

Azrael não respondeu imediatamente, mas observei que havia uma bandeja de café da manhã ao lado da cama. Ele havia preparado para mim.

— Eu trouxe comida — disse ele, simplesmente.

Olhei para a bandeja, contendo frutas frescas, pão e uma xícara de café quente. Alguns desses alimentos eram familiares, mesmo na minha tribo isolada. O café, especialmente, era algo que havia se tornado parte da nossa vida diária, uma das poucas coisas que nos conectavam ao mundo exterior.

— Obrigada — murmurei, sentindo-me culpada pela explosão de raiva. — Desculpa por gritar.

— Não há necessidade de pedir desculpas. — e,  pelo seu olhar, era como se não se importasse mesmo.

Peguei a bandeja e comecei a comer, sentindo o gosto fresco das frutas e o aroma forte do café. O pão era macio e tinha um leve toque de manteiga, algo que eu raramente experimentava na vila. O contraste entre a simplicidade da comida e a complexidade dos meus sentimentos era desconcertante. Olhei para Azrael, que permanecia impassível, e tentei entender como era possível ser tão indiferente.

Terminando o café da manhã, levantei-me e me dirigi ao pequeno armário onde estavam minhas roupas. Escolhi uma calça jeans simples e uma camiseta branca, itens básicos que Azrael havia providenciado para mim. Vesti-me rapidamente, ajustando a calça ao redor da cintura e puxando a camiseta sobre a cabeça. As roupas eram confortáveis, mas diferentes do que eu estava acostumada a usar na vila, onde os trajes eram feitos de tecidos naturais e bordados à mão.

Penteei meu cabelo com os dedos, tentando domar os fios longos e negros que caíam em ondas suaves. Amarrando-o em um rabo de cavalo, senti-me um pouco mais preparada para enfrentar o dia. Olhei para Azrael, que continuava a me observar com seus olhos penetrantes.

— Pronta? — ele perguntou, quando finalmente estava vestida. O que me faz pensar se ele não havia entrado no quarto enquanto eu me trocava. Anjos são assustadores, muito assustadores.

Assenti, sentindo um misto de nervosismo e curiosidade. Azrael me guiou pelas ruas movimentadas da cidade, até chegarmos a uma estação de ônibus. A estação era um lugar vibrante e movimentado, cheia de pessoas apressadas indo e vindo. Havia uma grande variedade de ônibus, de diferentes tamanhos e cores, estacionados em fila. As placas digitais exibiam os destinos e horários, piscando continuamente em um ritmo organizado e eficiente. O som dos motores roncando, as vozes misturadas em conversas animadas e o cheiro de combustível criavam uma atmosfera completamente diferente de tudo que eu já havia visto até hoje.

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