Capítulo 12: As sombras que habitam em mim

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Eu estava dormindo, sem sonhos, como se minha mente estivesse fechada, um vazio completo e absoluto. Não havia imagens, sons ou sensações — apenas um escuro acolhedor que me envolvia, trazendo um descanso profundo e necessário após a tortura interminável. Era como se todo o peso, toda a dor e angústia dos últimos dias tivessem sido temporariamente apagados. Não havia mais lembranças dolorosas ou humilhações constantes. Apenas um silêncio profundo e reconfortante, um abrigo seguro onde meu corpo e minha mente podiam finalmente descansar.

No vazio, sentia-me flutuando, sem noção de tempo ou espaço. Cada segundo se dissolvia no próximo, e a escuridão se estendia infinitamente, me protegendo de qualquer pensamento ou sensação intrusiva. Era um alívio bem-vindo, um porto seguro onde eu podia me recuperar, livre da tortura e da angústia.

Acordei por um breve momento, meus olhos abrindo-se lentamente, a visão ainda turva e confusa. Não sabia se estava realmente acordada ou se minha mente, finalmente, estava começando a sonhar. Consegui distinguir uma figura familiar ao meu lado. Azrael estava ali, parado, me encarando enquanto eu dormia. Sua presença era inconfundível, imponente e ao mesmo tempo tranquilizadora.

Ele estava de pé, próximo à minha cama, sua silhueta iluminada pela suave luz das velas que dançavam nas sombras da sala. Seus olhos, sempre tão intensos e enigmáticos, estavam fixos em mim. Por um momento, pareceu que um vislumbre de preocupação passava por seu olhar, um detalhe quase imperceptível em sua expressão normalmente impassível.

Meu coração acelerou levemente ao vê-lo, mas eu estava tão sonolenta e debilitada que mal conseguia manter os olhos abertos. Havia um conforto estranho em saber que ele estava ali, uma sensação de segurança que não conseguia explicar. No entanto, a exaustão me envolveu novamente, e minhas pálpebras pesaram. Enquanto deslizava de volta para o vazio escuro e sem sonhos, a dúvida persistia: Será que ele estava realmente ali, ou minha mente estava me pregando peças? Não tive tempo de encontrar a resposta antes de ser arrastada de volta à inconsciência.

No dia seguinte, comecei a despertar lentamente. A consciência voltou aos poucos, primeiro como uma vaga percepção de estar em um lugar diferente. Senti algo frio e incômodo em meu braço. Aos poucos, percebi que era um soro intravenoso, a agulha inserida na minha veia transmitindo um leve desconforto. Meus músculos doíam de maneira profunda, como se eu tivesse sido esculpida em pedra e estivesse finalmente voltando à vida.

Minha fome era avassaladora, um vazio doloroso no estômago que parecia devorar minhas entranhas. Cada respiração era acompanhada por um gemido silencioso de necessidade, minha garganta seca implorando por água. Lentamente, a luz começou a surgir por trás das minhas pálpebras fechadas, criando uma auréola de vermelho suave que me puxava mais para a superfície da consciência.

Abri os olhos com dificuldade, a luz ofuscante me fazendo piscar várias vezes enquanto meu olhar se adaptava. O teto branco acima de mim era iluminado pela luz do sol que se filtrava através de janelas altas e estreitas. Pisquei mais algumas vezes, tentando clarear minha visão turva e desfocada.

Olhei ao redor, meus olhos ajustando-se lentamente ao ambiente. Estava deitada em uma cama de enfermagem, os lençóis brancos e macios cheirando levemente a desinfetante e ervas curativas. O cheiro era reconfortante, uma mistura de limpeza e natureza que me trazia uma sensação de segurança.

A luz do sol que entrava pelas janelas lançava um brilho suave e tranquilizador na sala. O quarto era amplo e arejado, com várias camas dispostas em fileiras. As paredes eram de um tom claro e relaxante, adornadas com tapeçarias que representavam cenas de cura e proteção. Cada detalhe do ambiente parecia projetado para promover a recuperação e a paz.

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