Capítulo 10: Celestiais, Caídos, Renegados

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— Você vem comigo. — Simples assim, sem nem mesmo um "olá, como você está, como foi sua vida nesse mundo de dor e sofrimento que te joguei."

— Bom te ver também, Azrael. Obrigada pela preocupação.

— Eu deveria me preocupar? — ele questionou, com a mesma indiferença de sempre.

Azrael virou-se, esperando que eu o seguisse, e eu não tive outra escolha senão acompanhá-lo. Caminhamos em silêncio pelos corredores da academia, o eco de nossos passos ressoando nas paredes. A tensão entre nós era palpável, mas eu me mantive firme, sem deixar que ele percebesse o turbilhão de emoções dentro de mim.

Entramos em uma sala de reunião isolada, um lugar que parecia ainda mais sombrio com a presença dele. As paredes eram de um cinza frio, sem janelas, apenas iluminadas por uma única lâmpada no teto que lançava uma luz pálida e sufocante. A sala era pequena, quase claustrofóbica, com uma mesa retangular de metal no centro e cadeiras de plástico ao redor. O ar estava pesado, carregado com o cheiro de papel velho e metal oxidado.

Azrael fechou a porta atrás de nós, o clique do tranco soando alto no silêncio opressor. Ele se postou ao lado da mesa, os braços cruzados e a expressão impenetrável. Seus olhos enigmáticos estavam fixos nos meus, e eu me senti vulnerável sob aquele olhar intenso, como se ele pudesse ver através de mim. A presença dele enchia a sala de uma maneira quase tangível, tornando o ambiente ainda mais sufocante. Meu coração batia forte no peito, e a tensão entre nós era palpável. Estar sozinha com Azrael, sem a presença reconfortante de Sofia ou Lucas, fazia com que a sala parecesse ainda menor, cada parede se fechando ao meu redor.

— O que você estava fazendo durante todo esse tempo? — perguntei, tentando manter a voz firme. A pergunta parecia ecoar na sala pequena, o som amplificado pela nossa proximidade. Cada segundo de silêncio era insuportável, um lembrete da distância entre nós.

— Cuidando de assuntos importantes. — Ele respondeu vagamente, cruzando os braços. — Você não precisa saber de tudo.

A resposta vaga de Azrael fez meu sangue ferver. Como ele podia simplesmente ignorar tudo o que eu passei? As noites sem dormir, os treinamentos exaustivos, a constante sensação de estar sendo observada e julgada. Eu merecia mais do que uma resposta evasiva.

— Eu mereço pelo menos uma explicação. — Insisti, sentindo a frustração crescer. Meu coração batia descompassado, e minhas mãos tremiam levemente. Ele me devia isso, não devia? Depois de tudo, eu tinha o direito de saber por que ele desapareceu, por que me deixou sozinha para enfrentar esse inferno.

Azrael suspirou, um som raro vindo dele, e finalmente começou a falar.

— Há uma guerra acontecendo na Terra, Anahi. Uma guerra entre anjos e demônios que já dura milênios. — Ele começou, sua voz fria e controlada. — Essa guerra não é apenas física, mas também espiritual. Os anjos lutam para proteger a humanidade, enquanto os demônios, que são anjos caídos, buscam corrompê-la.

Eu senti o peso de suas palavras se abater sobre mim. Sempre soube que o mundo era mais complicado do que parecia, mas ouvir isso de Azrael tornava tudo mais real, mais aterrorizante. Uma guerra? Por que ele nunca havia mencionado isso antes? O que mais ele estava escondendo?

— E não são apenas os demônios que enfrentamos. — Ele continuou. — Existem também os renegados, anjos que escolheram seguir seu próprio caminho e abandonar o céu.

Cada palavra dele aumentava a pressão sobre meus ombros. Eu era apenas uma nephilim, uma iniciante nesse mundo caótico. Como poderia ser capaz de lidar com tamanha responsabilidade? Meus pensamentos corriam, tentando processar tudo o que ele estava me dizendo. Renegados, anjos caídos... o que isso significava para mim? O que ele esperava que eu fizesse?

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