Capítulo 16: Vislumbres do poder celestial

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Sentada à mesa, eu comia lentamente a comida deixada por minha mãe. O sabor simples e familiar trouxe um conforto inesperado, mas minha mente estava a mil, ainda processando o sonho e as revelações de Rafael. Azrael permaneceu em silêncio, sua presença constante ao meu lado, como se soubesse que eu precisava daquele momento de calma antes da tempestade que estava por vir.

Terminei a refeição e nos preparamos para sair. Azrael pegou as coisas que havíamos reunido mais cedo e me entregou uma pequena sacola com alguns dos itens mais importantes. Ele abriu a porta, deixando entrar a luz suave da manhã, e deu um passo para fora.

Saímos da casa e começamos a caminhar em direção ao centro da vila. O ar estava fresco e limpo, carregando os cheiros familiares da floresta ao nosso redor. Azrael caminhava ao meu lado, seus passos firmes e decididos. Eu tentava me preparar mentalmente para o que estava por vir, sabendo que confrontar os anciãos e os rituais seria uma tarefa árdua.

O caminho até o centro da vila parecia mais longo do que o normal, talvez pela antecipação do que iríamos encontrar. Cada passo me aproximava do confronto inevitável, e eu sentia a tensão crescer a ponto de parecer que estava respirando-a. Que odio, eu quero ir embora daqui.

— Por aqui — ele diz, derrepente.

Azrael parecia se focar, seus passos firmes e decididos, guiando-nos por uma trilha que me levava a um lugar que eu não reconhecia de imediato.

Depois de alguns minutos, chegamos a uma construção simples, mas robusta, feita de madeira e pedra. Era um lugar que sempre foi considerado proibido para a maioria dos habitantes da vila, um tipo de arquivo antigo onde os anciãos guardavam os segredos mais valiosos e perigosos. Olhei para Azrael, mas ele não disse nada, apenas fez um gesto para que eu o seguisse.

Empurrou a porta pesada, que rangeu ao abrir, revelando uma sala escura e fria. As paredes eram revestidas de estantes que iam do chão ao teto, repletas de pergaminhos antigos e livros encadernados em couro. O cheiro de papel velho e mofo encheu o ar, e a luz que entrava pela porta formava feixes que cortavam a escuridão.

Azrael parecia saber exatamente o que estava procurando. Sem hesitar, ele caminhou até uma das estantes no fundo da sala e começou a examinar os pergaminhos. Pegou alguns com mãos seguras, verificando os símbolos gravados neles antes de guardá-los cuidadosamente em uma bolsa de couro que trazia consigo.

Observei em silêncio, fascinada e confusa ao mesmo tempo. As estantes estavam cheias de conhecimento antigo, cada pergaminho representando uma peça do passado da minha vila e, possivelmente, do mundo inteiro. Sabia que esses documentos continham informações valiosas, mas não conseguia entender por que Azrael os queria.

Finalmente, não pude mais conter minha curiosidade. — O que são esses pergaminhos? — perguntei, minha voz ecoando levemente na sala silenciosa.

Azrael virou-se para mim, seus olhos brilhando com uma intensidade que não consegui decifrar. — Conhecimento — respondeu simplesmente, como se isso explicasse tudo. — Conhecimento antigo que foi perdido para muitos, e principalmente que não deve estar em mãos erradas.

Continuei observando enquanto ele pegava mais alguns pergaminhos e os guardava na bolsa. Cada movimento era preciso e deliberado, como se ele soubesse exatamente o que precisava e onde encontrá-lo. Parecia quase um roubo, mas a seriedade e a urgência nos olhos de Azrael diziam que isso era algo muito mais importante.

— Por que isso é tão importante? — perguntei, ainda tentando entender a magnitude do que estávamos fazendo.

Azrael parou por um momento, seus olhos fixos nos meus. — Sua vila está conectada à criação de uma forma muito profunda, Anahi. Eles mantêm viva uma sabedoria antiga que é essencial para nós, seres celestiais. Esses pergaminhos contêm fórmulas, rituais e sabedorias ancestrais que foram esquecidos pela maioria dos humanos. Precisamos leva-los de volta aos céus. A terra não merece nossa sabedoria.

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