Capítulo 17: Desafio feito, desafio aceito

5 3 2
                                    

Acordei com o coração acelerado, como se um peso invisível estivesse sobre mim. Dois dias se passaram desde que chegamos a este local, mas Azrael quase não aparecia. Ele deixava comida para mim, mas parecia ocupado com algo importante, sempre com uma expressão preocupada.

Essa manhã, um pesadelo que não conseguia recordar me tirou do sono. Saí da casa e me sentei no chão, tentando afastar a sensação de desconforto. O ar fresco e a vista deslumbrante ajudavam a acalmar meus nervos. Estávamos no pico da Pedra Grande, na Serra da Cantareira, com uma vista que abrangia toda São Paulo. A cidade se estendia até onde os olhos podiam ver, uma vasta extensão de concreto e vida.E

Enquanto eu contemplava a paisagem, Azrael apareceu silenciosamente ao meu lado, trazendo o café da manhã do Starbucks. Sua presença, embora sempre imponente, parecia mais tranquila hoje. Ele me olhou com preocupação.

Estávamos relativamente perto do meu povo, mas Azrael achou melhor nos mantermos na região. Ele acreditava que os buscadores estariam procurando mais longe, em áreas mais sagradas, e até agora, realmente não havia sinais de anjos caídos na região. Ele explicou que os farejadores acreditariam que fugíamos para um local mais seguro e distante, já que podiam emitir poder ali perto. O ar era fresco e limpo, com uma brisa suave que trazia o aroma das árvores e plantas da Serra da Cantareira. Tão nostalgica, tão assustadora.

À nossa frente, a vasta extensão de São Paulo se desenrolava como um tapete de concreto e verde, uma mistura de prédios altos e áreas de mata preservada. A cidade parecia tão distante, um contraste marcante com a tranquilidade e a beleza natural do pico onde estávamos. A vista era de tirar o fôlego, com o sol da manhã iluminando os arranha-céus ao longe e criando sombras longas nas ruas abaixo. As montanhas ao redor eram cobertas por uma vegetação densa e vibrante, uma lembrança constante da força e resiliência da natureza.

— Você está bem? — perguntou Azrael, entregando-me o café finalmente. Por alguns segundos ficou me encarando como se não soubesse que eu estava ali.

— Sim, só tive um pesadelo. — respondi, tentando sorrir.

Ele assentiu com a cabeça, seus olhos refletindo uma compreensão que eu não esperava. Parecia mais... humano, como se estivesse começando a compreender os sentimentos ou, pelo menos, a respeitá-los. Havia algo diferente em sua expressão, uma suavidade que nunca tinha visto antes. O silêncio permeou entre nós.

Enquanto tomava um gole do frappuccino, percebi que este era diferente, com um sabor intenso de chocolate. Azrael havia trazido algo novo desta vez. Ele se manteve em silêncio, observando a paisagem ao nosso redor. Depois de alguns minutos, ele quebrou o silêncio.

— A mulher da loja disse que você gostaria de experimentar algo diferente — comentou, seus olhos fixos na distância. — Como você está se sentindo?

Segurei o copo frio entre as mãos, tentando encontrar as palavras certas. — É difícil — comecei, a voz baixa. — Deixar a vila naquele estado.. Abandonar minha mãe. Sei que fiquei fora por meses mas agora, foi minha escolha, sabe?

Os rostos das pessoas que deixei para trás, suas expressões de medo e desconfiança, vinham à minha mente. Sentia uma mistura de culpa e tristeza por não ter conseguido mudar mais coisas. Havia tanto que eu queria consertar, tantas injustiças que queria corrigir. Pensar que agora estava longe, impotente para ajudar, era doloroso.

— Eu me sinto culpada — confessei, olhando para o horizonte. — Não consegui fazer o suficiente. A vila está em caos, e eu simplesmente... fui embora.

O anjo de cabelos desgrenados ouviu em silêncio, sua presença oferecendo um estranho conforto. Apesar de sua natureza distante e sobrenatural, ele parecia entender. . Ele não respondeu, mas sua compreensão silenciosa foi um alívio. Segurei o copo com mais força, tentando encontrar consolo no gesto simples de tomar o café da manhã. Mesmo com todas as incertezas e a dor da partida, eu sabia que precisava seguir em frente.

MarcadaOnde histórias criam vida. Descubra agora