Capítulo 14: De volta as raízes

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O sono veio a mim como uma tempestade, me arrastando para um mundo de sombras e visões fragmentadas. Eu me via de volta à minha vila, a floresta ao redor pulsando com vida, mas havia algo diferente. As árvores pareciam sussurrar segredos antigos, e uma sensação de pressentimento enchia o ar.

Caminhando pela trilha familiar, avistei minha mãe ao longe. Ela estava de costas para mim, ocupada com suas tarefas diárias. Quis chamá-la, mas minha voz não saía. De repente, uma presença sombria emergiu das sombras. Um anjo, mas não como os que eu havia conhecido. Suas asas, embora não fossem negras, brilhavam com um brilho corrompido, um misto de luz e escuridão que me causava calafrios. Ele pairava atrás de minha mãe, sua presença sinistra contrastando com a serenidade dela.

Tentei correr, avisá-la, mas meus pés pareciam presos ao chão. Os olhos do anjo se voltaram para mim, um olhar penetrante que atravessava minha alma. A visão começou a se desvanecer, e tudo que restava era o som de um sussurro, uma palavra que não consegui compreender.

Acordei sobressaltada, o coração batendo forte no peito. O quarto estava escuro, com apenas a luz suave da manhã entrando pelas frestas da janela. Olhei ao redor e vi Azrael em pé, de costas para mim, sua figura imponente preenchendo o espaço. Seu porte era perfeito, angelical, mas sua postura rígida e a maneira como ele evitava olhar para mim me lembravam de sua natureza distante.

— Por que está de costas? — perguntei, minha voz ainda embargada pelo sono.

— Você disse que era estranho que eu a observasse dormindo — respondeu ele, sem se virar.

Eu suspirei, ainda tentando afastar as imagens do sonho. — Você não consegue entender nada de forma humana, mesmo?

Azrael permaneceu em silêncio por um momento. Era estranho como ele parecia não ter nenhuma compreensão dos sentimentos humanos, como se a empatia e a conexão emocional fossem conceitos alienígenas para ele. Ele simplesmente sumiu, desaparecendo do quarto em um piscar de olhos, deixando-me sozinha com meus pensamentos e meu coração ainda acelerado.

Enquanto eu tentava processar o sonho e a estranha mistura de emoções que sentia, Azrael reapareceu tão subitamente quanto havia partido. Ele segurava uma bandeja com um café da manhã do Starbucks, exatamente o que eu havia gostado da última vez. O contraste entre sua aparente falta de entendimento emocional e esse gesto atencioso deixava meus sentimentos e pensamentos de forma desconcertante.

Olhei para ele, surpresa e, em tom provocativo, falei: — Você trouxe isso porque eu gostei, não é?

Azrael assentiu. — Sim. Notei que isso lhe agradava.

Fiquei feliz pela atitude, sentindo um calor borbulhar no estômago, como pequenas faíscas de alegria que dançavam dentro de mim. Não esperava que ele fosse responder assim, de maneira tão direta e atenciosa. Senti meu rosto corar, o rubor subindo rapidamente pelas bochechas, e percebi Azrael inclinando a cabeça, curioso, seus olhos fixos em mim com uma expressão de leve perplexidade.

— Você está vermelha — observou Azrael, sem compreender completamente a situação.

— É o calor, Azrael — murmurei, tentando esconder minha vergonha. — Droga, anjo esquisito.

Azrael continuou me observando, seu olhar intenso, mas eu estava ocupada demais tentando esconder meu rosto corado. Enquanto começava a comer, ainda pensava no sonho. Havia algo ali, algo importante que eu precisava entender. Mas por agora, deixei que o conforto do café da manhã e a presença de Azrael me trouxessem um pouco de paz.

Finalmente, terminei de comer, apreciando cada pedacinho do café da manhã. Azrael, em um gesto silencioso, estendeu-me um conjunto de roupas indígenas. Fiquei olhando para as roupas, sentindo uma onda de nostalgia e familiaridade.

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