Capítulo 20: Uma estranha para os humanos, uma estranha para os Nephilins.

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Enquanto o ônibus seguia seu caminho, comecei a perceber a dinâmica entre os nephilins ao meu redor. Embora alguns parecessem amigáveis, a maioria deles me olhava com desconfiança ou, pior ainda, com desprezo. Eu era, sem dúvida, a mais nova ali. Eles tinham aquela postura confiante, típica de quem já enfrentou muitas batalhas, enquanto eu ainda estava tentando encontrar meu lugar nesse mundo estranho.

Dois nephilins sentados alguns bancos à frente trocavam sussurros enquanto olhavam para mim, seus olhos avaliando cada detalhe. Um deles, um homem alto e musculoso com uma cicatriz que descia pelo lado direito do rosto, deu um sorriso irônico quando percebeu que eu estava olhando de volta. Seus olhos eram de um azul penetrante, e seu cabelo curto e escuro parecia sempre estar bem arrumado. Ele trocou uma rápida olhada com sua companheira de viagem, uma mulher de cabelo castanho claro, cortado de forma assimétrica. Ela também me lançou um olhar que claramente não era amigável, como se eu fosse uma intrusa em seu território. Eles pareciam mais velhos, talvez na casa dos 30 anos, e exalavam uma aura de experiência e força que me fazia sentir ainda mais deslocada.

Lá atrás, o grupo mais barulhento não estava nem aí para o que acontecia ao redor. Eles riam e conversavam como se estivessem em uma excursão escolar, não a caminho de uma missão perigosa. Entre eles, estava a garota de cabelo raspado e tatuagens que eu havia notado antes. Ela parecia se divertir com a situação, mas até mesmo ela, que parecia a mais descontraída do grupo, me lançava olhares curiosos de vez em quando, como se tentasse entender por que uma garota tão jovem estava ali, cercada por veteranos endurecidos.

— Quantos anos você tem, afinal? — A pergunta veio de uma mulher sentada logo atrás de mim. Ela tinha um olhar intenso, com olhos verdes que pareciam ver através de qualquer fachada. Sua voz era baixa, mas carregava uma nota de desdém.

— Dezessete — respondi, tentando manter a voz firme. No entanto, havia uma tensão no ar que eu não podia ignorar — Desculpe, Dezoito. É que fiz faz pouco tempo.

A mulher soltou uma risada curta, quase sarcástica. — Não é um pouco cedo para estar envolvida nesse tipo de coisa?

Eu sabia que, para eles, eu era uma criança. Era como se a diferença de idade colocasse uma barreira entre mim e os outros, como se a minha falta de experiência me tornasse inferior. E, para ser sincera, eu não podia culpá-los completamente. Mesmo entre os nephilins, que envelheciam mais devagar, parecia haver um padrão para quando alguém deveria começar a se envolver nessas missões, e eu estava claramente abaixo da faixa etária.

Ao meu lado, o homem que havia me explicado sobre os anjos caídos lançou um olhar para a mulher e balançou a cabeça, claramente desaprovando o comentário. — Dá um tempo, Clara. Ela está aqui, não está? Isso já diz alguma coisa.

Clara apenas deu de ombros e se afastou, mas o desconforto continuou a pairar no ar. Mesmo aqueles que não me encaravam abertamente com desdém pareciam evitá-lo, como se não soubessem muito bem como lidar comigo. Havia uma sensação de que eu era uma intrusa, alguém que estava fora de lugar.

O homem ao meu lado tentou me incluir na conversa algumas vezes, falando sobre batalhas passadas e como era difícil o começo para todos. Mas, enquanto ele falava, eu percebi que estava sendo tratada com uma certa condescendência, como se ele estivesse falando com uma criança, não com alguém que já havia enfrentado seus próprios desafios.

O silêncio entre os nephilins foi quebrado por um dos homens mais velhos do grupo, que estava sentado a alguns bancos de distância, observando a conversa com uma expressão pensativa. Ele tinha o rosto marcado por cicatrizes e olhos que pareciam já ter visto mais batalhas do que eu poderia imaginar. Ele olhou diretamente para mim, o olhar fixo, como se estivesse avaliando minha alma.

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