03 | YOUR TONGUE

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Você se parece com um anjo (se parece com um anjo)
Anda como um anjo (anda como um anjo)
Fala como um anjo
Mas eu fiquei esperto
Você é o demônio disfarçado
(You’re The) Devil in Disguise – Elvis Presley, The Jordanaires

Você se parece com um anjo (se parece com um anjo)Anda como um anjo (anda como um anjo)Fala como um anjoMas eu fiquei espertoVocê é o demônio disfarçado(You’re The) Devil in Disguise – Elvis Presley, The Jordanaires

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Eu só posso estar ficando louca. É a única explicação possível.

Eu estava em frente à porta da casa dos meus pais. Usando a porcaria de um vestido roxo. Minha roupa era bastante modesta para a ocasião tão importante. Ia um pouco acima dos meus joelhos com uma pequena fenda na coxa e o decote não era nada extravagante.

Preciso de uma receita nova de comprimidos. Com certeza eu não estava consciente quando fui dirigindo até o shopping e saí de lá com um vestido na cor que o maldito Gunnar Torrance havia sugerido.

Mas de uma coisa ele tinha razão: roxo me caia muito bem e combinava com a minha paleta de cores. Meu cabelo, que ficou mais claro durante os anos, estava elegantemente preso em um choque e meu batom é um vermelho não tão vivo quanto o que eu costumo usar.

Toco a campainha, torcendo silenciosamente para que um dos funcionários apareça e diga que minha presença não é bem-vinda nesta casa e que eu poderia dar o fora.

Mas meus planos não acabam se concretizando quando meu pai abre a porta, vestido em um terno bem passado.

— Mel, minha nossa, você está linda, filha – ele me elogia. — Venha, nossos convidados já devem estar chegando.

Caminho a passos lentos pelo corredor, sendo seguida apenas pelo barulho dos meus saltos e dos sapatos do papai. Já haviam se passado alguns meses desde a última vez que eu havia estado dentro dessa casa, e era estranho lembrar que eu tinha passado dezenove anos morando aqui.

Fazem cinco anos que eu decidi me mudar para o meu apartamento e não me arrependo em nenhum momento. Gostava da minha liberdade, de ter um espaço só meu, sem ninguém no meu ouvido.

Eu passava a maior parte do tempo fora do ateliê, trabalhando no escritório improvisado que eu tinha em casa, preferia ficar criando as peças sozinha.

Comecei a trabalhar num ateliê renomado na cidade, especializado em vestidos de noiva e coleções exclusivas por temporada. Pouco tempo depois de me formar na faculdade, eles me ofereceram o cargo de diretora criativa, claro que eu aceitei. Eu tinha um histórico acadêmico impecável, todas as coleções que eu criei sempre foram muito elogiadas.

— Como está no trabalho, querida? Ainda costurando saias e vestidinhos? – papai brinca, com um sorrisinho, mas seu sorriso desaparece com a minha carranca.

KILLED NIGHT | DEVIL'S NIGHT Onde histórias criam vida. Descubra agora