go to sleep

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—Sei que ainda está muito, muito brava comigo, mas será que eu posso me deitar com você? Estou com muito frio.—Ben sussurrou no escuro, encostado na soleira da porta.

Mal deu de ombros, indicando que para ela não fazia diferença se ele se deitasse ou não - não era verdade - e então ele teve sua deixa para gentilmente caminhar até a cama e se acolher entre as cobertas felpudas.

O rei tentou se aproximar para abraçá-la como fazia todas as noites, mas ela recuou e se virou para o lado oposto, não querendo qualquer contato.

Ben tinha virado a noite no escritório. Pelo terceiro dia seguido.

Ele dormia a tarde em casa, quando ela estava acordada fazendo suas tarefas. Depois se levantava e voltava para o escritório, e quando ela ia dormir, ele não estava lá.

E sim, Mal sabia que era casada com o rei. Sabia mais do que todos o quanto ele era ocupado. Mas não podia deixar de se sentir deixada de lado, como se fosse menos importante para ele do que seu trabalho.

Era até egoísta pensar nisso.

Auradon era um reino inteiro.

Auradon tinha um bilhão de pessoas governadas por ele.

Ela era uma pessoa só.

E quando ele voltou, no quarto dia, a ter uma rotina normal com ela incluída, Mal passou a se distanciar.

Não queria atrapalhar ele e sua vida agitada. Não queria que estar com ela fosse uma obrigação, pois ele não era assim quando namoravam. Não queria o Ben rei, queria o Ben marido... Seu marido doce e carinhoso e gentil, não o Ben que nunca está lá para nada.

—Eu não queria que continuasse brava pela nossa discussão mais cedo...—Ele prosseguiu.

De costas, os olhos dela estavam cheios de lágrimas ao se lembrar da discussão.

Ben havia apenas perguntado para ela o porquê do distanciamento. Ela respondeu que ele quem começou com a distância quando deixou de almoçar e dormir com ela.

Ele disse que esteve ocupado e que não tinha a intenção de manter distância. Também disse que esperava que ela fosse entender que nem tudo podia ser sobre ela, porque ele tinha muito o que fazer.

Seu argumento, para ela, só reforçava a ideia de que, Auradon era grande demais para que ele se importasse só com ela.

Então, tudo bem. Ela tinha dito a ele. Tudo bem, faça como quiser. Quem se importa se tem alguém te esperando em casa, não é?

O menino fera gritou que ela estava sendo injusta, que ele a amava mas tinha que entender que esse amor não era o suficiente para que tivessem banhando os luxos que tinham. E ela apenas devolveu que ela não se importava com luxo nenhum, afinal, cresceu sem todos eles, e que estaria minimamente feliz se tivesse pelo menos meia hora do dia dele.

O que o fez chegar a conclusão de que ela estava infeliz, e o levou à frase idiota de "se está tão infeliz, por que não volta para a casa da sua mãe na ilha?"

Ben percebeu a falha quando os olhos dela estavam cheios de lágrimas e ela dizia que nunca poderia ter filhos com ele porque além de nunca tentarem, ela jamais conseguiria viver sozinha em um casamento.

E desde o momento, ela não quis mais contato algum.

—Sei que queria que eu ficasse mais tempo em casa...—O loiro insistiu.—Isso é o amor. Dói tanto que você sente falt-

—Benjamin, vai dormir. Não me interessa o que vai falar, eu quero descansar agora.—Sussurrou.—Estou nervosa e tomei remédio para dormir, só me deixa em paz um pouco, está bem? Eu vou ficar bem, eu sempre fico. Amanhã você vai voltar a trabalhar e fazer o que quiser mesmo, não é?

—Eu não quero que durma brigada comigo.

—Eu não quero nem olhar para a sua cara.—Bufou Mal.—Por favor.

—Mal, por favor, nem foi tudo isso!—Ben devolveu, vendo ela se virar abruptamente e se sentar, cara a cara. Os olhos cintilando com lágrimas.

—Não, não foi tudo isso. Eu só ouvi da boca do meu marido, a pessoa que eu mais amo no mundo inteiro, que se eu não me importo com luxos e quero muito um pouco de atenção, devo voltar para a casa da minha mãe agressiva em um lugar que é o maior buraco do universo.—Piscou com raiva, deixando as lágrimas caírem.—Acha que eu gostava de passar fome? Ou frio? De estar com medo sempre? De apanhar sempre? Seu idiota, eu só comentei que queria que estivesse mais próximo a mim.

—Você disse que estava sozinha em um casamento. Mesmo quando estou tentando dar meu máximo por você todos os dias!

—Você está dando seu máximo para quem? Não é para mim, certamente.

—Eu não quero discutir de novo.—Debateu Ben. Ela estava tremendo. Tremendo e chorando. E puxava o ar com muita força. Realmente, estava bem nervosa, mesmo quando para ele não parecia grande coisa.—Eu só quero que-

—Por favor, não diga que quer que eu entenda! Eu não consigo entender. Não consigo.—Agora era o seu tom que aumentava.— Tudo que eu mais desejei, Ben, é que estivesse comigo nas últimas três noites. É idiotice minha, e nem deveria ter sido nada demais. Mas na segunda eu tive um pesadelo e você não estava aqui. Terça nevou, e estava muito frio. Você não lembrou que eu não alcanço o cobertor naquela parte do guarda roupa e nem veio me abraçar. Eu usei magia para pegar e acabei exausta no dia seguinte. Você não percebeu isso na quarta feira, porque não estava aqui. Eu fui no seu escritório conversar com você, mas a vadia da sua nova secretária não me deixou entrar porque não sabia quem eu era.

Ela só queria um marido presente.

Era egoísta da parte dele ensina-la a amar.

Ama-la.

Acostuma-la com o carinho diário.

E depois larga-la para viver sozinha.

—Você está muito dependente de mim, isso não é saudável.

—Eu não dependo de você. Eu falo um monte de línguas, posso ter qualquer emprego. Eu posso passar o dia lendo. Eu posso sair por aí com meus amigos, posso passar o dia vendo televisão. Mas não é isso que eu quero.—Choramingou.—Eu amo você. Amo muito. E isso é muito, muito idiota. Por que você me ensinou esse lixo de sentimento quando você ia desprezar tudo?! Isso é cruel!

Ele sentiu os olhos arderem, querendo chorar também. Apoiou a mão no queijo dela, o erguendo, mas ela fechou os olhos para deixar as lágrimas escorrerem e não tornou a abri-los novamente.

—Oh, meu amor...—Ben limpou as lágrimas da esposa com o polegar, se aproximando para beijar sua bochecha, mas ela novamente recusou.—Eu te amo também. Eu te amo. Eu não sabia que não estar aqui te afetava tanto.

Não parecia tão brava agora. Só fazia um biquinho dramático e charmoso enquanto as lágrimas rolavam. O nariz vermelho enquanto as sardinhas de suas bochechas contrastavam com a pele branca.

—Eu só preciso dormir. Por favor. Por favor, me deixe dormir.—Ela sussurrou continuamente, se inclinando, porém ele a puxou de volta contra o próprio peito e a abraçou.

—Durma comigo. Me deixe te fazer sentir bem essa noite como não pude nos últimos dias.—Gaguejou o rapaz.—Eu te amo, dói tanto ve-la assim...

Mal negou com a cabeça, se encolhendo quando ele se movimentou bruscamente em busca da manta.

—Me deixa em p-p-paz.

—Eu vou. Vou deixar você em paz, mas aqui comigo.—Ben sorriu, deitando a esposa gentilmente sobre ele e a acolhendo, notando o efeito do remédio que ela ingeriu quase que imediatamente quando ela fechou os olhos e passou a cochilar em menos de um minuto. Estava exausta.—Eu te amo, meu amor. Amo muito. Me perdoe.









Não é o engraçadinho que eu prometi, mas ele vem aí a qualquer momento.

FLOWERS TO MAL - Malen one shotsOnde histórias criam vida. Descubra agora