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Eu nunca vou esquecer do pensamento que atravessou minha cabeça como um transatlântico da última vez que senti sua respiração morna acariciar minha face sensível na madrugada fria.

Nunca vou ouvir barulho o suficiente pra calar o silêncio que escuto desde a manhã sombria em que eu só despertei, e seu coração já não estava batendo. Eu penso nisso todos os dias.

Sinto sua falta como seu meus ossos fossem amassados por um triturador cada vez que vejo suas fotos, depois choro até inundar o mesmo travesseiro que testemunhou sua partida.

Nunca mais vou amar de novo. Não com essa inocência. Não com essa intensidade. Não como se o meu sangue fosse bombeado entre as veias pelo coração de outra pessoa.

Eu te daria o meu rim também. Te daria cada pedaço meu para manter seu corpo funcionando. Nos tornaria um só, como tinha de ser.  Como antes de as nossas almas se subdividirem num plano invisível uma infinidade atrás.

Posso ser cética, mas acredito em almas gêmeas e sempre te disse que você era o amor de todas as minhas vidas. Agora, por uns instantes antes de dormir, torço pelo fim da minha jornada, só para te encontrar num plano diferente desse.

Meus sonhos terrenos agora parecem tão pequenos. Tudo parece uma fútil e tola passagem de tempo para não enlouquecer. As pessoas acham que eu estou bem. Devo parecer bem, mas ninguém faz a menor ideia.

— eu já morri por dentro.

Natureza MortaOnde histórias criam vida. Descubra agora