Foram incontáveis noites
que eu virei em claro,
de olhos marejados,
incapaz de adormecer.Só naquela madrugada,
eu tive a certeza ingrata,
e gritei pra qualquer deus no céu me ouvir
que aquela não era sua maldita noite de partir.Eu nunca estive tão errada.
O relógio marcava zero e trinta,
quando senti seu coração bater acelerado,
olhei no fundo dos seus olhos arregalados,
e te envolvi, vivo, pela última vez em meus braços.Seu hálito morno beijou o meu rosto na escuridão,
e o que eu senti bem ali foi gratidão.Depois não ouvi mais sua respiração,
chequei a ampulheta do seu coração,
e foi a primeira vez que vi a morte
cara a cara.— isso me assombra todas as noites