Eu tive o coração dilacerado pela primeira vez em setembro de 2015. Um mês depois de completar 20 anos, eu tinha o mundo inteiro na ponta dos dedos e, então, nada. Nove setembros depois eu ainda me lembro de como as cores da primavera foram tingidas de cinza e azul naquela noite em que eu cheguei em casa e encontrei a minha mãe chorando. Eu soube no mesmo instante. Nunca mais fui a mesma depois daquele dia, e ainda assim, a maior dor que conhecia, olhando agora, parece pequena. Não anotei o exato momento em que a ferida parou de sangrar, mas de tempos em tempos deposito meu pensamento de volta em setembro. A nove deles daqui, quando eu tiver 38 e as memórias de agora estiveram borradas numa nuvem de realização e desalento, eu vou ter descoberto uma dor maior ou um amor mais intenso? É provável que essa versão de mim já não guarde a vaga memória da paz habitando o peito onde seu rosto pousava. Eu sinto pena dela. E sinto pena de mim.
— Setembro.