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Gabriel Barbosa

Ajeitei a gravata pela milésima vez, já estava nervoso com o atraso dela. Poderia ficar preocupado já que a Isabella detesta atrasos e sempre é tão pontual que chega a me incomodar, só que ao invés disso, minha paciência estava quase se esgotando.

- Boa tarde, peço que me perdoem pela demora.- ouvi a voz dela adentrar na sala e me levantei junto com o empresário que estava aqui.

- Tudo bem, posso dizer que a espera valeu a pena.- percebi ele a olhar de cima a baixo, quis quebrar a cara dele no soco, por sua sorte eu não tinha essa opção- Essa é a advogada que iria me apresentar?

- Acredito que seja eu mesma.- ela sorriu amigável, péssima hora pra mostrar os dentes- Prazer, Isabella Barbosa.

- João Adibi, o prazer é todo meu.- estendeu a mão e ela o cumprimentou- Você disse Barbosa?

- Bom, você me falou que queria alguém competente pra te ajudar nessa, logo pensei na Isabella. Não tem ninguém melhor do que minha esposa pra te ajudar nisso.- falei puxando ela pro meu lado.

- Ah, ela é sua esposa.- sorriu ainda ao olhar pra ela- Muito bem, eu confio na sua palavra e ela me parece ser competente.

- Posso te garantir que sou, dependendo do grau em que você esteja envolvido eu não vou precisar nem ao menos me dar o trabalho de mover muito o caso.- ela disse ainda simpática.

- Ótimo, quando posso passar no seu escritório pra te apresentar o caso?

- Veja com minha secretária.- estendeu o cartão para ele- Agende um horário e se possível leve os papéis que já estão em andamento, vou fazer o possível pra que você possa sair de lá com alguma resposta.

Ele sorriu de imediato pra ela, ou melhor, ele não parou de sorrir desde que a viu. Claramente era possível ver meu semblante fechado de longe, me conheço muito bem e quando se trata da Isabella qualquer olhar diferente ou muito fixo nela me dá raiva.

- Bom, ainda temos um jantar com alguns acionistas, não temos muito tempo pra perder.- segurei na cintura dela a trazendo pra mais perto de mim- Espero que dê tudo certo no caso.

- E obrigada pela confiança.- ela disse.

- Eu que tenho que agradecer.- ignorou completamente que eu estava ali e respondeu apenas a ela- Logo nos veremos.

Respirei fundo e a conduzi pra fora da sala, passamos pelo extenso corredor, chamamos o elevador, ao entrarmos e as portas fecharem, tirei minha mão imediatamente da cintura dela e a mesma se afastou de mim.

- Você é patético.- disse ríspida.

- Tem certeza que o patético sou eu?- a encarei- Aquele filho da puta faltou te engolir com os olhos e você ainda mostrou os dentes pra ele.

- Isso se chama profissionalismo, Gabriel!- ajeitou o blazer e em seguida cruzou os braços também me encarando.

- Independente de ser profissional ou não você é a minha esposa, deveria ao menos se dar o trabalho de cortar esse idiota.

- E desde quando você se importa com o nosso casamento?- descruzou os braços mas o olhar dela ainda estava sobre mim.

As portas do elevador se abriram, ela forçou um sorriso e saiu na frente cumprimentando quem estava na espera. De certa forma, eu agradeci aos céus por ela sair, não saberia como a responder ou se ao menos teria respostas pra ela.

Somos casados a cinco anos, nos conhecemos quando comecei a jogar futebol ainda fora do país. Sempre que eu vinha pro Brasil e ela estava por aqui, dávamos um jeito de nos vermos, até que eu prometi que se ela esperasse até o meu contrato acabar, eu a pediria em namoro. 

E ela me esperou, se fosse qualquer outra eu duvidaria e acharia que a espera seria apenas pelo interesse, mas na época eu não tinha nada que tenho hoje e ela me provou milhares de vezes o amor que tinha por mim. Nos casamos depois de dois anos namorando e hoje estamos aqui, nada igual ao que um dia nós fomos.

Consegui alcançar ela indo em direção ao estacionamento da empresa, percebi ela ir pro meu carro então antes a cortei.

- Vai no seu carro e eu vou no meu, se perguntarem diga que eu tive que passar em outro lugar antes.- ela parou de andar e se virou pra mim.

- Meu carro tá na oficina.- disse ainda ríspida.

- Cadê o outro?- a questionei.

- Em casa, como vou dirigir dois carros?- se tem uma coisa que eu odeio nela é esse jeito de ironizar tudo igual a mim.

- Toma, vai nesse.- estendi a chave a entregando- Vou com o outro. Me espera no estacionamento pra chegarmos juntos.

- Se você quisesse mesmo chegar junto comigo, iria no mesmo carro que eu.- tornou a dar os ombros pra mim, indo em direção ao carro.

- Que bom que está óbvio que não quero ficar com você.- fiz o mesmo indo na direção oposta pra pegar o meu outro carro.

E desde então convivemos assim, cada um em seu lado e de preferência tendo apenas que conviver e se suportar. Eu ainda me pergunto o que faço com ela, porque ainda não terminei ou não dei um ponto final nisso tudo. Porém lembro que isso afetaria muito além de nós dois, temos uma empresa que estamos lutando pra fazer crescer, querendo ou não precisamos um do outro, começamos isso juntos. Tem minha família que ama ela e a família dela que faz tanta questão de me ter por perto.

Só vivo almejando e desejando que ou tudo acabe de vez ou um milagre aconteça e a gente volte a dar certo como antes.

Estacionei o carro ao lado do que ela tinha vindo e a observei conversar com um homem já na porta do restaurante, tirei a gravata jogando na parte de trás do carro e saí de imediato indo até eles.

- Meu amor, chegou mais rápido do que eu imaginava.- ela falou vindo pro meu lado- Lucas, esse é meu esposo, de quem eu tinha te falado.

- É um prazer te conhecer, a Isabella falou muito bem de você.- estendeu a mão e eu a apertei- Bom, tenho que ir, meu irmão está me esperando.

- Foi muito bom te ver, apareça mais vezes!- ela sorriu e foi abraçar ele que retribuiu e logo foi embora.

- Decidiu que iria conhecer o mundo todo hoje?- a questionei vendo ele se afastando do meu campo de visão.

- Pelo amor de Deus, eu estudei com ele na faculdade.- revirou os olhos- Nem sei porque estou te dando satisfação. Vamos logo acabar com isso, quero ir pra casa.

Novamente ela iria passar e ir na minha frente, mas agarrei sua mão a forçando a entrelaçar os dedos nos meus. Percebi o olhar dela ir pras nossas mãos, deve ter sido estranho já que normalmente eu só pego na cintura dela e nada mais.

- Conta trinta minutos e finge que não está se sentindo bem.- falei enquanto ela ainda olhava nossas mãos.

- O que?- levantou o olhar pra mim.

- Você disse que quer ir embora logo.- a olhei também- Então faça o que eu pedi.

Pela primeira vez ela não resmungou ou tentou me contradizer, pelo contrário. Ela assentiu, ajeitou as mãos nas minhas, forçou um sorriso e me puxou pra entrarmos no restaurante.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora