13°🦋

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Gabriel Barbosa

Virei na cama pela milésima vez mas ainda estava sem sono, minha cabeça parecia que ia explodir. Me levantei, vesti um moletom já que estava um pouco frio fora do quarto e saí. Dei alguns passos pra frente e tomei coragem pra bater na porta da Isabella.

Bati não só uma mas quatro vezes e ela não abriu, achei estranho já que eu tenho quase certeza de que ela não conseguiu dormir. A conheço bem pra saber que não dorme com a cabeça cheia.

Bruno está certo, somos dois impulsivos que de tanto tentar se proteger, só sabem se machucar. Meu coração ferve só de imaginar como seria o mundo sem ela. Não teria nem ao menos a chance de tentar ir atrás ou a procurar, ela não estaria em canto algum, como um fantasma.

Respirei fundo e me virei, encarei o corredor escuro que tinha logo na frente do nosso e caminhei passo por passo e sem pressa alguma até chegar no quartinho com uma borboleta pendurada na porta. Peguei na maçaneta e hesitei antes de abrir, faz muito tempo que não entro, mal sei como estão as coisas aqui. 

Percebi uma frecha de luz bem fraca, assim tive a certeza de que ela estava aqui. 

Abri a porta com cuidado e entrei, de primeira achei que estava enganado e que só tinham esquecido a luz ligada. Mas ouvi um barulho vindo da ponta do quarto, forcei um pouco as vistas e a vi. Ela está sentada no chão, abraçada em seus joelhos como uma criança com medo.

Já falei outras vezes, mas ver a Isabella tão vulnerável ainda consegue ser algo novo pra mim. Isso é estranho, né? Ser casado com alguém por tantos anos e ainda conseguir estranhar um traço humano tão comum.

Fui até ela, dando passos firmes e lentos. Me agachei na sua frente e me ajoelhei pra ficar na altura dela. Segurei sua cabeça a levantando pra mim, mas ela se negava a me olhar, como se estivesse com vergonha.

- É injusto você ter me visto daquele jeito e eu não poder te ver agora.- coloquei minhas mão sobre seu rosto.

- Saia, deixa eu me recuperar que nós conversamos.- disse ainda com a voz falha e trêmula, ela passou a mão pelo rosto enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

- Não quero conversar.- ela levantou o olhar pra mim - Quero ficar com você.

- Não precisa se forçar a isso só por conta dessa notícia tosca.- ajeitou o cabelo pra me olhar melhor.

- Sua vida corre risco, Isabella. Não é nada tosco, eu devo ficar com você.

- Não, não deve!- mordeu o lábio inferior tentando não chorar - Já resolvemos o que vamos fazer.

- Porra Isabella, esquece esse maldito divórcio!- me exaltei - Estou aqui na sua frente, morrendo de medo do futuro, apavorado sem saber o que fazer ou como te ajudar.

- Vá embora, não precisa me ajudar.

- Deixa de ser orgulhosa, sou seu marido, se casou comigo e eu prometi cuidar de você na saúde e na doença. Que se dane como estamos, eu quero ficar com você.- passei minha mão pelos cabelos dela - Me deixa ficar, por favor.

Ela não falou nada mas me agarrou em um abraço como se fosse a única coisa que necessitasse. A abracei tão forte para que ao menos nisso, possa parecer que estou confiante. O corpo dela tremia sob o meu, ela segurava meu moletom com tanta força que tenho certeza que seus dedos ficaram marcados nele. 

Senti o cheiro do cabelo dela rente ao meu peito e me senti útil, estou a protegendo e deixando com que ela se torne fraca e vulnerável comigo. Ela está chorando por medo, não sei do que exatamente, a Isabella é corajosa o suficiente pra saber que vai conseguir sair dessa, só não sei se ela está se lembrando disso agora.

- Eu tô com medo, Gabriel.- disse em meio as lágrimas - Não vai embora, não quero que vá. Por favor!

Ela estava em pânico...mais uma crise.

- Não vou, Bella.- a abracei mais forte, se isso ainda era possível- Já perdi nossa filha, não posso perder você.

Nessa noite, ela chorou e demonstrou suas fraquezas pra mim como antes. Ela se permitiu ser minha, nem que fosse somente por uma noite, mas ela foi minha e eu dela.

Depois de longas horas, ela já estava exausta e cansada. A peguei no colo e subimos pros quartos, abri a porta do quarto dela e agradeci aos céus pela cama estar arrumada, ou melhor, óbvio que estaria arrumada, a Isabella detesta bagunça.

Deitei ela, puxei o edredom a cobrindo e liguei o ar deixando em uma temperatura boa. Tirei o cabelo que estava no rosto dela e sorri ao ver o rosto dela sereno e tranquilo. Quando estava prestes a ir, senti a mão dela me puxando.

- Não vai.- sussurrou baixinho.

- Você ainda está desnorteada, acho melhor descansar.- me agachei novamente ficando da altura dela - Amanhã eu volto pra ver se você está melhor.

Ela sorriu ainda cansada e fechou os olhos devagar enquanto se entregava pro sono.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora