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Gabriel Barbosa

- Meu Deus isso daqui está delicioso!- minha irmã falou ao experimentar o frango.

- Eu quero titia.- Aninha pediu do outro lado da mesa, sentada na cadeirinha dela.

- Ah não, esse daqui é o meu.- Dhiovanna puxou o prato pra si - Você já comeu Ana!

- Mas eu quero mais.- disse emburrada - Dindo, manda ela me dar!- cruzou os braços.

- Não pode ser assim Aninha, você já comeu e ela ainda não.- tentei explicar mesmo sabendo que ela não iria entender. 

- Eu acho que a Isa deixou alguns pedaços ainda no forno.- minha mãe falou na tentativa de achar uma solução.

Assenti e expliquei que iria tentar achar mais pra ela, me levantei e fui até sua cadeira, peguei o prato e me dirigir pra dentro da cozinha. Assim que entrei me deparei com a Bella sentada na cadeira do balcão e com a cabeça baixa, larguei o prato em qualquer canto e fui até ela. 

- Amor, você tá bem?- perguntei ao me aproximar dela. 

Ela levantou a cabeça e negou, percebi que os olhos dela estavam avermelhados e ao tocar na sua testa vi que também estava quente.

- Caramba vida, você tá muito quente.- fui até a bancada, abri a primeira gaveta e tirei um pano dela, molhei com a água gelada da pia e voltei colocando o pano na testa dela - Tá sentindo o que? 

- Tô sentindo meu corpo pesar e muit...muito enjoo.- disse com dificuldade. As palavras não saiam da maneira certa e sim emboladas, como se ela forçasse juntar as mesmas.

- Você tomou os remédios hoje?- perguntei e ela não respondeu, apenas tornou a abaixar a cabeça a deitando no balcão - Amor, você precisa me responder para que eu saiba o que está acontecendo. 

- Irmão, por que está demorando?- ouvi a voz da Dhio na porta da cozinha e assim que ela adentrou e nos viu, acelerou os passos até chegar em nós dois - O que ela tem?

- Também não sei, quando eu cheguei aqui estava assim.- tornei a levantar a cabeça dela mas dessas vez, me posicionei atrás para segura-la - Você sabe se ela tomou os remédios hoje? 

- Eu vi aquela mulher indo levar pra ela mas...- parou a fala como se tivesse acabado de lembrar de algo - Ela esqueceu de tomar.

- Porra!- peguei ela no colo e pelos fundos, fui até nosso quarto. Minha irmã veio logo atrás com um copo de água na mão e a caixinha de remédios dela que ficava na parte de baixo da casa. 

Preciso agir rápido. Foi a única coisa que eu pensei. Febre, olhos avermelhados e distorção na fala são indícios de início de uma crise convulsiva.

Quando fiquei fora eu expliquei basicamente o que elas deveriam fazer caso algo parecido com isso acontecesse, então posso dizer que minha irmã já está "preparada" para essa situação. Ao chegar no quarto deitei ela na cama, desliguei quase todas as luzes e deixei apenas uma bem fraca e distante da onde estávamos. Luzes muito fortes e ainda mais próximo do rosto dela pode deixar ela com visão dupla ou turva. 

Sentei na cama, fui tirando todos os lençóis e travesseiros próximos e apoiei a cabeça dela em cima da minha coxa enquanto a minha irmã a ajudava a tomar os remédios, de um em um ela foi tomando e eu fui torcendo para que ela não tivesse nenhuma crise.

- Consegue abrir o olho?- perguntei e ela assentiu fazendo o que eu pedi, percebi ela tentar falar mas nada saia - Fica tranquila e não força a fala pra não piorar.- ela assentiu novamente - Tá sentindo alguma coisa além de dor?- ela negou e eu suspirei pesado em alivio. 

Passou-se um tempo, os olhos dela se fecharam mas como um "retorno" de que estava bem, ela acariciava a minha mão. Levantei minha cabeça e vi minha irmã na ponta da cama olhando pra nós dois, eu não faço ideia do que ela estava pensando mas o olhar dela brilhava e estavam cheios de lágrima. Não sei o que está acontecendo e o motivo dela sempre estar emotiva, mas sei bem que ela precisaria de mim.

- O que foi?- perguntei e ela balançou a cabeça enxugando o rosto.

- Não foi nada.- respirou fundo - Vou lá em baixo explicar pro pessoal, eles devem estar preocupados pelo nosso sumiço. 

- Tem certeza que não é nada?- insisti e ela assentiu - Caso ela melhore nós descemos.- disse e ela concordou saindo do quarto.

Quando tornei a prestar atenção na Isabella ela estava agarrada no meu braço dormindo, peguei meu celular no bolso com a mão livre e anotei tudo que aconteceu como o médico havia pedido. Por mais aflito que eu ainda esteja, fiquei menos preocupado só por ela não ter tido nenhuma crise mais forte que essa.

Provavelmente por conta do desgaste físico ela tenha dormido sem com que ao menos percebesse. Com cuidado fui aferir a temperatura dela que ficou instável, bem melhor do que antes o que me trouxe mais tranquilidade. Segundo o médico a febre é mais questão emocional, então de certa forma eu não deveria me "preocupar", porém tudo nessa situação acaba sendo uma preocupação.

- Que medo de te perder.- falei de forma involuntária, sem com que ao menos me desse conta do que eu tinha acabado de falar - Para com isso, Gabriel!- chacoalhei a cabeça de um lado pro outro me repreendendo, mas quando tornei a olha-la, o medo me consumiu de vez.

A verdade é que eu só consigo ser forte com ela, aqui só temos um ao outro, um dia minha mãe e minha irmã vão voltar pra Santos, minha outra irmã e minha sobrinha vão voltar para suas vidas e vamos todos ficar longes novamente e mais uma vez só vai restar eu e ela...só temos um ao outro nessa vida. 

Mesmo assim não consigo reclamar, prefiro ter somente ela do que ter o mundo sem ela.

Respirei fundo e passei meus dedos delicadamente pelo seu rosto, incrível como ela consegue ser apenas um serzinho indefeso perto de mim.

- Não me deixa só, tá bom?- falei novamente mas dessa vez, não foi de forma involuntária e sim do jeito mais sincero que pude dizer.

- Tá bom.- ela respondeu me surpreendendo, ainda sonolenta agarrou minha mão, deu um beijo nela e a colocou debaixo da sua cabeça.

Bella 🦋• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora